A música sempre será uma forma de celebrar a vida. E o que seria da vida sem diversidade, sem respeito, sem liberdade? Uma vez, ao ser questionada sobre o que seria liberdade, Nina Simone respondeu: “Liberdade é não ter medo.“
Estive presente no Oxigênio Festival, e posso reafirmar, música é sobre celebrar a vida!
Cerca de 40 bandas tocaram durante os 3 dias do fest, que aconteceu na Via Matarazzo (local escolhido para receber o evento).
Bandas nacionais como CPM 22, O Inimigo e o Dead Fish marcaram presença por lá. Inclusive, tive a oportunidade de bater um papo super sincero e necessário com o Rodrigo Lima, vocalista da banda de hardcore melódico do Espírito Santo. O último álbum, intitulado Ponto Cego, é uma verdadeira obra sobre o Brasil atual.
No sábado, durante o show do Pense, banda muito bem recebida pelo público, tivemos um momento de demonstração de amor protagonizado por um casal gay: um beijo apaixonado que foi não apenas visto por todos que estavam no recinto, como também fotografado por inúmeras lentes! Não há mais espaço para intolerância!
Indo por esta ótica, posso dizer: o verdadeiro headline do festival foi a pluraridade e a valorização da música nacional.
Três dias de evento do emo ao punk, com homens e mulheres subindo ao palco e uma ‘banda karaokê’ (formada por músicos conhecidos que recebiam pessoas comuns ao microfone), é de uma importância sem igual! Isso vai muito além de tudo que tem sido feito nesse sentido ao longo dos últimos anos.
Podemos, então, agradecer a rebeldia punk, que nos contamina de forma positiva e faz com que a gente sinta de novo a garra de lutar por tempos melhores!
Houve muitos momentos marcantes durante a apresentação do Ratos de Porão, mesmo sem João Gordo, figura que foi mencionada com carinho pelo Jão, “o Gordão não tá aqui com a gente porque tá se recuperando”, ele fez questão de frizar: “Enquanto vocês estão aqui, estão acabando com a Amazônia”, também se manifestou inflamando o público a um coro: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*!”. E também deu uma leve bronca; comentando que já viu igrejas mais animadas do que o público presente.
Ainda era sábado no ‘comecinho’ da tarde, é compreensível…
Eles exibiam também uma bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e Juninho vestia a camiseta. Em dado momento do show, ele pediu para que o público realizasse doações para as pessoas da Ocupação Alcântara Machado que foi incendiada no dia 12/09, um dia antes do início do festival. O mesmo pedido foi feito por outras bandas.
O punk dá voz ao marginalizado. É a rebeldia que enfrenta o sistema cara a cara!
Esse show do Ratos de Porão foi, sem dúvidas, uma aula que todos deveriam ter… Ao menos uma vez na vida!
Ainda sobre sábado, destaco a apresentação da banda The Monic, formada por Dani Buarque, Ale Labelle, Joana Bedin e Dani Simões, que tocam um garage rock cheio de atitude. Na bateria era ostentada uma T-shirt onde se lia: MARIELLE PRESENTE, o que fez jus a mensagem que elas levaram durante todo o show: um pedido de justiça, respeito e igualdade.
No sábado, 14/09, somaram-se 549 dias sem justiça para Marielle.
No mesmo dia, a banda de thrash metal, Nervosa, se apresentou, lotando o espaço.
Era uma apresentação esperada e que foi muito bem recebida. Formada por Fernanda Lira (baixo e vocal), Prika Amaral (guitarra e backing vocals) e Luana Dametto (bateria), ficou impossível de se negar o poder das mulheres.
Há espaço, sim, para mulheres na música… E, se não concederem o espaço, podemos chegar como a Nervosa chegou, metendo a cara, com atitude, coragem e botando no chinelo qualquer um que ouse dizer que mulher não pode isso ou aquilo. Mulher pode, sim! E essa banda é um exemplo a seguir.
No domingo, Cólera e Darvim se apresentaram e foram grandes destaques. Só que preciso aqui salientar uma das bandas: Charlotte Matou Um Cara. Que orgulho presenciar mulheres cheias de atitude, cantando em português e batendo brutalmente de frente com o patriarcado!
Que alegria quando Dea abriu espaço no palco para que parte do público pudesse subir e cantar junto com todas elas.
A banda (formada por Andrea nos gritos, Dori na bateria, Camila no baixo e Nina na guitarra) é cheia de poder e segurança. Como elas mesmas cantaram: “o punk não é só pro seu namorado!” O punk é pra todo mundo!
A bandeira LGBTQ+ também esteve presente em diversas apresentações.
E não foi diferente durante o show da Charlotte. Muitas meninas dançaram, fizeram roda, pularam e cantaram. É esse o tipo de representatividade que precisamos e que nos faz acreditar em um mundo mais inclusivo e diverso.
A mensagem deixada foi simples e direta: apoiem as mulheres. Quando você apoia uma mulher, nenhum homem retrocede!
O Oxigênio Festival 2019 acabou no domingo, com alguns contratempos, é verdade. Porém, contratempos esses que não podem servir como demérito algum à organização do evento que, na minha opinião, foi impecável!
Faltou energia… E talvez Jão estivesse certo naquele momento. No entanto, estamos falando de energia elétrica, que fez com que o show do Strike acabasse 10 minutos antes e que Francisco El Hombre fizesse um acústico bem intimista, bem ali, no meio do público… Mostrando que atitude e perseverança superam quaisquer adversidades!
Isso é o undergroud, meu caros!
Vida longa e próspera ao punk nacional!
Que vindouras edições sejam tão intensas e inspiradoras como esta!
Fotos por Dani Moreira, Carlos Pupo e Jessica Mar
Foto em destaque por Jessica Mar