Ela era uma rosa onde tantos eram manjericão. Como disse Tom Zé, sua música nos “trata com choques elétricos”. Ela é Gal Costa e sempre será.
Quando cantarolo ‘Baby’, é a voz de Gal que canta comigo.
Gal Maria da Graça Penna Burgos Costa nasceu em 26 de setembro de 1945, em Salvador, na Bahia. Ela viu o mundo se transformar e transformou o mundo com a sua presença. A MPB leva a sua assinatura.
Um Brasil feito por Marias, uma delas é Maria da Graça, chamada carinhosamente como Gracinha por amigos e grandes companheiros de vida e de música, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Gal Costa abriu caminhos com um sorriso largo e com uma coragem visível.
As mulheres brasileiras ganharam o direito ao voto em 1932, mas, apenas 36 anos depois, no período de ‘chumbo’, Gal Costa, a uma mulher sagrada, pôde cantar em um Festival da Canção, sob vaias e aplausos, a música ‘Divino Maravilhoso‘, que diz:
“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.
Durante a pandemia do coronavírus, o consumo de música através das plataformas digitais aumentou muito, e pessoas jovens voltaram a ouvir grandes clássicos que contemplam a música brasileira. Gal está na lista. Observando esses dados, ela teve a ideia de fazer um álbum para comemorar os seus 75 anos de vida em parceria com artistas, como Criolo, Rubel e Seu Jorge. O último disco, que contempla os 10 singles, se chama Nenhuma Dor.
Gal Costa sempre soube defender sua vida pessoal, deixando bem claro que não devia satisfações a ninguém. Em certa ocasião, uma repórter perguntou à Gal a respeito de sua postura reservada quando o assunto era sobre sexualidade e vida afetiva. Gal respondeu: “Sou. Ponto final”.
Uma voz tão suave, doce e vibrante, atravessou décadas, venceu a ditadura, ganhou espaço em um ambiente dominado por homens, fez seu nome. Gal riu na cara dos caretas, não teve medo de viver a sensualidade, a sensibilidade. Pisou no palco como dona dele.
Gal Costa completou mais de 55 anos de carreira, deixando um legado histórico com mais de 40 álbuns de estúdio e ao vivo. Hoje, nos despedimos dela, aos 77 anos. Agora, fica a saudade no peito de quem viu o quanto é bonito uma mulher vivendo sem medo.
Seu nome é Gal.
Texto por Dani Melo
Edição por Stefani Costa
Foto em destaque: Arquivo/Estadão/AE