Em 2022, para a realização de seu primeiro DVD ao vivo, Edu Falaschi trouxe uma produção majestosa ao palco do Tokio Marine Hall. Com aspectos teatrais, efeitos pirotécnicos e decoração temática, o músico protagonizou um dos eventos mais “hypados” do ano passado, deixando dezenas de apresentações internacionais “no chinelo”.
Acha tudo isso um exagero? Pergunte a qualquer profissional que esteve na cobertura do evento, e ele provavelmente dirá: “foi um dos shows mais bonitos que já assisti”.
Menos de seis meses após a cerimônia monumental, no último sábado (21), o virtuoso musicista retornou ao clube para apresentar um set especial em conjunto com a Orquestra Sinfônica Jovem da cidade de Artur Nogueira (seleção musical composta por alunos do Projeto Retratar).
Projeto Retratar
Idealizado pelo Maestro Ricardo Michelino, o Projeto Retratar é uma ação social beneficente e sem fins lucrativos, que começou em 2010 pela Corporação Musical 24 de Junho. Atualmente, a instituição oferece aulas gratuitas de música, instrumentos, canto e coral, e também atende 11 escolas da Rede Municipal de ensino de Artur Nogueira.
Em entrevista ao jornal “O Nogueirense“, Edu Falaschi afirmou: “Com grande alegria estou tendo a nobre oportunidade de poder participar desse lindo projeto que incentiva crianças, pessoas carentes e toda a sociedade de Artur Nogueira a se envolver com a arte e a música de verdade. Esse projeto social, beneficente e sem fins lucrativos é um grande exemplo de que sempre podemos fazer nossa parte e contribuir positivamente com nosso país”.
O grande espetáculo
Após uma chuva pesada, que simplesmente varreu a cidade de São Paulo na sexta-feira (20), o clima deu uma trégua no sábado (21). Assim sendo, os fãs compareceram em peso e tomaram os bares locais.
Geralmente, a organização da Tokio Marine convida bandas covers para apresentarem pocket-shows no hall de entrada do clube, assim animando a galera enquanto aguarda as atrações no palco principal. Porém, assim como aconteceu no show do músico Geoff Tate, que havia se apresentado no local na noite anterior, nenhum concerto secundário foi arranjado. Dessa forma, os presentes acabaram “matando o tédio” curtindo a discotecagem interna ou conferindo barracas com produtos exclusivos do baterista Aquiles Priester.
Com 15 minutos de antecedência em relação ao horário oficial, os integrantes da orquestra sinfônica jovem de Artur Nogueira assumiram seus respectivos postos no cenário, que simulava uma caravela protegida por dois cavaleiros medievais.
Pontualmente, às 22h, efeitos luminosos sob a suntuosa bateria de Aquiles em conjunto com uma trilha sonora de violinos anunciaram o início da apresentação. Em seguida, Edu Falaschi, Roberto Barros (guitarra), Diogo Mafra (guitarra), Fábio Laguna (teclados), Raphael Dafras (baixo) e Aquiles Priester (bateria) entraram no palco sob o pano de fundo do álbum Rebirth e mandaram ‘Nova Era’ – uma das principais obras de Edu durante sua passagem pelo Angra.
Logo de cara, fogos de artifício foram lançados. Igualmente, o público conseguiu observar as passagens de música clássica, já que o solo principal foi enfeitado por violinos, e trompetes acompanharam os riffs finais da faixa.
Em ‘Fire with Fire’, segunda música do set, luzes avermelhadas enfeitaram o cenário, e a equipe de sopro (flautistas e trompetistas) acompanhou, de forma sincronizada, os riffs de Roberto e Diogo. Já em ‘Acid Rain’, uma belíssima introdução com violinos cativou a plateia. Nesta ocasião, Edu também aproveitou para ir à beira do palco para motivar ainda mais o público.
Ao término do primeiro bloco, a capa de Rebirth, que até então estava decorando o palco, foi substituída por um pano com uma arte de um navio em alto mar. Na sequência, veio ‘Sea of Uncertainty’, que contou com uma máquina de fumaça lançando pequenas “explosões de vapor ” acompanhando os blast beats de Aquiles.
Após o encerramento da faixa, Edu cedeu espaço ao maestro Ricardo Michelino, que aproveitou a oportunidade para comentar um pouco sobre o Projeto Retratar. O músico afirmou que, em pouco mais de uma década, a iniciativa atendeu mais de 3000 crianças, e muitos dos alunos que participaram do projeto agora possuem carreiras renomadas no setor cultural.
Nessa ocasião, Falaschi também brincou: “O Ricardo é sensacional, pois conseguiu tirar centenas de jovens do sertanejo”.
Depois do breve diálogo, os flautistas voltaram a dominar a cena em ‘Caça e caçador’, preenchendo os riffs com passagens que remetiam à música raiz nordestina. Já em ‘Temple Of Hate’, infelizmente, o som da orquestra acabou sendo abafado pelas batidas de Aquiles, expondo que, apesar de funcionar muito bem ao vivo, a combinação entre música clássica e heavy metal também possui certas limitações.
Com o encerramento da dobradinha, veio a primeira grande surpresa da noite: Tito Falaschi e Rodrigo Arjonas surgiram no palco para participar em ‘What Can I do?’ e ‘Hard Feelings‘, duas faixas do Symbols, uma das primeiras bandas de Falaschi.
Após se despedir dos amigos, o frontman comentou que Christian Passos também iria participar no show. No entanto, o feat com o integrante do Wizards precisou ser cancelado após a noticia do falecimento de seu pai. Dessa forma, ‘Heroes of Sand’ acabou sendo dedicada a família do músico.
Em ‘Ego Painted Grey’, a produção visual do show alcançou seu ápice. Antes da banda reproduzir a faixa, o pano de fundo foi trocado por um retrato de um embarcação chegando à costa brasileira, enquanto luzes enveredadas banhavam o palco, assim simulando o primeiro contato dos portugueses com a mata atlântica. Depois, mais uma participação, desta vez com Andria Busic (Dr Sin) mandando uma versão acústica de ‘Bleeding Heart‘.
Na sequência, ‘Arising Thunder’ e ‘Angels and Demons’ complementaram o set. Já o momento de catarse coletiva veio com a execução completa de ‘Pegasus Fantasy’, canção de abertura do anime Os Cavaleiros do Zodíaco.
Após o momento de euforia generalizada, Tito retornou ao palco para participar em cover de ‘The Wicker Man’, da banda britânica Iron Maiden. Logo em seguida, o público reuniu as últimas forças para cantar dois dos principais clássicos do Angra: ‘Rebirth’ e ‘Spread Your Fire’. Salvo pouquíssimas interferências, a fusão “show de heavy metal com música clássica” combinou muito bem.
Edu Falaschi e a orquestra sinfônica jovem de Artur Nogueira conseguiram superar limitações da música. Já a produção exibida na Tokio Marine foi simplesmente impecável, confirmando todo o hype em torno da turnê Vera Cruz. O espetáculo comandado pela icônica banda de metal nacional é uma experiência singular.
Setlist
Nova Era
Fire with Fire
Acid Rain
Sea of Uncertainties
Caça e Caçador
Crosses
Temple of Hate
What Can I Do ( com Tito Falaschi e Rodrigo Arjonas)
Hard Feelings (com Tito Falaschi e Rodrigo Arjonas)
Mirror of Delusion
Ego Painted Grey
Bleeding Heart (com Andria Busic)
Arising Thunder
Angels and Demons
Pegasus Fantasy
The Wicker Man (Cover Iron Maiden)
Rebirth
Spread Your Fire.
Texto por Guilherme Góes (repórter credenciado pelo site Metal no Papel)
Fotos por Jefferson Marques
Edição por Stefani Costa