Há pouco tempo tive uma conversa sobre a multiplicidade de papéis que podemos desempenhar na vida. Não precisamos nos limitar. É importante experimentar, arriscar, ser excelente e até falhar, pois a vida é uma tela em branco onde podemos usar as cores que mais gostamos.
Quando pesquisamos sobre Tó Brandileone, descobrimos que ele é paulistano nascido em 1986, com um talento incrível para música, tendo uma carreira diversificada. Desde 2007, além de compor suas próprias músicas, ele desenvolveu trabalhos paralelos como a criação de trilhas sonoras originais para filmes e peças teatrais. Além disso, ele atua como instrumentista e produtor musical para novos artistas brasileiros.
Em 2011, como integrante do grupo 5 A Seco, Tó gravou o primeiro CD/DVD Ao Vivo no Auditório Ibirapuera. O grupo lançou quatro álbuns, incluido Policromo (2014), Síntese (2018), Pausa (2019). Em abril de 2019 a banda anunciou que faria uma pausa carreira por tempo indeterminado. Desde então, os integrantes do 5 A Seco seguiram carreira solo, ou fazendo projetos fora da música, mas a parceria entre eles continua, não só na amizade, mas também na vida profissional.
Depois de um tempo afastado dos palcos, atuando principalmente como produtor musical, Tó voltou a se apresentar, dessa vez os shows estão acontecendo no Bona, uma charmosa casa de música em São Paulo. As performances do músico estão acontecendo nas últimas quintas-feiras do mês. Tó deve ficar em temporada na casa até outubro.
Estive no show do dia 27 de julho, na segunda sessão da noite, e pude observar que o público que estava ali era variado. Quem ouve Tó? Pessoas de todas as idades, casais, gente que foi pra assistir o concerto sozinho e pessoas de diversos estilos (o que eu acho maravilhoso).
Tó, apenas com uma cadeira e dois violões bonitos, deu início ao show lendo um texto poético sobre a relação entre o músico e a música. O outro argumento lido na metade da apresentação falava sobre a fusão entre a canção é o músico, e como a música se torna um presente para o público. A escolha de apresentar suas canções dessa forma trouxe uma atmosfera especial à performance. Os textos são de autoria de Vinicius Calderoni, seu parceiro de vida e colega de 5 A Seco. Reproduzo aqui uma das obras lidas por Tó:
“Eu não sei dizer nada por dizer
Então eu escuto
E se eu escuto, eu guardo em mim
Se agora é meu, eu posso usar
Se eu posso usar, vira canção
Quando é canção, devolvo ao mundo
Se tá no mundo, agora é seu
Se agora é seu, faça bom uso
E tem mais voltas no parafuso
Em modo perpétuo
As canções existem para as emoções terem um alfabeto
Só com as canções que farão com as canções que eu fiz
O ciclo estará completo”
A seguir, ele cantou ‘Interior’, canção composta por ele e presente no álbum Pausa do 5 A Seco.
A escolha do repertório demonstrava a gratidão que Tó sente pelos artistas que o inspiram. Muito habilidoso com o violão, Tó homenageou artistas como João Donato, Gilberto Gil, Marília Mendonça, John Mayer, Jorge Drexler, Chico Buarque e Lulu Santos.
Suas canções, algumas inéditas, vinham acompanhadas das temas desses artistas, e o motivo é esse, ele explicou que essas músicas o inspiraram, refletindo em suas próprias criações musicais. Assim entendemos o porquê de Eco se o nome do espetáculo.
Conforme o show avançava, Tó se mostrava cada vez mais à vontade, interagindo com a plateia e convidando-os a escolher músicas que gostariam de ouvir. Sua dedicação e amor pelo que faz eram evidentes e sua música se destacava especialmente por abordar o tema do amor. Essa devoção à canção e ao público que estava ali me fez lembrar do libro Tudo Sobre o Amor, da autora Bell Hooks: falar de amor em um mundo onde o desamor é comum pode ser um ato revolucionário.
No final do concerto, o amplificador do violão parou de funcionar. O curioso é que o mesmo aconteceu com Jorge Drexler em sua passagem por São Paulo, em seu show no Espaço Unimed. O que poderia ter sido um problema, um motivo de frustração, acabou se transformando num dos momentos mais bonitos da noite.
A pedido do público, Tó tocou ‘Pensando Bem’. Sentado na ponta do palco com seu violão, improvisou um acústico. O resultado foi uma versão belíssima, com todos cantando em uníssono. A voz de Tó era suave como algodão. Harmonizou perfeitamente com o violão, preenchendo a sala e tocando o plexo solar de cada um ali.
Acredito que essa sensação foi a de muitos que estavam presentes. Com apenas voz e violão, Tó conseguiu reverberar um sentimento bonito e que muitas vezes se perde na gente.
Acho que posso chamar de amor.
Fotos em destaque por AgathaGameiro