Afinal, a tal ‘sensação de insegurança’ em Portugal é mesmo o Governo

Vivemos tempos em que o termo ‘sensação de insegurança’ tornou-se o mantra, o subterfúgio de um governo acuado e envolvido em esquemas escusos. Porém, vamos falar da “insegurança” real: aquela que se sente na pele, num país governado por aqueles que fazem dos interesses privados um jogo de bastidores; que distorcem as instituições democráticas para se manterem no poder, e que se refugiam na propaganda e no discurso de suposta revolta da extrema direita que, no fundo, apenas perpetua os mesmos interesses contra os quais afirma insurgir-se, quando confrontado com fatos inegáveis.

O Partido Comunista Português (PCP) apresentou uma moção de censura ao governo expondo aquilo que qualquer democrata não pode ignorar: o envolvimento constrangedor do primeiro-ministro, Luís Montenegro, nos negócios da Spinumviva, uma empresa familiar que se manteve ativa e bem conectada ao Estado, mesmo após sua ascensão ao cargo.

Também expôs as decisões políticas que continuam a sufocar o povo português: cortes sucessivos nos serviços públicos, submissão às exigências de grupos econômicos e a degradação das condições de vida da maioria.

E o que fizeram os partidos que se dizem democratas? Anunciaram, desde o início, que não aprovariam essa moção. O Partido Socialista (PS), em particular, não hesitou em prolongar a sobrevida deste governo, garantindo apoio político estratégico, viabilizando o Orçamento de Estado e, agora, rejeitando a moção de censura que poderia ter posto fim a esta farsa, garantindo-lhe a estabilidade necessária para continuar a política de direita que há décadas condena Portugal ao atraso.

Eis o seu papel: fingir-se de oposição enquanto estende a mão ao Partido Social Democrata (PSD) nos momentos decisivos. O PS é o grande aliado do PSD. É, hoje, o pilar que sustenta a sensação de insegurança de um país refém dos mesmos interesses de sempre. Para justificar sua traição ao povo português, PS, Chega e IL fizeram um verdadeiro malabarismo intelectual. Tentaram atribuir ao PCP a culpa pela manutenção do governo, alegando que a moção de censura teria impedido o executivo de apresentar uma moção de confiança.

Como se a responsabilidade em manter de pé um governo desacreditado recaísse sobre aqueles que o denunciam, e não sobre os que o sustentam nas sombras. Como se não fosse óbvio que o PS e seus aliados de ocasião nunca quiseram derrubar este governo, como já haviam demonstrado ao viabilizarem o último Orçamento de Estado. A verdade é simples: o PS, o Chega e a IL nunca foram oposição a este governo. São e sempre foram parte do mesmo bloco de interesses que mantém o país refém de uma política ao serviço dos mesmos de sempre.

Perguntamos: o que mais é necessário para que se ponha fim a um governo marcado pela desconfiança e pela falta de ética? Qual é o limite da traição à Pátria? Até onde vai a tolerância de quem se diz defensor da democracia, diante de um poder que a corrói por dentro?

Os portugueses foram chamados a confiar, mas, claro, foram enganados. Foram chamados a acreditar na responsabilidade, mas, como era previsível, assistem a um governo que utiliza o aparelho do Estado como extensão de seus interesses particulares. E, no entanto, quem poderia travar este descalabro, como já era previsível, escolhe fechar os olhos.

Que fique claro: a rejeição desta moção de censura é cumplicidade com a degradação do regime democrático. É um aval à ideia de que se pode governar um país como se fosse um negócio pessoal. É um abandono do povo português.

O resultado da votação desta moção de censura explicita que o PS escolheu seu lado, e isso não é novidade. Neste clube de amigos, a sensação de insegurança política e social prevalece, e a culpa não é dos imigrantes, como o PSD/CDS e seus aliados tentam fazer crer, numa cortina de fumaça para se manterem no poder. Para o desgosto deles, a Constituição e o espírito de Abril continuam vivos e resilientes.

Os que hoje traíram o povo não serão esquecidos. A farsa está exposta, e os trabalhadores não ficarão de braços cruzados. A resposta será dada por quem já percebeu que aqueles que estão a serviço dos lucros de poucos, não podem estar a serviço dos interesses da maioria. Quem hoje escolhe o lado da manutenção das injustiças e da degradação, não passará despercebido para sempre.

Texto por Jorge Filho
Edição por Stefani Costa

Afinal, a tal ‘sensação de insegurança’ em Portugal é mesmo o Governo

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