One Ok Rock emociona em São Paulo com show grandioso, mas peca na escolha do setlist

É impressionante como a música produzida no Extremo Oriente tem conquistado cada vez mais fãs na América Latina — especialmente no Brasil. Apesar das grandes diferenças culturais e do idioma (muitas vezes tão distante que impede até mesmo a dedução do conteúdo das letras), grupos vindos de países asiáticos têm ganhado popularidade significativa por aqui, atravessando barreiras geográficas e linguísticas com facilidade.

O fanatismo dos brasileiros pela música oriental ficou evidente nas primeiras semanas de abril de 2025. No início do mês, o grupo sul-coreano Stray Kids, um dos maiores nomes do K-pop, lotou o Estádio do Morumbi por duas noites seguidas, reunindo mais de 65 mil pessoas em cada apresentação. Já no último domingo (13), foi a vez dos fãs do rock japonês demonstrarem sua devoção: a banda One Ok Rock, um dos maiores expoentes do gênero no Japão, se apresentou no Espaço Unimed, em São Paulo, após oito anos longe da capital paulista. A apresentação estava inicialmente marcada para o clube Audio, mas foi transferida para um local maior devido à alta demanda por ingressos.

Formada em 2005, a banda é conhecida por sua sonoridade intensa, que combina rock alternativo, post-hardcore, pop punk e elementos de emo e metal, com letras em japonês e inglês. Composta por Taka (vocal), Toru (guitarra), Ryota (baixo) e Tomoya (bateria), o grupo não só conquistou grande reconhecimento em seu país de origem como também atingiu sucesso global com álbuns como Zankyo Reference, 35xxxv, Ambitions e Luxury Disease. Com presença marcante nos palcos internacionais, a banda já participou de turnês mundiais e assinou com a gravadora americana Fueled by Ramen, mesma de nomes como Paramore e Panic! At the Disco. Atualmente, segue pelo mundo divulgando ‘DETOX‘, lançado em fevereiro deste ano.

Show

No dia do show, dezenas de fãs marcaram presença em peso, com alguns chegando desde as primeiras horas da manhã para garantir um bom lugar próximo ao palco. Entre os presentes, havia jovens de diferentes tribos urbanas, mas a predominância era de otakus, refletindo a forte ligação do grupo com trilhas sonoras de animes. Também se destacou a presença significativa de descendentes de japoneses, algo esperado em São Paulo — cidade que abriga a maior colônia nipônica fora do Japão. O espaço abriu suas portas ao público geral às 19h e, sem atrações de abertura, concentrou todas as expectativas diretamente na atração principal.

Pontualmente às 21h, as luzes se apagaram e os telões passaram a exibir a arte de capa de DETOX. Em seguida, os integrantes do One Ok Rock surgiram no palco e incendiaram a pista com ‘Puppets Can’t Control You‘, um dos principais singles do novo trabalho. Com um instrumental que flerta com o nu metal, a faixa foi recebida com entusiasmo, acompanhada por uma belíssima arte em estilo cartoon exibida nos painéis de LED. Na sequência, veio ‘The Beginning’, sucesso que alavancou a carreira da banda ao nível global após integrar a trilha do live-action de Rurouni Kenshin — novamente com destaque para o primoroso jogo de luzes.

Após esse momento de catarse coletiva, o quarteto mergulhou no material do álbum anterior, Luxury Disease, com ‘Save Yourself’ e ‘Let Me Let You Go’. Ambas as faixas apresentaram uma sonoridade mais pop, com nuances que até lembram Bring Me The Horizon durante a fase do disco ‘Amo‘. Em contraste, ‘NASTY‘, do novo trabalho, trouxe de volta certa energia, com uma base instrumental acelerada e visual impactante com um moderno show de lasers digno de causar inveja a um set do DJ ALOK. ‘Renegades‘, mais calma e acessível, contou com um recurso simpático: a exibição da letra no telão, em estilo karaoke, fazendo com que a plateia cantasse em uníssono, num dos momentos mais emocionantes da noite. Já ‘Tropical Therapy’ e ‘Tiny Pieces’ trouxeram uma estética mais introspectiva ao show. Com efeitos visuais em preto e branco dominando os telões e o palco, a ambientação criada reforçou o tom melancólico e contemplativo das faixas.

Depois de uma sequência intensa de músicas executadas quase sem interrupções, os integrantes finalmente fizeram uma breve pausa para interagir com o público. Em clima descontraído, brincaram com os fãs e até arriscaram algumas palavras em português, arrancando risadas e aplausos da plateia. Logo em seguida, retomaram a apresentação com uma extensão instrumental que levou direto a ‘C.U.R.I.O.S.I.T.Y.’, faixa do álbum DETOX marcada por sua forte influência do nu metal. Nesse momento, uma projeção em vídeo do rapper Chico Carlito assumiu os versos originalmente presentes na obra. ‘Make It Out Alive‘, single lançado em 2023, também mostrou passagens mais agressivas, sugerindo que a banda pode estar se inclinando para uma sonoridade mais pesada em seus próximos trabalhos.

Em um novo momento de conexão com o público, o vocalista Taka agradeceu calorosamente o apoio dos fãs brasileiros e comentou com entusiasmo sobre o crescimento do grupo no país — afinal, o show atual aconteceu em uma casa três vezes maior que o Cine Joia, onde haviam se apresentado em 2017. Na sequência, a poderosa ‘Delusion:All‘ foi executada, trazendo uma mensagem crítica sobre guerra e opressão, reforçada por imagens de protestos exibidas nos telões. O set regular foi encerrado com ‘Stand Out Fit In’ e ‘The Pilot </3’.

Seguindo com um breve intervalo, os integrantes retornaram ao cenário vestindo camisetas da seleção brasileira. Nesse momento, protagonizaram um dos pontos altos da noite ao demonstrar ainda mais carinho pelo público: chamaram alguns fãs para subirem ao palco e participarem da execução de ‘Wherever You Are‘. Com o público completamente cativado, a banda finalizou o show transmitindo uma energia alegre com ‘+Matter’, seguida pela intensa ‘We Are‘, encerrando a noite em grande estilo.

Sem dúvidas, o One OK Rock entregou uma apresentação grandiosa — não apenas impecável em termos técnicos e de performance musical, mas também visualmente deslumbrante, com efeitos especiais que impressionaram do início ao fim. Ainda assim, parte do público teceu críticas ao repertório, que privilegiou majoritariamente faixas dos álbuns Luxury Disease e Detox, deixando de fora músicas de outras fases marcantes da carreira. Como a banda celebra 20 anos de estrada em 2025, muitos esperavam um setlist mais abrangente, que revisitasse toda a trajetória do grupo. Apesar disso, o show reafirmou o motivo pelo qual o One OK Rock é considerado um dos maiores nomes do rock japonês da atualidade.

Fotos: Stephan Solon (disponibilizadas pela assessoria Midiorama)