Depois de passar pelo Circo Voador no Rio, os estadunidenses do Living Colour desembarcaram em São Paulo para uma apresentação na casa de espetáculos Tropical Butantã.
O tema principal era a comemoração aos 30 anos do aclamado disco ‘Vivid’, que ocupa o septuagésimo lugar entre os maiores álbuns de metal segundo a revista Rolling Stone.
Conhecida por misturar vários gêneros musicais, como hard, funk, hip-hop, jazz e metal, o Living Colour foi recebido na ‘terra da garoa’ com a abertura do Remove Silence, grupo formado em 2007 e que agrega antigos membros do Shaman (Hugo Mariutti e Fabio Ribeiro).
Os paulistanos apresentaram um hard rock com muita influência dos anos 80, oriunda, principalmente, dos ritmos dos teclados e pela ‘atmosfera dark’ que o grupo propaga ao utilizar timbres e belas passagens sonoras.
Com um álbum lançado e 2 EP’s, atualmente o Remove Silence tem sido tocado com frequência nas rádios paulistanas, gerando a notoriedade necessária para que o público reconhecesse o som da banda com facilidade.
Um dos momentos mais emocionantes proporcionados pelos músicos foi a homenagem ao vocalista Andre Matos, fundador das bandas Shaman e Angra, além de ter participado da veterana Viper.
O musicista, que faleceu no início deste mês, se tornou um dos expoentes e maiores compositores de metal do Brasil.
Destaque também para a performance de ‘Enjoy the Silence’, do Depeche Mode, em uma versão ‘metálica’, com muito peso na guitarra e timbres sombrios de teclado.
Seria impossível não reforçar a precisão de Leo Baeta na batera e as notas precisas do tecladista Fabio Ribeiro, provando que Remove Silence é uma banda com enorme potencial e que merece maior atenção do público do rock em geral.
Living Colour
Próximo das 22 horas, os membros do Living Colour começaram a dirigir-se aos seus postos para iniciar o espetáculo ao som de ‘Preachin’ Blues’.
O repertório se iniciou com canções presentes no álbum Shade, último trabalho de estúdio lançado em 2017.
Antes de iniciarem a segunda música, o vocalista Corey Glover fez questão de relembrar um dos episódios marcantes do cenário político e social brasileiro: o assassinato de Marielle Franco.
Vítima de arma de fogo, o caso da deputada negra e defensora dos Direitos Humanos até hoje não foi solucionando. Infelizmente, poucas foram as manifestações quando ‘Who Shot Ya’ foi tocada.
Em uma entrevista recente para o portal UOL, o baterista Will Calhoun afirmou que “música e artes são políticas” e que “tem gente que parece desconfortável ao ver nossos shows ao vivo, ainda assim, ficam lá por duas horas. Não há pontos negativos em falarmos sobre esse assunto e há muitos pontos positivos: as pessoas sempre têm oportunidade de mudar”.
E foi exatamente o que presenciamos na noite do dia 14 de junho de 2019, data que marcou um ano e três meses sem a resposta de quem mandou matar a Marielle.
Para finalizar o set das novas canções, o Living Colour mandou ‘Freedom Of Expression’. E não foi por acaso!
A segunda parte do show foi tomada pela homenagem ao cultuado ‘Vivid’. Com o riff de ‘Cult Of Personality’, deu-se início ao ‘momento nostalgia’ da noite.
A cada faixa, era possível ver os rostos de vários dos presentes brilhando ao recordarem um período de suas vidas onde a MTV norte-americana ditava as regras do mainstream e da música mundial.
‘Glamour Boys’ seguida de ‘What’s Your Favorite Colour’ foram berradas em uníssono!
Separando a segunda da terceira parte da apresentação, Will iniciou um belo solo de bateria, dando sequência ao início de uma ‘quase festa rave’ ao tocar uma espécie de ‘steel drum’ sintetizada. Foi o momento da galera dançar e admirar suas habilidades musicais!
Já na última parte da apresentação, o Living Colour começou a tocar os clássicos do Time’s Up, segundo e grande disco da banda que fará três décadas em 2020.
Com mais berros em ‘Love Rears Its Ugly Head’ e ‘Elvis Is Dead’, já nos aproximávamos da ‘derradeira da noite’ quando ‘Type’ foi executada em uma versão bem mais rápida do que a original, levando o público ao delírio!
O Living Colour sempre foi uma banda íntegra que se posiciona claramente sobre os aspectos políticos e artísticos que influenciam e se deixam influenciar; ainda sobre a entrevista vale a pena salientar:
“Este disco representa muito pra gente. É a vida e a história de quatro caras negros e de muita gente de cor neste mundo. Foi o início de nossa jornada artística e tocar essa música é nos expressar sem medo. Infelizmente, muitos dos tópicos que falamos no disco ainda são relevantes”.
Remove Silence é: Ale Souza (baixo e voz), Danilo Carpigiani (guitarra), Fabio Ribeiro (teclados) e Leo Baeta (bateria).
Set do Show: Raw / Laser Gun / Middle of Nowhere / Irreverssible / Enjoy the Silence (Depeche Mode) / Nothing To Loose / The Buzzer / Pressure / Spellbound
Living Colour é: Corey Glover (vocal), Vernon Reid (guitarra), Doug Wimbish (baixo) e Will Calhoun (bateria)
Set do show: Preachin’ Blues (Up Jumped The Devil) (Robert Johnson) / Who Shot Ya? (The Notorius B.I.G.) / Freedom Of Expression (F.O.X.) – VIVID 30 YEARS – Cult of Personality / I Wanna Know / Middle Man / Desperate People / Open Letter (To a Landlord) / Funny Vibe / Memories Can’t Wait / Broken Hearts / Glamour Boys / What’s Your Favorite Colour / Which Way to America? / Drum Solo / Love Rears Its Ugly Head / Elvis is Dead / Type
Texto e fotos por Gil Oliveira