Monoclub: conheça o folk brasileiro de Sorocaba

A banda Monoclub teve seu início em Novembro de 2010. Naturais de Sorocaba, o grupo conta com cinco integrantes, e são eles: Fábio Baddini, Bruno Orefice, Lucas Marx, Bruno Peretti e Dilson Sartori.

A cidade, que é berço do Monoclub, também fez parte de sua evolução. A saga do artista independente no Brasil não é nada romântica e exige muita perseverança. Nesses 10 anos, a banda tem tocado em ruas, bares, casas de música e lugares que acreditam e apoiam artistas, como foi o caso do bar Astereoid, em Sorocaba, lugar importante na história do grupo.

O primeiro álbum do Monoclub foi editado em 2018. A produção e o lançamento tornou-se possível graças a Lei de incentivo à cultura de Sorocaba. Na altura, foi promovido um show gratuito onde os membros da banda distribuíram gratuitamente ao público os CDs.

Foto @caodenado


Em seu histórico, o Monoclub conta com participações em importantes festivais de música folk, tendo, inclusive, realizado turnês internacionais como em 2015, quando tocaram em Chicago e Portland para o Brasil Fest, e em 2016, quando tocaram no prestigiado festival norte-americano, Northwest Folklife Festival. Em São Paulo, atuaram recentemente no Anhangabablues, um evento que reúne bandas independentes, como o Picanha de Chernobill e Mustache e os Apaches.

Compondo em português com letras ricas e tocantes, o Monoclub consegue semear o amor pelo folk em qualquer lugar por onde passem. Esse ritmo, que teve seu início marcado no início dos anos 60, ficou muito conhecido através das músicas de Bob Dylan.

Nosso ‘folk brasileiro’, na voz de Fabio Baddini e Bruno Orefice, ganhou suavidade. Através dos instrumentos de Lucas Marx, Bruno Peretti e Dilson Sartori, percebemos a importância de entender que a música só é bela por ser plural. Você sente a influência da canção caipira, do samba, do rock, do jazz, e, por essa diversidade, o Monoclub nos entrega a forma mais bonita de linguagem universal.

Monoclub – Perseguição (Clipe Oficial | America Latina Tour 17)


Para finalizar, conversei com Fabio Baddini, que me contou um pouco sobre a história da banda. O resultado desse bate-papo você confere aqui:

Dani|Hedflow: Por que Monoclub?

Fabio Baddini: O nome sempre é uma questão complexa, cada um tem um entendimento e ao longo dos anos percebemos que o sentido vai se adaptando, mas, em síntese, a ideia do Mono vem de macaco em espanhol, algo próximo à ideia de primitivo, instintivo, uma alusão também à busca pelas raízes, não somente sonora… Será que consegui me expressar? (risos)

Dani|Hedflow: O álbum Romperia, lançado em 2016 graças a Lei de incentivo à cultura de Sorocaba, possui 10 faixas. Vocês disseram que o disco é sobre encontrar seu lugar no mundo. Desde então, vocês tocaram em diversas cidades no Brasil e fizeram turnês internacionais. O Monoclub encontrou seu lugar no mundo?

Fabio Baddini: Conversamos esses tempos entre nós sobre a vontade que estamos de tocar em lugares diferentes, pra pessoas e culturas diferentes. Sempre viajamos bastante, desde o início, sempre acreditamos que essa é a melhor forma de mostrar o trabalho. O Romperia abriu uma porta muito interessante, que fez a gente se transformar em vários sentidos e em muito pouco tempo. Também, a partir dele, fizemos nossos primeiros trabalhos internacionais. Então, tentamos absorver ao máximo a vivência nesse período, tanto musicalmente, mas como indivíduos… E, principalmente, em grupo, como seres humanos. O grande lance é que você vai cada vez mais tomando gosto por essa transformação e começa a entender quais são as coisas que mais fazem sentido na vida pelo simples contato humano, enfim… Essa aproximação cigana faz a gente aprender muito, acho que esse é o nosso lugar no mundo.

Dani|Hedflow: Como artistas independentes, vocês sabem que a cena não é tão convidativa no Brasil. O que fez a banda permanecer na estrada nestes 10 anos?

Fabio Baddini: De fato, nada convidativa, com a saúde e educação sucateada como está, esse quadro só tende a piorar, mas creio que seja essa vontade de produzir, apresentar… Transcender o compartilhamento da arte através da música e os sentidos. Isso nos motiva, olhar pra trás e ver que passamos 10 anos e ainda estamos aqui, entre angústias e prazeres.

Dani|Hedflow: Acredito que trabalhar com música torna a pessoa um tipo de alquimista. O trabalho autoral de cada um de vocês é o resultado da transmutação de sentimentos, experiências, influências artísticas e literárias. Pensando em nomes nacionais, quais foram os artistas brasileiros que mais influenciaram e ainda influenciam a banda?

Fabio Baddini: Alquimista e equilibrista, tudo ao mesmo tempo (risos)! Sempre fomos de escutar muito samba, aliás, essas viagens servem muito como troca de referências e aprendizado em conjunto sobre repertório. Mas, os nomes nacionais que mais passaram por aqui foram o de Cartola, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Caetano Veloso, mas tem uma infinidade que influencia na nossa composição, curtimos muito música brasileira. Dos artistas mais contemporâneos podemos citar, sem dúvidas, Mustache e os Apaches.

Arte Divulgação da última edição do Festival Anhangablues


Dani|Hedflow: Sabemos que “perseguição não resolve mais”, porém, nosso cenário político atual é avesso à classe artística, principalmente aos independentes. Uma forma de resistir a isso é continuar fazendo arte. Vocês participaram do Festival Anhangabablues aqui em São Paulo. Existem outras iniciativas como esta para apoiar e divulgar o trabalho de artistas independentes? Nestes 10 anos, quais foram os melhores momentos da banda?

Fabio Baddini: Festivais como o Anhangabablues faz a gente se unir e gera uma empatia e conexões impressionantes. Realmente, esse tipo de iniciativa faz toda a diferença nessa resistência independente. Nesses 10 anos tivemos inúmeros “melhores momentos”, mas sempre nesses lugares que vivem a cena e valorizam a arte.

Dani|Hedflow: Se vocês pudessem deixar um livro pra gente ler, qual seria? E se fosse um álbum, qual disco vocês gostariam que a gente escutasse?

Fabio Baddini: Gostei muito da ‘Pedagogia do Oprimido‘, do Paulo Freire. É um livro didático, mas existe uma poesia ali de emocionar, faz a gente se questionar e refletir muito. E para os ouvidos, Nervos de Aço, do Paulinho da Viola, é necessário a qualquer ser (risos).

Dani|Hedflow: Quando vocês lançaram o álbum Romperia, foi realizado um show em Sorocaba com a distribuição gratuita de alguns CD’s. Existe alguma previsão de um novo lançamento autoral?

Fabio Baddini: Sim! Esse show fez parte do projeto Romperia que, como dito, foi apoiado pela Lei de incentivo daqui da cidade e fez a gente dar um salto enorme na carreira. Esse dia foi bem massa, muitos amigos presentes, atingimos também uma outra parte da cidade onde não tínhamos abertura informalmente… Só lembranças boas! De novidades, estamos planejando o segundo álbum para esse ano, iniciamos algumas gravações com a co-produção do Tomás Oliveira, do Mustache e os Apaches, que logo serão disponibilizadas como singles desse novo disco. Não vemos a hora de continuar essas gravações!

Mustache e os Apaches e Monoclube, juntos na Balsa em São Paulo


Dani|Hedflow: A última pergunta é sobre o texto do encarte do álbum Romperia, que possui letras lindas, por sinal. O texto termina assim: “A força de nossos antigos alicerces que nos fazem olhar sempre à frente e nos enchem de autoconhecimento clareando nossas lentes e abrindo nossos olhares”. Em 2020, nossos olhares devem estar abertos para quê?

Fabio Baddini: Para fugirmos da alienação, do sectarismo, da passividade. O convite que fazemos é para a reflexão, problematização… Algo além de uma letra, para tentar mostrar o quanto a arte é elementar na vida humana. Abre olhos, olhares, ouvidos, mente, nos transporta pra outros lugares sem esforço algum, preenche nossa alma.

Monoclub: conheça o folk brasileiro de Sorocaba

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladanimelo @daniescreve / X: @danislelas