Mesmo com roteiro repetido, Iron Maiden emociona fãs paulistanos após apresentação no Rock in Rio  

Dois dias após dividir o Palco Mundo no Rock in Rio com Dream Theater, Gojira e Sepultura, a lendária banda britânica Iron Maiden realizou, no domingo (4), uma apresentação no Estádio do Morumbi, em São Paulo, assim encerrando a mini turnê Legacy of The Beast’ pelo Brasil, que também contou com apresentações em Curitiba e Ribeirão Preto.  

Pioneiros do fenômeno musical conhecido como “nova onda do movimento britânico de heavy metal”, Iron Maiden é considerado o maior grupo de metal de todos os tempos. Ao longo de seus 47 anos de estrada, a banda lançou 17 álbuns de estúdio, 13 discos ao vivo, 20 videoclipes, além dos jogos eletrônicos Ed Hunter e Legacy of The Beast, que foram inspirados em seu icônico mascote, Eddie the Head. Atualmente, o sexteto roda o mundo apresentando o elogiado álbum “Senjutsu“, lançado em setembro de 2021, que contém os premiados singles ‘The Writing on the Wall e Stratego‘.

Nem mesmo o frio de 11º que fazia na capital paulista foi capaz de amedrontar os fãs. Durante todo o dia, grupos de amigos “metaleiros” e caravanas movimentaram os bairros do Morumbi, Raposo Tavares e Butantã. Além disso, dezenas de ambulantes vendiam capas de chuva, bandeiras, bottons, copos e canecas temáticas pelas ruas da zona oeste de São Paulo, causando a sensação de que a região estava prestes a sediar um enorme evento religioso. Por volta das 16h, as “camisetas pretas” dos fãs da “Donzela de ferro” já cobriam a avenida Jorge João Saad, que celebravam em ritmo de festa o retorno da banda após 3 anos desde sua última apresentação na “terra da garoa”. Alguns minutos após as 19h, os portões do estádio Estádio Cícero Pompeu de Toledo foram abertos ao público geral. 

Fãs na Av. Jorge João Saad

A abertura ficou por conta da banda Avatar. Apesar de não ser um dos nomes mais populares entre os headbangers brasileiros, o autêntico grupo sueco de industrial metal possui mais de 20 anos de carreira, 8 discos de estúdio e já conquistou o prêmio “banda revelação” no Metal Hammer Golden Gods Awards – uma das premiações mais importantes do rock mundial. Poucos minutos após as 18h40, o baterista John Alfredsson surgiu no palco e começou a cativar a atenção do público com uma dança completamente descoordenada e confusa. Então, o vocalista Johannes Eckerström, os guitarristas Jonas Jarlsby e Tim Öhrström e o baixista Henrik Sandelin se juntaram ao companheiro e iniciaram o set comHail the Apocalypse, que foi seguida por ‘Colossus‘.

Em um intervalo, Johannes comentou que estava surpreso com o clima frio da cidade. Além disso, o frontman ironizou a reação da plateia ao comentar: “Eu agradeço o respeito de vocês, e confesso que achei bem fofo, mas eu sei que querem logo o show do Iron Maiden‘. Devido ao tempo corrido, o quinteto continuou a apresentação com suas canções mais populares, como: ‘The Eagle Has Landed’, ‘Paint me Red’ e ‘Smell Like a Freakshow.

Infelizmente, a organização do evento não ligou os telões de apoio durante a apresentação dos suecos, o que dificultou a visão do público que se encontrava nas arquibancadas. Contudo, os rapazes entregaram uma performance espetacular, que foi marcada pelas admiráveis danças sincronizadas dos guitarristas Jonas e Tim e a postura de liderança do frontman Johannes.


Após alteração do cenário, a música ‘Doctor Doctor, do grupo inglês UFO, começou a tocar nos alto-falantes do estádio do Morumbi. Os fãs mais acostumados sabiam que faltava pouco para o vocalista Bruce Dickinson, o baixista Steve Harris, os guitarristas Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers e o baterista Nicko Mcbrain subirem ao palco, já que a canção introduz os shows do Iron Maiden há décadas. Logo em seguida, a apresentação começou de forma dramática, com a banda executando a faixa ‘Senjutsu‘, sob um cenário que destacava elementos da arquitetura japonesa. Ainda mantendo o mesmo clima melancólico e apreensível, o set seguiu com os dois principais singles do último álbum: Strategoe ‘The Writing of the Wall’. 


Ainda sob efeito do choque inicial melancólico, o público permaneceu apreensível em ‘Revelations’, b-side do disco ‘Piece of Mind, lançado em 1983, mesmo com alteração no cenário. Ao encerrar a canção, Bruce comentou sobre o clima de São Paulo: “Já tocamos muitas vezes no Brasil. Nós amamos o céu ensolarado deste país, e as noites aqui são sempre quentes. Mas, hoje, o céu está escuro e eu estou com um p*ta frio’, ironizou o vocalista. O frontman do Iron Maiden também falou um pouco sobre o período da pandemia, e afirmou que a única coisa que não muda neste mundo é o sentimento de “irmandade” que tem por seus fãs brasileiros, assim emendando seu discurso com Blood Brothers‘. Na sequência, veioSign of the Cross e seu um cenário horripilante, decorado com um enorme pano de fundo do mascote Eddie sofrendo no inferno. Nesta ocasião, Bruce Dickinson correu pelo palco carregando uma cruz com luzes de LED vestido em um capuz similar as representações do filósofo italiano Giordano Bruno.



Então, chegou o momento que todos aguardavam: a sessão com os principais sucessos do Iron Maiden das décadas de 80s e 90s. Em ‘Fear Of the Dark’, o palco foi modificado, e Bruce pode correr por dois andares fantasiado em um traje de médico do período da peste negra. Certamente, durante a execução da música – que é considerada por muitos como o maior hit do grupo -, a interação com a plateia chegou ao seu ápice, e o estádio do Morumbi inteiro entoou o clássico riff de guitarra como um grito de guerra. ‘Hallowed By Thy Name” contou com uma enorme forca decorando o cenário, e o vocalista interpretou um homem deprimido prestes a cometer suicídio.

Já ‘The Number of the Beast‘ destacou alguns dos efeitos especiais mais bonitos da noite, com labaredas de chamas e forte iluminação vermelha adornando a temática “demoníaca” de sua letra. Para fechar a primeira parte do set com chave de ouro, a escolhida foi ‘Iron Maiden‘, do primeiro álbum com o vocalista Paul Di Anno, onde um robô do mascote Eddie surgiu aos fundo do palco, assim levando os fãs a loucura.



Depois de um rápido bis, as batidas de Nicko Mcbrain anunciaram ‘The Trooper‘. Como de costume em todas as apresentações do Iron Maiden, Bruce simulou uma batalha com ‘The British Eddie‘. Em seguida, ‘The Clansman‘ acalmou a adrenalina do público. Porém, a paz reinou por pouco tempo, e o estádio veio abaixo novamente com ‘Run To The Hills‘, com fãs reunindo as últimas forças possíveis para gritar o refrão “Run to the Hills/Run for your lives“. Novamente, o sexteto realizou mais um intervalo, enquanto um discurso de Winston Churchill animava a plateia. Com o encerramento da narração do ex-primeiro ministro britânico, vieram os riffs iniciais de ‘Aces High‘, seguidos por Bruce Dickinson com um capacete de aviador e filmagens explosivas da força aérea inglesa atacando os nazistas durante a segunda guerra mundial, que tiraram o fôlego dos fãs pela última vez na noite.


Apesar de repetir roteiros, falas e músicas, Iron Maiden continua impressionando, e ainda é capaz de arrancar sentimentos verdadeiros de seus fiéis seguidores. Certamente, a “donzela de ferro” sempre terá um lugar especial no coração dos headbangers brasileiros.



Imagem destacada por Stephanie Rodrigues.

Mesmo com roteiro repetido, Iron Maiden emociona fãs paulistanos após apresentação no Rock in Rio  

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.