Outro Mar com interessante fusão de MPB e rock experimental em seu novo álbum TransitóRio

Esse lançamento culmina no que há de melhor concebido na discografia do Outro Mar até então. O projeto é idealizado pelo compositor e produtor musical Thiago Fusco.

Depois do debut Margem (2012), do single A Gaiola do (meu) Passarinho é o Céu (2013), do EP Cidade Baixa (2013) e de seu homônimo lançado em 2015, Fusco conseguiu em TransitóRio (2022) elaborar uma sonoridade ainda mais diversifica e aprazível, que pode ir da música popular brasileira ao trip-hop, passando por elementos psicodélicos de rock experimental, alternativo e samba.

A imersão nessa amalgamada experiência auditiva começa com ‘Amanhã É Outro Dia ( Imigrando )’, uma faixa que funciona como uma espécie de ambientação… Um ‘abre-alas’ para se apresentar e desejar boas vindas enquanto prepara o que está por vir.

Em ‘SoLua’ Thiago mostra com maestria a que veio. O som é um compêndio da ritmicidade apurada pelo músico ao longo da última década, uma mescla potente de estilos que culminam em uma consonância abalizada, graciosamente fugindo ao usual.

Logo na sequência há o primeiro dos vários interlúdios desse trabalho, ‘Cabaret Paris’. Ele climatiza bem ao vindouro beat marcante que se inicia junto a um sintetizador agradabilíssimo em ‘O Tempo Das Coisas’. Esse som convida a compreender com mais acurácia o conceito do álbum. Nele se ouve: “Eu quero ser aquilo que não posso mais, o novo a todo momento. Tenho tentado estar mais no presente que nas outras frequências do tempo.”

Já ‘Passarinho Preto Do Bico Amarelo ( Melro )’ engendra-se como uma sorte de ‘mascote inspirador’, esse que parece criar um elo a fim de motivar o processo; não em busca de um fim, mas sim de um meio.

‘Ser Vulnerável’ emenda essa percepção, só que com um baixar de guardas, demonstrando a suscetibilidade pela qual se passa quando se transita e se permite sentir; percorrendo fases da vida, além de seus encontros e desencontros.




Mais um interlúdio, ‘Flamenco Em Sevilla’, e aí vem ‘Fé Livre, Animal Xamânico, O Invisível’. Esse som celebra a positividade advinda de qualquer tipo de crença que lhe faça mover e da necessidade de se alimentar de uma força motivadora para simplesmente seguir em frente.

‘Um Nó ( Si Opus Sit )’ é a faixa que realmente amarra a ideia de compreender o resultado de ciclos transformadores que acabam, por vez, trazendo-lhe de volta à sua própria essência.

‘Uncle Chickens’ faz mais uma passagem se abrir para transitarmos até ‘O Dia Em Que Nasci’. Essa canção remonta ao momento em que acontece uma iluminação por dentro, um discernimento que possibilita abranger-se ao todo e, de fato, existir.

Aí nos deparamos com outra passagem, desta vez uma versão de um trecho de ‘Change (In the House of Flies)’ do grupo Deftones.

E, logo, o apogeu acontece na faixa mais impactante do álbum: ‘Rosa Morta’. Aqui a versatilidade de Thiago Fusco como compositor aflora em toda a sua plenitude, intercalando transições jazzadas em um sambinha maroto e faceiro, do bom carioca que é. Aliás, em TransitóRio, nota-se essa coisa que ele tem de expressar sentidos nas junções silábicas das palavras. ‘Rio’ (da conjugação de ‘rir’ em primeira pessoa), ‘Rio’ de Janeiro (o estado em que Thiago nasceu) e ‘Rio’ (das águas que fluem). Ou seja, a ideia de nascer, fluir, transitar e se fazer sorrir é, talvez, a principal das mensagens passadas aqui.




‘Beer Blues’ desata outro acesso, dessa vez a extensão serve para trazer ‘Marte Em Escorpião ( Casa 8 )’, que entrega uma densa dose de introspecção na busca de um desígnio… “Peixes com luzes na cabeça assumem a solidão, iluminam a escuridão. Meu marte é em escorpião, nada nessa vida é em vão.”

‘Peixe Fora D’água’ é outro destaque excepcional e traz em seu tom toda a dor de romper com o que nunca se está pronto para deixar. A letra é belíssima, parte dela diz: “no dia em que morri, eu vi um peixe respirar fora d’agua. Estava bem ali, reluzente a me olhar… De repente, senti.
No dia em que morri, eu vi um peixe respirar fora d’agua. Estava bem ali, reluzente a me olhar… De repente, sem ti.”

Enfim, chega-se ao último interlúdio, ‘Senhor Romeno’. E, no encerramento do álbum, ‘Meu Ambiente’ apresenta o som mais cadenciado. Nele também evidencia-se a noção de que ‘casa’ é mais um estado de espírito e uma forma de se sentir, habitante das andanças e descobertas da vida. Vida vivida por quem sempre se move na busca do que lhe faz bem.

No mais, a derradeira: ‘Adiante!’, uma injeção de ânimo àquele que não aceita se estagnar em meio a adversidades e barreiras.

TransitóRio é uma experiência absolutamente sui generis, um ode ao júbilo da existência e ao seu próprio curso em si.

Outro Mar com interessante fusão de MPB e rock experimental em seu novo álbum TransitóRio

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