Beetlejuice, o musical que ilustra a beleza que é compartilhar a vida

Antes de falar sobre o musical Beetlejuice, gostaria de falar sobre nostalgia e infância.

Quando afirmam que a nostalgia surge devido à saudade de tempos mais simples, inevitavelmente reflito sobre o que essa sensação significa para mim. Percebo que rotular como “tempos mais simples” talvez não seja a descrição mais precisa. Para mim, a nostalgia é sobre ansiar por uma versão mais doce de mim mesma relacionada a uma época em que meu olhar era mais ingênuo diante do mundo, repleto de esperança e coragem. Em resumo, sinto falta da época em que eu contemplava o mundo com a inocência de uma criança.

Acredito que o riso seja a expressão genuína da criança que reside em todos nós. Diante de tudo isso, surge a pergunta: qual meio seria mais eficaz do que a arte para nos reconectar com essa criança perdida dentro de nós?

Algumas obras me levam de volta a esse mundo, como é o caso do filme Beetlejuice (lançado em 1988, dirigido por Tim Burton com roteiro de Michael McDowell e Warren Skaaren). Ele fez parte das tardes de inúmeras crianças que, agora adultas, guardam lembranças vívidas desse clássico do cinema. Em uma época em que streaming sequer existia, cada exibição do filme (intitulado no Brasil como Os Fantasmas se Divertem) proporcionava uma mistura única de diversão com uma leve aura de temor, afinal, o cerne da trama explorava a morte, o obscuro e o desconhecido além dos limites do nosso mundo – o grande mistério que é a vida.

Por que não abordar esse tema de maneira descontraída, divertida e completamente criativa? Esse tipo de abordagem foi conduzida de forma magistral por Tim Burton, que sabe explorar a complexidade da morte de um jeito leve e que ressoa com o público. Porque, no fim das contas, a morte é uma parte intrínseca da vida e evitar discuti-la não a fará desaparecer.

Beetlejuice se transformou em um sucesso musical na Broadway, com composições musicais de Eddie Perfect e um roteiro elaborado por Scott Brown e Anthony King, rendendo oito indicações ao Tony Awards (incluindo a categoria de melhor musical). A produção estreou com grande êxito em São Paulo no dia 22 de fevereiro deste ano.

No Brasil, Eduardo Sterblitch brilha no papel principal, incorporando de maneira cativante a persona do Besouro Suco, um personagem destemido que não hesita em expor as suas falhas e os seus traumas. A habilidade do ator em usar o humor para se transformar em Besouro Suco (traduzido literalmente do termo ‘Beettle Juice’ – um espírito desesperado por retornar à vida sem pensar nas consequências) mostra como ele é apaixonado pelo conceito da liberdade. O texto usa elementos do nosso cotidiano e faz referências a acontecimentos recentes, o que faz com que o público se identifique à peça de forma muito orgânica.

A trama se desenrola em torno do casal Barbara e Adam Maitland (interpretados por Thais Piza e Marcelo Laham), com uma reviravolta na causa de suas mortes. Os espíritos do casal se recusam a deixar a casa para os novos moradores, Charles e Delia Deetz (Joaquim Lopes e Flávia Santana). Já a filha adolescente, a gótica Lydia (Ana Luiza Ferreira e Lara Suleiman alternando no papel), é capaz de ver e interagir com os fantasmas. E é nesse ponto que Beetlejuice entra em cena.

Essa produção se destaca pela exuberância dos cenários, os detalhes cuidadosos dos figurinos, as composições musicais bem elaboradas e a química envolvente do elenco. A experiência proporciona uma viagem a um lugar muitas vezes esquecido, tirando o público da realidade ao longo de quase 3 horas de espetáculo, no qual o riso, os aplausos e até mesmo o sagrado silêncio são inteiramente compartilhados.

A simpatia e o bom humor de Sterblitch elevam a peça a um patamar superior, como se ele estivesse ciente da missão de levar alegria para as ‘crianças de todas as idades’ que estavam ali presentes. Na apresentação que tive a oportunidade de assistir, destaco a atuação de Lara Suleiman no papel de Lydia, emanando absoluta doçura e impressionando com a sua voz.

Classificar Beetlejuice como mera diversão seria minimizar a sua importância. A obra, além de entreter, nos convida a refletir sobre a beleza da vida e olhando ao nosso redor podemos perceber o quão fantástico é compartilhar momentos preciosos com pessoas queridas.

Gostaria de saber hoje qual seria a resposta do ator Eduardo Sterblitch para a pergunta que Abujamra o fez há alguns anos no programa Provocações, tendo vivido esse papel que fala tanto sobre vida e morte: “Eduardo, o que é a vida?”

Talvez a vida seja a beleza de poder compartilhar o tempo com as pessoas que amamos, as histórias, as dores, o silêncio, as risadas e os aplausos até que as cortinas se fechem.


O espetáculo continua em cartaz em São Paulo até 28 de abril no Teatro Liberdade, com sessões de quarta, quinta, sexta e Sábado às 21h00, sábado e domingo às 16h00 e domingo às 20h30.



Ingressos podem ser adquiridos por este link.




Imagem destacada e fotos de divulgação por Leo Aversa.

Beetlejuice, o musical que ilustra a beleza que é compartilhar a vida

Por
- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas