Men At Work entrega apresentação gigantesca, mas público decepciona com reação apática

Certas músicas moldam as trilhas sonoras de nossas vidas, embalando nossos dias de maneira quase imperceptível. Elas se tornam uma parte intrínseca de nossa existência, mesmo quando desconhecemos os detalhes sobre os artistas por trás delas.

Lembro-me vividamente de um episódio marcante em julho do ano passado, quando fui cobrir um show em homenagem à lendária cantora Rita Lee. Surpreendentemente, mesmo sem nunca ter explorado seus discos, sabia de cor praticamente todas as faixas apresentadas no repertório.

Expandindo o horizonte para o cenário internacional, é comum conhecer e cantarolar essas duas canções icônicas (confira aqui aqui) sem ter a menor ideia sobre quem as interpreta. Trata-se dos dois maiores hits Men At Work, uma joia da música australiana que se apresentou na última quarta-feira (21) no Vibra, antigo Credicard Hall, após uma passagem pelo Rio de Janeiro.

Originária de Melbourne e formada em 1978, o conjunto conquistou renome global com seu distintivo som new wave e pop rock. Seu álbum de estreia, “Business as Usual” (1981), foi um sucesso instantâneo devido à humorada “Down Under”, uma canção que brinca com estereótipos de turistas australianos ao redor do mundo. Já no Brasil, o grupo tornou-se uma presença praticamente essencial nas programações de rádios renomadas como Antena 1 e Alpha FM, e suas músicas foram destaque em trilhas sonoras de telenovelas da Rede Globo.

Show sentando e público entediado

O evento contou com uma dinâmica interessante, com a plateia ocupando tanto a pista principal quanto as cadeiras dos setores superiores da casa de espetáculos. Após um breve atraso de 11 minutos em relação ao horário oficial, os anúncios dos patrocinadores começaram a ser exibidos nos telões do local. Às 21h22, Colin Hay, fundador e único membro original ainda presente do Men At Work, subiu ao palco acompanhado por talentosos músicos: Cecilia Noël (Backing vocal e tecladista), Scheila Gonzalez (saxofone), Yosmel Montejo (baixo), San Miguel Perez (guitarra) e Jimmy Branly (bateria). Ao término de “Music for a Found Harmonium” (Penguin Café Orchestra), Colin saudou os fãs em português com um simpático “Boa noite a todos! Obrigado por terem vindo ao nosso show”.

O set começou com “Touching the Untouchables”, destacando logo de cara a notável qualidade vocal de Colin, fiel aos discos lançados nos anos 80, apesar de seus mais de 70 anos de idade. Em “No Restrictions”, o público se uniu em um bonito coro, acompanhando a variedade de instrumentos que caracterizam a música.



Após apresentar duas pérolas do Men At Work, Colin mergulhou em sua carreira solo com “Come Tumblin’ Down” e “Can’t Take This Town”, ambas enriquecidas pelo virtuosismo de Scheila, que brilhou em solos de saxofone de tirar o fôlego. Já em “Down by the Sea”, o baterista Jimmy se destacou com um extenso e caprichado solo.



Ao retornar ao legado do Men At Work com “Everything I Need”, os fãs responderam calorosamente, entoando em alto e bom som. No entanto, uma atmosfera de indiferença generalizada surgiu a partir de “I Can See It in Your Eyes” e “Dr. Heckyll & Mr. Jive”, com grande parte da plateia mostrando-se desinteressada. Nem mesmo as brincadeiras animadas de Cecilia em um português quase fluente e do duo visceral de Jimmy e Scheila em “No Sign of Yesterday” conseguiram animar a plateia. A energia positiva só retornou com o mega-hit “Who Can It Be Now?”, mas diminuiu novamente em “Underground“, “Catch a Star” e “Upstairs In My House”. Na reta final, durante os sucessos “Overkill”, “It’s a Mistake” e “Down Under”, o público cantou e reagiu, mas sem gerar uma movimentação expressiva, apenas levantando seus celulares para gravar vídeos curtos para redes sociais. Após um breve bis com “Into My Life” e “Be Good Johnny”, os integrantes encerraram o evento, mas mais uma vez o público permaneceu apático.



Os integrantes do Men At Work brindaram o público com uma apresentação repleta de uma variedade exuberante de instrumentos, virtuosismo musical e carisma. No entanto, foi angustiante perceber que uma parcela da plateia se mostrou indiferente durante boa parte do show, contribuindo para um clima geral de decepção na experiência geral do evento.

Fotos (Jessica Marinho)



Setlist

Music for a Found Harmonium (Penguin Cafe Orchestra)

Touching the Untouchables

No Restrictions

Come Tumblin’ Down (Colin Hay)

Can’t Take This Town (Colin Hay) 

Down by the Sea

Everything I Need

Blue for You

I Can See It in Your Eyes

Dr. Heckyll & Mr. Jive

No Sign of Yesterday

Who Can It Be Now?

Underground

Catch a Star

Upstairs in My House

Overkill

It’s a Mistake

Down Under

Bis

Into My Life (Colin Hay Band cover)

Be Good Johnny

Love Is the Sweetest Thing (Al Bowlly)

Texto: Guilherme Góes

Fotos: Jessica Marinho (Credenciada pelo site “Wikimetal”)

Agradecimento: Maria Correia (Metal No Papel/Heavy Metal Online)

Men At Work entrega apresentação gigantesca, mas público decepciona com reação apática

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.