Kool Metal Fest 2024 destaca lineup voltado ao thrash metal


No último domingo (11), em plena celebração do Carnaval, quando as ruas de São Paulo pulsavam com a energia de foliões e blocos, o tradicional Carioca Club, conhecido entre os headbangers por sediar apresentações de bandas e artistas de médio porte, abrigou a edição anual do Kool Metal Fest – um dos encontros mais emblemáticos do cenário do metal underground brasileiro.

Na festa deste ano, o evento destacou um line up focado no thrash metal, apresentando nada menos que Vio-lence, uma das bandas pioneiras do movimento da cena da região da Bay Area, e Exhorder, conjunto precursor do groove metal que recentemente entrou para o catálogo do renomado selo Nuclear Blast. Além das atrações internacionais, o Kool Metal contou com a presença de nomes nacionais de destaque, como Ratos de Porão, Escalpo, Cerberus Attack, Santa Muerte e Damn Youth, esta última sendo uma das maiores revelações da cena brasileira nos últimos anos.

  • Headbangers entre os foliões

Durante o percurso para o Carioca Club, centenas de headbangers acabaram imersos entre os foliões que se divertiam nos blocos próximos às estações Faria Lima, Fradique Coutinho e Butantã. Presenciar os “metaleiros” vestidos de preto, entre uma multidão de carnavalescos em trajes vibrantes (ou até mesmo despidos de camisas) proporcionou uma cena minimamente divertida.

Às 14h em ponto, as portas do clube foram abertas ao público. Contudo, o credenciamento para os profissionais de mídia só foi liberado após às 14h30, resultando na perda de alguns minutos do set da Santa Muerte entre os representantes de alguns portais.

Reconhecido pelo público entusiasta e caloroso, o Kool Metal Festival costuma atrair uma multidão ansiosa que chega cedo para apreciar os shows de todas as bandas. No entanto, ao adentrar no local, foi possível notar que pouquíssimas pessoas estavam acompanhando a apresentação da banda liderada por Marilia Massaro, ex-membro da Sinaya, que apresentou um repertório focado no EP “Hipocrisia Never Ends”.


Com a pista do clube ainda relativamente vazia, veio Cerberus Attack, grupo oriundo de São Mateus, Zona Leste de São Paulo, que personifica o thrash metal de maneira visceral. A apresentação teve início com a introdução instrumental “Straight Outta East Side”, seguida pelas faixas “Strategic Cut On Education” e “Mithify Yourself”. Embalado por um som extremamente veloz e habilmente trabalhado, caracterizado por shredding, blasts beats e tappings em músicas como “Fastest Way to Die”, “Third World Kids” e “Moshers”, o reduzido público começou a criar moshpits, indicando que a verdadeira celebração estava apenas começando.


Já com um público maior no local, o Escalpo trouxe uma dose de hardcore e death metal ao Kool Metal, desviando um pouco da “trilha sonora” thrash. A banda entrou no palco exibindo uma bandeira do movimento LGBT e da luta antifascista, enfatizando seu posicionamento político.



Em seguida, o público foi bombardeado por letras que abordam temas como pobreza, desigualdade e violência das músicas “Onda de estupidez”, “A Dor do açoite” e “Desumanização”. Próximo ao encerramento, o vocalista Neri Orleone reafirmou que o Escalpo em breve realizará uma turnê europeia, levando assim a mensagem sobre as adversidades que marcam a realidade brasileira aos headbangers do velho continente.



Por volta das 17h, metade da pista do Carioca Club já estava ocupada por headbangers entusiasmados, e a principal razão para esse fervor era a aguardada apresentação dos cearenses do Damn Youth, uma das bandas mais aclamadas na nova geração do crossover/thrash.

Apesar de já terem passado pelo Kool Metal Fest em outras ocasiões, o retorno do quarteto foi recebido como se fosse a primeira vez do grupo na cidade. Isso se deu pela inclusão de um setlist repleto de novidades, apresentando faixas inéditas do álbum “Descends into Disorder”. Ainda assim, os músicos habilmente alternaram entre as músicas mais recentes e as já consagradas de discos anteriores, como “Straight Line” da demo “Skate in Hell” de 2015, e “Jurisdiction” do primeiro álbum “Breathing Insanity” lançado em 2018.

Durante o set, os riffs de Camilo Neto e as batidas supersônicas do baterista Italo Rodrigo hipnotizaram o público. Pela primeira vez no evento, enormes circle pits dominaram a pista. Alguns fãs corajosos se aventuraram em stage dives, e também agarraram o microfone do carismático vocalista Elton Luiz, que cativou a plateia com sua simpatia, carisma e performance curiosa, jogando o corpo de um lado para o outro enquanto cantava.

Damn Youth comandou um set arrebatador e hipnótico, reforçando o merecido reconhecimento dos cearenses na cena da música extrema.

Encerrando o bloco de atrações nacionais, Ratos de Porão, o principal expoente nacional do crossover/hardcore, tomou o palco para celebrar os 30 anos do lançamento do álbum “Just Another Crime… in Massacreland”. A performance iniciou-se com uma dobradinha das faixas “Satanic Bullshit” e “Diet Paranoia”, presentes no mencionado trabalho, como tem sido a prática nos shows recentes.

Em seguida, o quarteto conduziu o público por um setlist diversificado, abrangendo desde clássicos como “Caos” e “Morrer”, do álbum “Crucificados pelo Sistema”, o primeiro registro hardcore feito na América Latina, até músicas como “Amazônia Nunca Mais” e “Beber até Morrer”, do disco “Brasil”. O repertório também contemplou composições mais recentes do trabalho “Necropolítica”, lançado em 2022, que abordam a loucura do cenário político e social brasileiro, como em “Aglomeração” e “Alerta Antifascista”. Contudo, o momento mais emocionante do set surgiu com “Descanse em Paz”, onde a banda prestou uma breve homenagem ao baixista Jabá, um dos fundadores do grupo, que faleceu recentemente.

João Gordo exibiu uma energia incrível, aparentando estar recuperado de lesões recentes e até mostrando ter perdido peso. Para os seguidores assíduos da banda, que frequentam diversas apresentações, este sem dúvida foi considerado um dos shows mais intensos e brutais do Ratos de Porão nos últimos tempos.



Iniciando a reta final do evento, Exhorder serviu como uma ponte entre os fãs que ainda sentiam a intensidade do set do Ratos de Porão e aqueles ansiosos pelo tão aguardado show do Vio-lence. Infelizmente, o set foi prejudicado por problemas técnicos que surgiram logo durante a introdução. Apesar dos esforços da banda para contornar a situação nas faixas “Slaughter in the Vatican” e “Legions of Death”, as falhas persistiram, resultando em uma experiência desagradável.


A performance seguiu com uma mistura de canções do próximo álbum, que será lançado em breve, além de clássicos do disco “Slaughter in the Vatican”. No entanto, mesmo com a furiosa entrega do thrash metal pelo quarteto, o público não reagiu com entusiasmo, chegando a parecer relativamente entediado. Com exceção do carisma do frontman Kyle Thomas, que interagiu com o público fazendo piadas sobre o carnaval brasileiro e compartilhando curiosidades sobre os primeiros dias da banda, a apresentação foi, de fato, marcada por uma sensação catastrófica.



Encerrando com chave de ouro o Kool Metal Fest 2024, Vio-Lence, uma das fundadoras do thrash metal, subiu ao palco. Logo de cara, foi possível notar que apenas o vocalista Sean Killian e o baixista belga Christian Olde Wolbers representavam a formação clássica do grupo desta vez.





Ao longo de pouco mais de uma hora, Vio-Lence presenteou o público com um repertório focado em seu álbum de estreia, “Eternal Nightmare” (1988), uma obra emblemática do thrash metal da Bay Area de San Francisco, apresentando quatro de suas músicas ainda no começo do set. Como esperado, o Carioca Club se transformou em um pandemônio com rodas de pogo, stage dives e a galera cantando alto.

O entusiasmo não diminuiu com as faixas escolhidas de “Oppressing the Masses” (1990) e nem com a mais recente “Upon Their Cross” do EP “Let the World Burn” (2022), que manteve a energia da plateia mesmo após seu término, com gritos acompanhando o ritmo da bateria. A grande estrela da noite, incontestavelmente, foi o guitarrista Phil Demmel. Recentemente, o músico anunciou sua participação na nova banda de Kerry King (Slayer).

Na parte final da apresentação, em um cover de “California Uber Alles”, Kyle Thomas foi convidado ao palco. O clima se transformou em uma celebração de fim de turnê, contando até mesmo com os roadies tomando os microfones.

Apesar do espetáculo emocionante, é importante ressaltar algumas críticas ao vocalista Sean, que mostrou uma agressividade excessiva em relação aos fãs que subiam ao palco. Por várias vezes, o frontman empurrou aqueles que demoravam um pouco mais para saltar, resultando em um incidente em que um fã saiu com ferimentos no rosto.



Texto: Guilherme Góes

Fotos: Dani Moreira (profissional credenciada pelo site Roadie Crew, que gentilmente compartilhou seu trabalho com a Hedflow

Agradecimento especial: Metal no Papel

Kool Metal Fest 2024 destaca lineup voltado ao thrash metal

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.