Musical ‘O Rei Leão’: Lembre-se de quem você é

O Rei Leão (um dos grandes clássicos da Disney que marcou gerações) continua a encantar e emocionar espectadores ao redor do mundo, mesmo décadas após seu lançamento. Desde a sua estreia, nos anos 90, este conto imortal tem cativado corações com sua poderosa narrativa sobre o ciclo da vida, do amor, da perda e da autodescoberta.

Nascida na década de 90, cresci assistindo repetidamente à história do jovem leão Simba, que enfrenta desafios e obstáculos para se tornar o monarca da selva. A sua jornada de crescimento e amadurecimento ressoa profundamente em mim, assim como em muitos outros que compartilham uma conexão emocional com o desenho animado.

Além da narrativa envolvente, a trilha sonora de O Rei Leão é uma obra-prima por si só. Composta por talentosos artistas como Hans Zimmer, Elton John e Tim Rice, as músicas do filme adicionam uma camada extra de magia e emoção à história já poderosa.

A saga do Rei Leão transcendeu a tela do cinema e encontrou uma nova vida nos palcos da Broadway, onde se transformou em um espetáculo musical de sucesso. Recentemente, tive o privilégio de realizar um sonho de longa data assistido ao musical. A peça, que está em cartaz até julho de 2024, oferece uma experiência teatral verdadeiramente mágica, repleta de performances extraordinárias e efeitos visuais deslumbrantes.

Quando nos tornamos adultos, acumulamos histórias, bagagens, traumas e sonhos (que se perderam ou foram adiados), além de desilusões e lutos (pelo falecimento de pessoas queridas). Mas, por outro lado, construímos relações, conhecemos mais sobre o mundo, nos apaixonamos, descobrimos o que é sentir saudade, realizamos sonhos e frequentemente nos surpreendemos com tudo o que ainda podemos fazer, com os obstáculos que conseguimos superar, com as dores que somos capazes de vencer e principalmente como podemos mudar.

A narrativa do Rei Leão já é bem conhecida. Eu sei de cor. Simba, o jovem leão, tem uma relação muito amorosa com o seu pai, a quem ele admira. Ao perder o pai sob circunstâncias confusas, ele acumula uma culpa que não é dele e foge. Cresce longe de casa, encontra uma família entre os amigos, Timão e Pumba, que são totalmente diferentes dele. Essa relação de amizade traz uma nova perspectiva para ver o mundo. “Hakuna Matata”, dizem os dois bichinhos o tempo todo. Um lembrete para deixar o passado para trás – os seus problemas você deve esquecer. Essa parceria faz com que Simba cresça e encontre uma razão para continuar. Em dado momento, ele começa a sentir um desconforto, a falta do pai é constante e a sensação de que deveria estar em um lugar diferente começa a incomodá-lo. E é aí que a história começa a mudar.

Um dos pontos mais importantes está presente tanto no filme quanto no musical, é quando o sábio macaco Rafiki encontra Simba, o acerta com um cajado na cabeça e Simba reclama da dor:

Simba: Ai! Ei, que história é essa?

Rafiki: Não interessa! Está no passado!

Simba: É, mas ainda dói.

Rafiki: Ah sim, o passado pode doer. Mas do jeito que eu vejo, você pode fugir dele ou aprender com ele.

Rafiki diz que conhece Mufasa, o pai de Simba, e que pode levá-lo até ele. Simba o acompanha, e nesse momento o que vemos é uma jornada para o seu próprio interior. Já disse isso antes e acredito que por mais que o corpo físico não esteja mais presente, as pessoas que amamos permanecem conosco. Entenda como preferir, por mais que essa saudade machuque, existe algo bom que fica vivo dentro de nós, algo que só existe porque essas pessoas existiram. E ao se reencontrar com a figura do pai, a lembrança, a memória viva, ele também se dá conta de algo que foi ensinado por ele: lembre-se de quem você é.

Aqui entra o ponto importante do musical. Como adultos, quantas vezes nos esquecemos de quem somos? A história é a mesma, mas qual é a diferença? A diferença é a forma da arte. Fui assistir à peça em uma noite de sábado. A plateia era formada majoritariamente por adultos. Com certeza, são as mesmas pessoas que carregam no coração a memória afetiva do desenho animado. A magia da arte também serve para nos lembrar de que já fomos crianças ou então, e, não me entenda mal, que ainda somos.

Os atores não imitam animais, mas os representam utilizando máscaras e fantoches. Outro ponto interessante é sobre a performance de canções em 6 línguas africanas originárias (Swahili, Zulu, Xhosa, Sotho, Tswana, Congolês). O espetáculo conta com 51 atores, sendo 11 estrangeiros para que tanto as músicas quanto os diálogos nas línguas originárias sejam feitas com acurácia. No elenco principal, estão Drayson Menezzes (Mufasa, pai de Simba) e Nayara Venancio (Nala) em excelente companhia de Zama Magudulela (Rafiki), Marcel Octavio (Scar), e do protagonista Thales Cesar (Simba) junto a um grande elenco.

O espetáculo é mágico do início ao fim. Os efeitos lúdicos, as cores, as fantasias e os adultos (que atuam de forma tão entregue e sincera) viajam para dentro da nossa imaginação. E, claro, as músicas. Precisamos falar sobre isso. Uma vez um amigo músico me explicou sobre a frequência do som. Usada para o bem, essa frequência/vibração serve para nos emocionar. A música nos atravessa. Se juntarmos música, uma história bonita sobre a vida – que é sobre leões ‘de mentirinha’, mas é mais sobre nós – e colocarmos tudo isso em um caldo de imaginação, o resultado não pode ser diferente. É sucesso garantido. E sobre sucesso, não me refiro a bilhetes vendidos, mas sim ao poder que a arte tem de transformar corações.

No encerramento do espetáculo, o ator Thales Cesar, que faz o Simba, disse que esperava que nós saíssemos do teatro de uma forma diferente de como entramos. Porque, mesmo que por um dia, é importante lembrar de quem nós somos.


Ingressos disponíveis na bilheteria oficial, localizada no Teatro Renault – Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 – República – São Paulo (SP).

E também no site ticketsforfun.com.br


Imagem destacada por Caio Gallucci.

Musical ‘O Rei Leão’: Lembre-se de quem você é

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas