Skynd em Berlim: o grotesco transformado em arte e suas várias faces


Pioneiros no estilo de ‘True Crime Music’, o grupo assume os atos mais grosseiros e hediondos da natureza humana e os transformam em obras de arte musical.

Skynd é um projeto musical australiano composto pela vocalista de mesmo nome e pelo multi-instrumentista Father. Como pioneiros no estilo de ‘música de crimes verdadeiros’ (true crime music), eles mesclam rock industrial, música eletrônica e rap com uma estética sombria e letras baseadas em mortes e assassinatos perturbadores, como a morte de Elisa Lam, o homicídio culposo de Conrad Roy, o suicídio em massa em Jonestown, o massacre de Columbine High School e assassinos como Gary M. Heidnik, Armin Meiwes, Chris Watts e Katherine Knight.

O show em Berlim neste final de semana contava com ingressos esgotados há meses.





O tema true crimes encontra muitas pessoas interessadas na cultura pop, seja em gênero literário (onde os autores examinam crimes reais e detalham as ações de pessoas), podcasts, séries e filmes muito bem divulgados na cena midiática.

Muitos artistas flertam com esse tema há décadas, mas o Skynd veio para criar seu próprio nicho e sua própria marca na história da música: o estilo musical ‘true crime’. Por isso, o grupo vem chamando a atenção de diversos artistas mundiais que inclusive já marcaram participação especial nas músicas do projeto, como Bill $aber, The Faim, Shinedown e, inclusive, Jonathan Daves, do Korn (um apreciador conhecido do assunto). 

True Crime Scene

A música do Skynd traduz o quão horrível a humanidade pode ser, colocando essas histórias em músicas para que o mundo ouça. O verdadeiro crime é a sua grande paixão e seus videoclipes, que contam com uma estética apuradíssima. Muitos criativos, eles fazem os espectadores mergulharem nesse mundo obscuro.

Cada música leva o nome de uma pessoa do universo de crimes reais e no site da banda há uma seção chamada ‘Case files’, onde se encontram as evidências do caso com o videoclipe com a música 

Show no Privatclub

Com isso tudo em mente, era de se esperar muitos sentimentos envolvidos nos shows. Como vão traduzir tudo isso em um palco? Como se comunicarão com os fãs? Muito poderia ser abordado e o trio (ao vivo, a banda conta com um baterista) foi muito bem tecido, como que numa colcha de retalhos de sentimentos perversos que nos traz grandes reflexões sobre a humanidade.

Nesse 18 de setembro, num domingo chuvoso em Berlim, o Privatclub foi o local escolhido para essa experiência. Com ingressos esgotados há bastante tempo, desde bem cedo o público estava compenetradíssimo aguardando o início da performance.





Às 20h a experiência do espetáculo começou com o telão exibindo algumas cenas referentes às histórias contadas nas músicas, com duração de exatamente uma hora. Em nenhum momento pareceu repetitivo ou entediante. As pessoas ficaram observando atentamente todo o curso de cenas.

Se por um lado é muito legal ter uma diversificação em tons de vozes que cantam algumas das músicas do projeto, por outro lado, é excepcionalmente maravilhoso assistir como Skynd se desdobra e se intensifica no palco com seus timbres, trejeitos, olhares e expressões. Em pouco mais de uma hora de show, ela pouco falou com os que estavam presentes, mas a troca entre artista e público foi tão gigante que em alguns momentos ela pareceu se emocionar.

O setlist contou com a maioria de seu repertório, incluindo a ‘John Wayne Gacy’, lançada há dias atrás. A enérgica canção de abertura ‘Ricard Ramirez’, por exemplo, foi seguida pela atmosférica ‘Elisa Lam’, que imediatamente estabeleceu uma atmosfera mais sombria entre o público, que cantou cada letra com Skynd.

O final do concerto contou com ‘Tyler Hadley’ e ‘Gary Heidnik’. Da mesma forma misteriosa que eles entraram, também deixaram o palco, sem muitas palavras, sem bis. Era visível o sentimento dos espectadores com aquele turbilhão de emoções para digerir. Com certeza, já é um dos shows favoritos do ano.

Skynd tem tudo para ter um grande futuro promissor: tem a faca e as letras na mão de um gênero que segue com fãs sedentos pelos mistérios que permeiam a densidade humana.

Skynd em Berlim: o grotesco transformado em arte e suas várias faces

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- Fotógrafa de shows desde 2008, é também diversas outras coisas, como: 'gateira', praticante de artes marciais, bibliotecária e pesquisadora de experiência do usuário. Adora conversar sobre música, filmes, livros, a vida, o universo e tudo mais. Para segui-la no Instagram: https://www.instagram.com/fortini.photos/