Após ter feito uma verdadeira zona em sessão de autógrafos na loja de discos London Calling e ceder uma entrevista divertidíssima para o programa Heavy Pero No Mucho (Rádio Rock 89fm), o “figuraça” Buster Bloodvessel nem precisava mais fazer shows para manter o respeito do público da lendária banda de ska 2 tone Bad Manners. Porém, como acordado previamente, o grupo manteve as duas datas no Hangar 110.
Fundado em 1976 pelo extrovertido Buster, Bad Manners foi um dos principais nomes da “primeira onda do ska britânico”, fenômeno que dominou as paradas da Europa durante os últimos anos da década de 70s e início dos anos 80s. Após ter sido “retirado” dos holofotes no cenário mainstream com o término da febre do movimento, o grupo enfrentou diversas mudanças em sua formação, além de ter passado por um longo período em hiato. No entanto, assim como The Specials e Madness, a banda sempre manteve sua importância no cenário Ska, e foi uma enorme influência para diversas bandas que surgiram nas décadas seguintes, como Rancid, Mustard Plug e Goldfinger.
Em ambos os eventos coordenados pela Agência Sobcontrole, Thiago DJ, figura conhecida por seu trabalho na Rádio 89fm, ficou responsável pela discotecagem, onde destacou uma tracklist com muitos clássicos do ska, ska-punk e dub music.
Nas duas apresentações, a abertura ficou por conta do grupo Skamoondongos. Fundada em 1995, a banda foi pioneira em explorar a estética e temática antifascista no cenário musical independente brasileiro, e sempre destacou a mensagem da ideologia em seus shows por meio de bandeiras, símbolos e discursos politizados. No palco do Hangar 110, os rapazes não conseguiam segurar a emoção de abrir o show de uma de suas principais influências. Entre os intervalos de suas canções divertidíssimas marcadas por letras instigantes como “Segunda-Feira 13”, “Pobre Plebeu” e “Ska com Maracatú”, os membros da Skamoondongos comentaram diversas vezes sobre a felicidade de dividir o line up com um dos nomes que motivaram a criação do conjunto ainda nos anos 90s.
Além das músicas autorais, o set também contou com “covers ska” de “Medo“, do Cólera, e Bella Ciao – hino de resistência do movimento antifascista italiano.
Para a surpresa do público, Buster Bloodvessel e os demais músicos da Bad Manners subiram ao palco acompanhados pela equipe de metais da Skamoondongos, que já chegaram arrepiando a pista do Hangar 110 com a introdução instrumental ‘This is Ska’. Depois, a lendária banda não cedeu espaço para canções “lado-b”, e seguiu a noite apenas com singles conhecidos, como ‘Just a Feeling’, ‘Skinhead Love Affair’, ‘London Inner Violence’ e ‘Ne-Ne, Na-Na, Na-Na, Nu-Nu‘. Para acalmar o público, veio um cover estratégico de ‘I Love You Baby’ – um dos principais hits românticos do músico estadunidense Frank Sinatra. Entre os intervalos das canções, Buster demostrou sua paixão pelo basquete, provocou os fãs do time Boston Celtics chamando-os de “gordos” e exibiu diversas vezes o logo do Chicago Bulls em sua camiseta. Mesmo sem compreenderem muito as referências ao esporte que não é tão popular no Brasil, os fãs apoiaram as brincadeiras do vocalista. Com o hit ‘Special Brew’, o grupo levou o público a euforia no último bloco de seu primeiro show no Brasil. Antes de se despedir do palco, Buster agradeceu a recepção do público paulistano e prometeu que irá retornar a cidade em um em breve.
Mesmo “beirando” os 65 anos, Buster Bloodvessel ainda apresenta uma voz espetacular, e, embora já não consiga dançar e correr pelo palco como em suas apresentações no inicio dos anos 80s no programa de auditório ‘Tops of the Pops’, da rede britânica BBC, ainda encanta o público com sua simpatia extraordinária.
