Os dias frios vêm chegando pela Europa e esse clima, por vezes, é perfeito para algumas apresentações e movimentações artísticas pelas cidades.
Esse foi o caso do último final de semana, quando os artistas Heilung, Eivør e Lili Refrain se apresentaram no Tempodrom, uma casa de espetáculos maravilhosa abrigada em uma grande tenda de circo, no bairro de Kreuzberg, em Berlim.
Confira a cobertura fotográfica das performances pelos olhos da Edi Fortini:
Lili Refrain
A noite foi aberta com a apresentação de Lili Refrain, uma guitarrista, compositora e performer residente em Roma, Itália. Seu trabalho solo teve início em 2007, em que usa guitarra, voz e loops em tempo real, sem computador ou pré-gravações.
Suas composições remetem ao folk, psicodelia, blues, e virtuosidade no riff. Ela produziu três álbuns que receberam excelentes avaliações de críticos musicais e se apresentou na edição deste ano do festival Roadburn.
Eivør
Eivør Pálsdóttir é uma cantora, compositora e atriz das Ilhas Faroé. Nascida e criada em Syðrugøta, ela teve sua primeira apresentação na televisão aos 13 anos e hoje é bastante conhecida por participações em trilhas sonoras de séries de TV e videogames, como The Last Kingdom e God of War.
Bastante versátil e de uma sensibilidade única, ela se apresentou com um outro musicista, que cuidou dos teclados e sintetizadores para que Eivør brilhasse com sua guitarra, percussão e voz.
Heilung, a comunhão pela cura
Heilung (“cura”, em alemão) é um projeto de música folclórica com membros da Dinamarca, Noruega e Alemanha. A ideia é baseada em textos e inscrições rúnicas oriundas de povos da idade do Bronze, do Ferro e da Era Viking. Eles se descrevem como ‘história amplificada do início da Idade Média no norte da Europa’.
Suas letras trazem composições em diversos idiomas, como nórdico antigo/Norrønt, proto-nórdico, alemão, alemão antigo, inglês, inglês antigo, islandês, latim, entre outros, e são frutos de constantes pesquisas elaboradas pelos musicistas.
Em meio a tantas opções de manifestações artísticas, o Heilung traz uma performance muito diferenciada e cativante, que une rituais pagãos, músicas produzidas através de instrumentos artesanalmente confeccionado pelos músicos (utilizando pedras, ossos, peles e muita madeira) e atuações corporais intensas.
Durante todo o ato, podemos ver a arte tomando o palco por completo e transformando-o numa floresta pagã. Numa tentativa simples de traduzir em palavras essa atuação, podemos dizer que parece um filme passando diante dos nossos olhos. É algo cativante, emocionante e que deixa todo mundo em transe. Difere e é inovador.
A apresentação se inicia com uma cerimônia de abertura, que numa tradução livre seria:
“Lembre-se, que todos somos irmãos.
Todas as pessoas, bestas, árvores e pedra e vento
Todos descendemos de um grande ser
Isso sempre esteve lá
Antes que as pessoas vivessem e o nomeassem
Antes que a primeira semente brotasse”
Christopher Juul, um dos membros fundadores, em uma entrevista recente para o Metal Hammer, disse:
“(O Heilung) simboliza uma reunião de pessoas, uma horda, um bando. Neste caso, pela primeira vez, lidamos não apenas com as tradições originais de reuniões de pessoas no norte da Europa, mas também com as primeiras culturas no sul e no leste do nosso mapa-múndi. Porque pensamos que, em última análise, tudo o que aconteceu em qualquer lugar do nosso planeta é baseado em algum tipo de cultura universal. Não se trata apenas dos vikings, para dar um exemplo, mas das primeiras tradições da cultura humana, em geral. Portanto, qualquer tentativa de vincular seu propósito a um contexto religioso moderno não é devido, pois o grupo tenta conectar seus ouvintes com um tempo anterior ao advento do cristianismo, onde grupos de pessoas se conectavam a algo mágico para sustentar sua sociedade. E é justamente esse espírito ancestral que tanto poderia fazer a diferença num mundo tão caótico no qual vivemos atualmente. O resgate desses valores ancestrais pode nos fazer a viver melhor em sociedade.
Texto e fotos por Edi Fortini
Edição por Stefani Costa