The Exploited no Hangar 110 é marcado por maré de azar

No último sábado (03), uma maré de azar atingiu o Hangar 110 durante o evento que reuniu a lendária banda punk escocesa The Exploited e alguns outros nomes importantes do cenário nacional, como Agrotóxico, Delinquentes e Dischava 

Apesar da chuva forte que caía sobre a cidade de São Paulo, o público compareceu em peso para assistir o show dos punks escoceses. Por volta das 18h, centenas de fãs lotaram um bar localizado na rua Rodolfo Miranda. Quando a casa abriu ao público, às 19h, mais de 150 pessoas entraram no Hangar 110 para acompanhar a discotecagem inicial, expondo uma certa ‘ansiedade generalizada’ em relação a gig encabeçada pelos mestres do hardcore britânico.

Pontualmente, a banda Dischava iniciou o primeiro show da noite às 19h. Apesar do nome engraçado (uma fusão de Discharge com ‘dichavador’), o grupo liderado pelo famoso tatuador Mauro Landim possui composições sérias, que levantam questionamentos acerca de pautas sociais e faz críticas a corrupção existente dentro de instituições religiosas. Além disso, o quarteto destaca um som voltado ao punk raiz tradicional, com leves influências de crustcore, d-beat e outras referências extremas.

A música ‘Cidadão de bem’ engajou o público com a plateia se aproximando do palco para gritar o refrão: “Cidadão de bem/Nós odiamos você/Cidadão de bem/Vá se foder”. Aproveitando a animação dos presentes, Mauro e companhia tocaram um cover de ‘Never Again‘ (da referência ‘mais do que direta’ ao Discharge), finalizando assim o set.

Na sequência, veio a banda Delinquentes, de Belém do Pará –  um dos nomes mais longos do rock nortista, com mais de 37 anos de atividade. O repertório dos ‘punks amazonenses’ contou com músicas dos discos Pequenos delitos e Indiocídio, além da faixa inédita ‘Necropolítica‘, que destaca uma sonoridade bastante curiosa, com passagens crossover e metalcore. Aliás, devido a própria longevidade da banda, os músicos mostraram diversas influências musicais no show, indo do punk old school ao metal moderno.

Ênfase também à postura do guitarrista Paulo Henrique, que exibiu uma performance extremamente profissional e competente ao executar todos esses estilos.

Delinquentes é uma das bandas que expõe a riqueza do cenário rock brasileiro, mostrando que a cena não se resume a São Paulo, Curitiba e outras metrópoles da região Sul e Sudeste. 

Agrotóxico: a onda de azar surge

Após uma breve pausa para alteração no cenário, a banda Agrotóxico subiu ao palco do Hangar 110. O grupo iniciou a apresentação com ‘Eles não vão parar‘, e seguiu normalmente com ‘Zona Ocupada‘. No entanto, quando o quarteto estava prestes a iniciar a terceira música do setlist, um membro da plateia puxou o pedestal do vocalista Jeferson, derrubando microfones e outros equipamentos. Ao reagir, o frontman foi atacado pelo rapaz com o pedestal. Logo na sequência, uma briga generalizada tomou conta da pista do Hangar 110 e o show teve que ser interrompido por aproximadamente 10 minutos.

Após a situação se normalizar, os rapazes mantiveram a calma e continuaram o show destacando ‘Fim do mundo’, ‘Vozes da periferia’, ‘As ruas são nossas’, ‘Ateus em trincheiras‘ e outras canções emblemáticas do grupo, mas o som seguiu com falhas (provavelmente, cabos foram danificados durante a confusão).

Exploited protagoniza um dos shows mais azarados do ano 



Com o Hangar 110 em sua lotação máxima, Wattie Buchan, Wullie Buchan, Irish Rob e Stevie the bastard decidiram dedicar o primeiro bloco do show ao tema “guerra” com as faixas ‘Let’s start a war’, ‘Fightback’ e ‘Dogs of War‘.

The Exploited é uma equipe, e todos os seus integrantes possuem a mesma importância para a harmonia do conjunto musical. No entanto, Wattie era o centro das atenções, o verdadeiro dono da cena. Beirando os 65 anos, o vocalista exibiu um vigor digno de fazer inveja à moçada de 20 e poucos anos presente no moshpit. Apesar de não correr ou saltar pelo palco, o ‘punk idoso’ foi à beira do palco dividir o microfone com a plateia diversas vezes e suportou bem as investidas dos fãs que adentravam em seu espaço para participar nas músicas ‘UK 82’, ‘Chaos Is My Life’, ‘Dead Cities’ e tantas outras canções que consagraram o hardcore britânico.

Após algumas canções, uma fã fez um stage dive, a plateia não a segurou e a moça acabou indo direto ao chão. O acidente foi tão grave que o show precisou ser paralisado por mais de 20 minutos. Felizmente, a menina despertou e foi levada para a parte externa do clube.

Em seguida, mais um episódio chato: o guitarrista Stevie quebrou algumas cordas de sua guitarra durante a execução de ‘Fuck the System‘, e o show foi paralisado novamente. Por sorte, tudo ocorreu bem quando o baterista Wullie pediu para que os fãs invadissem o palco em ‘Sex & Violence‘. Nesta ocasião, o baixista Rob protagonizou uma atitude inusitada: foi até o bar da casa com seu contrabaixo, tirou fotos com os fãs, deixou a galera brincar com seu instrumento e até tomou uma dose de Whiskey direto no gargalo. Como de costume, ‘Punk ‘s not Dead‘ finalizou a noite.

Apesar da noite extremamente azarada, The Exploited impressionou pela energia alucinante do palco. Os escoceses já tocaram no Brasil diversas vezes, mas continuam atraindo fãs e ainda são capazes de realizar uma apresentação sold out na principal casa punk rock de São Paulo – sinal de devoção e que o movimento está mais vivo do que nunca! 


DISCHAVA


DELINQUENTES


AGROTÓXICO



THE EXPLOITED



Texto e vídeos por Guilherme Góes
Edição por Stefani Costa
Fotos por Gustavo Palma

The Exploited no Hangar 110 é marcado por maré de azar

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.