As bandas finlandesas Rattus e Terveet Kädet tiveram grande influência na cena punk/metal/crossover brasileira durante a década de 1980, inspirando diretamente grupos populares como Ratos de Porão e Sepultura.
Rattus foi uma das primeiras bandas de punk rock a surgir na Finlândia, no final da década de 1970. Nos primeiros lançamentos, o som do conjunto era marcado por passagens rápidas e violentas e letras politizadas, características também presentes nas bandas brasileiras da época. Em especial, Rattus teve um grande impacto no Ratos de Porão, um dos nomes mais importantes da cena punk brasileira, que chegou a fazer uma versão da música ‘Rajoitettu Ydinsota‘ no disco Feijoada Acidente? Internacional.
Já o Terveet Kädet, durante a década de 80, explorava um som mais experimental e desafiador, destacando composições sobre anarquia e antimilitarismo, o que chamou a atenção do antigo frontman do Sepultura. Embora fosse do metal, Max Cavalera nunca escondeu sua admiração a banda, e até chegou a listá-la como uma de suas favoritas em diversas ocasiões. Além disso, em 2021, o grupo liderado pelo icônico João Gordo lançou um “EP “paródia” em português do clássico Ääretön Joulu, intitulado Isentön Päunokü.
No final de abril, os fãs brasileiros de música punk foram presenteados com a turnê Finnish Invasion, que reuniu as duas maiores lendas do hardcore finlandês. Além de rodar pelas principais capitais do país, a excursão passou por várias cidades menores, incluindo Limeira (SP), Maringá (PR) e Gama (DF).
Após um show impressionante no Hangar 110, os grupos decidiram realizar outra apresentação na capital paulista. O evento ocorreu na quinta-feira (27), no Iglesia Borratxeria, e contou com Ratos de Porão na abertura.
Desta vez, sem o baixista Juninho na formação, a entidade máxima do hardcore brasileiro apresentou um set repleto de músicas do disco Crucificados pelo Sistema, de 1984, que é o trabalho do grupo onde o ouvinte pode identificar com mais facilidade influências diretas de punk finlandês. Além disso, a banda também executou alguns covers, que raramente são apresentados ao vivo, como ‘Olho de Gato’ (Olho Seco) e ‘Desemprego’ (Fogo Cruzado), e ainda apresentou pela primeira vez ao vivo algumas das as releituras de ‘Isentön Päunokü’.
Com o baterista Vellu atacando seu instrumento em uma velocidade descomunal ao mesmo tempo que cantava com um microfone de apoio, Rattus seguiu com a festividade punk. Sem muita enrolação ou diálogo com a plateia, o trio mandou uma sessão visceral com dezenas de músicas agressivas, destacando diversos clássicos do EP Ihmiset On Sairaita (1985). A grande surpresa da noite foi a participação de João Gordo em “Rajoitettu Ydinsota”, resultando em uma cena memorável.
Para fechar com chave de ouro, nada menos do que o grupo liderado pelo cantor Läjä, um figurão cuja influência não se limita ao punk rock da finlândia, mas também se estende por toda a cultura popular do país nórdico.
A banda tocou músicas do seu álbum de estreia Terveet Kädet (1983) e até mesmo algumas faixas do recente álbum Lapin Helvetti, lançado em 2015. Comandando o conjunto com uma postura brutal, o frontman correu pelo palco, cedeu espaço para os fãs se jogarem no stage dive e ainda dividiu o microfone com alguns seguidores.
Próximo ao encerramento do show, o guitarrista Jão subiu ao palco e declarou sua admiração pelas bandas: “Eu escutava Rattus e Terveet Kädet na minha adolescência enquanto fumava cola. É uma satisfação enorme ter esses caras tocando aqui na Iglesia hoje”. Além disso, ele também fez uma brincadeira com Läjä: “Esse cara aqui era meu ídolo quando eu era moleque. Quem é o Bruce Dickinson perto dele?”. Originalmente, o fundador do RxDxP iria participar apenas na música ‘t. tuho‘, porém, Jão acabou se empolgando e ainda continuou no palco em mais algumas músicas.
Foi uma noite histórica para o underground paulistano, com dois nomes que marcaram o início do punk e ajudaram a moldar o movimento. Uma verdadeira honra para nossa cena!
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