Em uma calorosa noite de 18 de agosto (sexta-feira) na capital portuguesa, o Dead Fish trouxe a magnitude plena do que há de melhor no HC melódico sul-americano com mais de três décadas de história.
Por volta das 21:30 os ouvintes da emblemática banda brasileira já começavam a encher o Musicbox com olhares que demonstravam uma miscelânea de sentimentos, da ansiedade à alegria, afluindo em fim à pura satisfação ao passar das 22h com ‘A Urgência‘ (tema de abertura de um dos seus mais aclamados álbuns, Zer0 e Um, de 2004).
Rodrigo Lima (no vocal), Igor Tsurumaki (no baixo), Fausto Oi (na guitarra) e André Pastura (na bateria) se depararam logo no arranque com a casa toda lotada cantando junto e aos pulos. Afinal, foram 32 anos de espera por este momento em Portugal.
Logo de cara Rodrigo já mostrou a que veio: “o Bolsonaro vai ser preso… Ele fez o meu país sofrer pra caralho! ‘Fascismo nunca mais’ é a nossa luta!” E a plenos pulmões, então, ouviu-se na sequência em uníssono os versos de ‘Tão Iguais’: “Eu grito pelo meu país, que finge os absurdos tão normais onde estou. Eu desejei o teu lugar, quis agir da mesma forma… Aqui todos são iguais!”. Manos e minas deram verossimilidade a isso dividindo o circle pit com uma intensidade absoluta.
Também do Zer0 e Um, a poderosíssima trinca inicial foi complementada pela tocante ‘Queda Livre’. Aí Lima agradeceu a todos e todas na plateia e contou um pouco de como ele se conectou ao HC português, logo nos anos 90, oferecendo a canção ‘Asfalto’ (extraída do Contra Todos, de 2009) em memória de Rodrigo Barradas (ex-vocalista da banda portuguesa X-Acto), além de dedicá-la também à cena local da época em um momento de bastante emoção.
‘Oldboy’ (do Um Homem Só, de 2006), ‘Fragmento’ (do Sonho Médio, de 1999) e ‘Molotov’ (do Sirva-se, de 1998) prepararam bem o terreno para o que seria o grande clímax da apresentação, que atingiu o seu cume ao som de ‘Zer0 e Um’ (faixa-título do célebre e já citado trabalho de 2004).
‘Proprietários do Terceiro Mundo’ (do Afasia, de 2001), ‘Sangue nas Mãos’, ‘Não Termina Assim’ (ambas do Ponto Cego, de 2019) e ‘Mulheres Negras’ (Sonho Médio) deram andamento ao concerto a todo vapor com direito a sessões frenéticas de mosh.
‘Venceremos’ (do Contra Todos, dedicada por Rodrigo “a todas as torcidas antifascistas deste planeta”), ‘Escapando’ (Sonho Médio), ‘Vitória’ (tema do álbum que leva o mesmo nome, de 2015) e ‘Contra Todos’ (também do homônimo de 2009) deram o tom na medida e em alto nível do que há de mais pujante na extensa e exímia discografia dessa lenda do hardcore brasileiro.


































Rodrigo Lima saudou a todos e todas, mais uma vez, e enfatizou a importância daqueles e daquelas que de alguma forma conseguiram manter a sanidade no momento mais desgraçado e genocida durante a pandemia.
‘Autonomia’ (ainda do Contra Todos), ‘Você’ (do Zer0 e Um) e as clássicas ‘Afasia’ e ‘Sonho Médio‘ (dos seus respectivos homônimos) vieram como brasa para a lenha que colocaria um ponto final nessa performance avassaladora do Dead Fish em sua esplendorosa estreia no território lusitano.
A saideira (como chamamos no Brasil) deu-se com ‘Bem-Vindo Ao Clube’ (do magnânimo masterpiece de 2004, predominante no setlist).
A tour europeia, que passou por Irlanda, Inglaterra e Alemanha, contou ainda com mais um show extra em Lisboa e outro com bilhetes esgotados na última apresentação desta digressão, no Hard Club do Porto.
Agradecimento especial ao Edu Santos da Loop Discos
Fotos por Victor Souza