NX Zero e bandas da “geração MTV” lotam estádio e provam que emo não foi apenas uma fase

Sem dúvidas, 2023 foi um ano incrível para os fãs da banda paulistana NX Zero. Após um hiato que durou aproximadamente 6 anos, o emblemático nome do hardcore melódico/emo nacional, cujas músicas marcaram o cenário mainstream durante as décadas de 2000 e 2010, retornou as atividades com um show emocionante no festival MITA, seguido por uma extensa turnê que passou por diversas cidades brasileiras. Para encerrar a excursão exitosa, o grupo realizou duas apresentações no estádio Allianz Parque nos dias 15 e 16, atraindo uma plateia de mais de 50.000 pessoas em cada dia, um feito que superou até mesmo grandes nomes internacionais como Evanescence, Rod Stewart e Kendrick Lamar. Representantes da Hedflow estiveram presentes na primeira data.

Para completar o line up da festa, outros conjuntos foram escalados, desde representantes contemporâneos até ícones da “geração MTV”. Precisamente às 15h, a cantora Day Limns deu início ao evento. Ainda com o estádio notavelmente vazio, ela e sua banda de apoio, composta por músicos experientes como Johnny Bonafé, ex-integrante do Gloria e Black Days, apresentaram um setlist predominantemente formado por músicas de ‘VÊNUS≠netuno‘, seu mais recente álbum completo. Este trabalho é uma fascinante mistura de influências trap com a sonoridade característica do pop rock, proporcionando uma fusão musical interessante.

Foto: Jessica Marinho



Seguindo com a celebração, nada menos que uma “banda irmã” do NX Zero. O Gloria surgiu na mesma época da atração principal do evento e ambos os nomes dividiram os palcos incontáveis vezes em clubes underground como Hangar 110 e Tribe House. Além disso, Gee Rocha participou do grupo durante a fase do álbum ‘Nueva‘.



A apresentação do conjunto liderado por Mi Vieira contou com um setlist similar ao que foi destacado no show de abertura para a banda americana Pierce The Veil, em abril deste ano, com destaque para músicas do álbum ‘(Re)Nascido’, que recentemente completou uma década de lançamento. O repertório também contemplou diversos sucessos que marcaram época nos programas ‘Acesso MTV’ e ‘Disk MTV’, como ‘Vai Pagar Caro Por Me Conhecer’, ‘Tudo Outra Vez ‘e ‘Minha Paz’. Além disso, o quarteto aproveitou a oportunidade para destacar os singles ‘Convencer’ e ‘Coração Codificado’, que farão parte de um novo disco. Infelizmente, o set sofreu com algumas falhas no som. Apesar disso, os rapazes entregaram uma performance enérgica, percorrendo o palco de um lado a outro e envolvendo o público, que retribuía com coros animados.

Foto: Jessica Marinho



O Supercombo, popular grupo capixaba, destacou-se como um dos principais expoentes do rock nacional na década de 2010. Diferentemente das demais atrações do lineup, o som da banda não se enquadra no emo ou hardcore, mas sim no pop rock, e ainda com influências de música experimental. Ainda assim, o quarteto conquistou a atenção do público que ia chegando ao estádio ao oferecer um show repleto de carisma, energia e interação com a plateia. Assim com Day Limns, o conjunto destacou diversas faixas do seu mais recente lançamento, o álbum ‘Remédio‘, lançado em maio deste ano. Contudo, não deixaram de entregar sucessos antigos como a belíssima ‘Amianto‘, além de ‘Piloto Automático’ e ‘Bonsai’, que os alçaram ao topo das paradas musicais.


Foto: Jessica Marinho



Após um show headline na casa de espetáculos Cine Joia, em conjunto com o Dead Fish, a banda britânica You Me At Six assumiu o desafio de aquecer a atmosfera do Allianz Parque antes da apresentação do NX Zero. Mesmo sob um calor intenso, os membros surgiram no palco vestindo ternos estilosos, demonstrando respeito pela ocasião. Com exceção do álbum ‘Take Off Your Colors’, o trabalho mais pop punk da carreira, o grupo revisitou praticamente toda a sua discografia em um set de 12 músicas, que se estendeu por pouco mais de uma hora.

Em certo momento, o vocalista Josh Franceschi expressou descontentamento com a reação do público, lamentando a falta de resposta ao solicitar um moshpit. Ele ainda acrescentou algo como: “Sempre ouvi falar que o Brasil tem uma das audiências mais energéticas do mundo, mas não é o que estou vendo aqui hoje”. Próximo ao final do show, o músico finalmente conseguiu envolver os fãs, que iluminaram o estádio com as lanternas de seus celulares durante as faixas ‘Reckless’ e ‘Beautiful Way’.


Foto: Jessica Marinho



Posteriormente, a banda ainda se envolveu em uma polêmica nas redes sociais ao publicar fotos que sugeriam ser a atração principal do evento, o que gerou controvérsias com os integrantes do NX Zero. Apesar do incidente, foi uma oportunidade única para os fãs paulistanos presenciar um dos nomes mais importantes do pop rock dos anos 2000 ao vivo, após quase duas décadas de clamor por meio de plataformas como Facebook e o já extinto Myspace.



Com o estádio completamente lotado, a atração principal da noite surgiu no palco, após um atraso de mais de 30 minutos, possivelmente proposital para acomodar o público. A abertura começou com efeitos especiais de raios passando no telão de LED. Em seguida, Di Ferrero (vocal), Daniel Weksler (bateria), Gee Rocha (guitarra), Fi Ricardo (guitarra) e Caco Grandino (baixo) desceram sob uma escada iluminada, iniciando o set com ‘Só Rezo‘, fazendo com que 50.000 pessoas cantassem de forma histérica. Sem conceder pausas para os fãs respirarem, a banda seguiu no primeiro bloco com uma sequência de hits como ‘Daqui para Frente’, ‘Bem ou Mal’, ‘Pela Última Vez’ e ‘Apenas um Olhar’, despertando nostalgia em todos que foram adolescentes na década de 2000.

Em ‘Onde Estiver’, Di Ferrero entregou o refrão à plateia, resultando em um incrível momento de conexão. Já em “Cedo ou Tarde”, assim como aconteceu no Festival MITA, a faixa teve uma introdução com sonora em homenagem ao vocalista Chorão, do Charlie Brown Junior, que faleceu em 2013. Comandando um espetáculo com mais de duas horas de duração, o quinteto arriscou estratégias ousadas, como um bloco totalmente acústico, com músicas como ‘Incompleta”, ‘Fração de Segundos’ e ‘Cartas Para Você’. Depois, seguiram com um bloco composto por canções menos conhecidas, como ‘Hoje o Céu Abriu’, ‘Ligação’ e ‘Não é Normal’. Este momento foi o ápice de emoção para os fãs mais dedicados, que cantaram com a mesma paixão que reservariam para os hits mais famosos.


Foto: Jessica Marinho



Os músicos demonstraram uma clara emoção ao se apresentarem diante de uma multidão tão imensa. Di Ferrero e Gee Rocha se abraçaram repetidamente durante todo o show, evidenciando a amizade que perdura entre os membros, afinal, a banda mantém a mesma formação há quase 20 anos. Além do carisma exibido, vale ressaltar o capricho nos efeitos especiais e na iluminação, superando até mesmo produções internacionais.



Para encerrar a noite memorável com chave de ouro, as músicas escolhidas foram ‘A Melhor Parte de Mim’, ‘Além de Mim’ e ‘Razões e Emoções’. Aqui, o público reuniu suas últimas energias para entoar os hinos que moldaram o cenário emo nacional.

O emo venceu, e o show do NX Zero no Allianz Parque foi a prova viva disso! Testemunhar uma banda que surgiu nos clubes punk rock, esteve nos holofotes do mainstream há mais de uma década e, mesmo após um hiato de mais de cinco anos, conseguiu atrair 50.000 pessoas para um dos principais estádios de São Paulo, apenas reafirmou que o movimento não foi apenas uma “modinha” adolescente.

Setlist

Só rezo

Daqui pra frente

Bem ou mal

Pela última vez

Apenas um olhar

Insubstituível

Onde estiver

Espero a minha vez

Mais além

Inimigo invisível

Cedo ou tarde

Você vai lembrar de mim

Meu bem

Círculos

Maré

Mais e Mais

Set acústico

Incompleta

Fração de segundo

Marcas de Expressão

Silêncio

Cartas pra você

Hoje o céu abriu

Vamos seguir

Pedra murano

Ligação

Não é normal

Bis 

A melhor parte de mim

Além de mim

Razões e emoções

Fotos (Jessica Marinho)

Day Limns


Gloria


Supercombo


You Me At Six



NX Zero


Texto por Guilherme Góes

Fotos por Jéssica Marinho (profissional credenciada pelo site “Garotos de Liverpool”, que gentilmente cedeu fotos para a Hedlow).

NX Zero e bandas da “geração MTV” lotam estádio e provam que emo não foi apenas uma fase

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.