Fuzz Fest celebra 4ª edição em São Paulo no palco do Hangar 110

No longínquo ano de 2014, a lendária banda Garage Fuzz, um dos expoentes do cenário hardcore brasileiro, inaugurou seu próprio festival, intitulado ‘Fuzz Fest’. A celebração se tornou um marco no cenário hardcore da Baixada Santista, sempre trazendo bandas de certa relevância para se apresentar na cidade de Santos, em locais com excelente infraestrutura. A reputação do evento cresceu tanto que, apesar da abundância de eventos similares na capital paulista, dezenas de fãs optavam por descer a serra para prestigiar o espetáculo. Em decorrência desse sucesso, o festival expandiu suas edições para São Paulo.

No sábado, dia 9, a banda celebrou a quarta edição do seu festival no palco do lendário clube de punk rock Hangar 110. Nesta nova edição, o evento contou com a participação de duas bandas ‘conterrâneas’: Apnea e Bayside Kings, além dos paulistanos do Statues On Fire.

Apnea encarregou-se da tarefa de abrir o aguardado evento. O quarteto, que conta com renomado música Boka (Ratos de Porão), apresentou ao público paulistano as músicas do álbum ‘Sea Sound’, que inclui faixas como ‘Deepness’ e ‘In Search of Peace Giant Mountains’. Para aqueles que esperavam uma sonoridade voltada ao hardcore, a performance foi uma surpresa agradável. O grupo exibe uma sonoridade com fortes influências do ‘grunge lado B’, evocando bandas como Farside e Seaweed, além do rock psicodélico dos anos 70. Próximo ao encerramento do set, Boka presenteou a plateia com um furioso solo de bateria, culminando em uma salva de palmas entusiasmada por parte do público.



Na ausência do guitarrista Régis, que precisou se afastar devido a problemas de saúde na família, o Statues On Fire subiu ao palco em formato de trio. Originários de Santo André, na região metropolitana de São Paulo, o grupo se destacou por ser o único a cantar em inglês durante o evento. Durante a performance, apresentaram uma seleção de faixas de praticamente todos os seus lançamentos.



Um dos momentos marcantes foi a execução do recente single ‘I Hate Your God’, ao qual o vocalista André Alves dedicou de forma irônica à senadora Damares Alves. Além disso, próximo ao encerramento do show, os rapazes prestaram uma emocionante homenagem ao baixista Alexandre ‘Bucho’, uma figura importante do cenário grindcore nacional, que faleceu em 2021 devido ao descaso do ex-presidente Jair Bolsonaro com a pandemia de COVID-19.



Em seguida, foi a vez do Bayside Kings, um nome já firmado na cena hardcore, que vem realizando shows na capital paulista com uma frequência assustadora. Desta vez, sem os recursos visuais que caracterizaram suas últimas performances como nome de abertura para grandes bandas como The Ghost Inside e Rise Of The Northstar, o grupo trouxe uma atmosfera peculiar ao palco ao decorar sua apresentação com boias e balões de plástico, adicionando um toque de insanidade ao set. O repertório destacado apresentou semelhanças marcantes com shows anteriores, incluindo faixas de diversas fases da carreira, desde as mais antigas, como ‘Get Up and Try Again’ e ‘Sober’, até composições dos recentes EPs ‘Existência’ (2021) e ‘Tempo’ (2022), como ‘A Consequência da Verdade’, ‘#LivreParaTodos’ e ‘Miragem’. Uma novidade foi a inclusão de ‘Take Down’, uma música que o grupo não tocava ao vivo desde 2016.



Como de costume, o vocalista Milton manteve uma interação intensa com os fãs, incentivando stages dives. Independentemente de quantas vezes o Bayside Kings se apresente, seu público fiel sempre retorna. Vestindo camisetas da banda e exibindo uma postura agressiva, os shows do grupo adquirem até mesmo um aspecto de culto entre os seguidores mais dedicados.

Para encerrar com chave de ouro, os ‘donos da casa’ subiram ao palco: Garage Fuzz. Com o clube completamente lotado, a banda fez o Hangar 110 tremer com um setlist que percorreu desde músicas do álbum ‘Turn the Page’ (1998) até o último lançamento ‘Fast Relief’ (2015), incluindo faixas como ‘Shore of Hope’, ‘Cortex’, ‘Kids on Sugar’ e ‘Stream’. Durante a apresentação, o vocalista Victor Franciscon dividiu o microfone com os fãs e se aproximou da beira do palco várias vezes para sentir a emoção do público. Próximo ao final do show, o baixista Fabrício anunciou que aquela seria a última apresentação da banda em São Paulo por alguns meses, já que estão trabalhando em um novo EP e pretendem retornar ‘apenas quando tiverem músicas novas’. Embora o show tenha seguido o estilo marcante da banda, foi recebido com entusiasmo devido aos sentimentos de nostalgia que suas canções conseguem evocar.



A organização impecável e a pontualidade dos shows marcaram a quarta edição do Fuzz Fest SP. Sem dúvida, o evento proporcionou a melhor experiência possível para o público underground e promete continuar crescendo e atraindo ainda mais pessoas em suas próximas edições.

Fotos (Jéssica Marinho)

Texto: Guilherme Góes
Fotos: Jéssica Marinho

Fuzz Fest celebra 4ª edição em São Paulo no palco do Hangar 110

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.