Kurt Cobain do Nirvana: 30 anos sem um dos artistas mais inspiracionais da história

Três décadas, mais tempo desde sua morte do que Kurt Cobain (letrista, guitarrista, vocalista e frontman do Nirvana) teve de vida. Ele foi encontrado morto por um eletricista chamado Gary Smith, no dia 8 de abril de 1994, em uma manhã de sexta-feira, na estufa acima da garagem e ao lado da sua casa em Seattle quando tinha 27 anos de idade. A polícia foi acionada e constatou o músico deitado no chão da estufa com uma espingarda Remington (modelo 11, calibre 20) carregada com 3 cartuchos de munição para caça de pássaros, tendo sido 1 disparado. Kurt foi identificado apenas com um pequeno sangramento em seu ouvido esquerdo, resultado de um tiro dado dentro de sua boca. O seu rosto estava intacto. Uma carta de despedida foi deixada em um dos vasos para plantas no local, com uma caneta vermelha atravessada nela até a terra. O resultado da autópsia estipulou que ele tinha falecido já há três dias da descoberta do seu corpo.

Isso é o que se sabe sobre o fim de Kurt. No entanto, o que ele deixou por meio de sua obra no mundo da música é o que fez a sua existência ser tão legendária.

Cobain desprezava com todo o desdém o título de “voz de uma geração” ou “ícone da geração” e contrariava a mídia corporativa toda vez que tentavam imputar isso a ele. A verdade é que ele fazia questão, o tempo todo, de conciliar o sucesso do Nirvana com as suas raízes do underground. Tornou-se um garoto-propaganda induzido, improvável, uma figura recalcitrante que se ressentia das pessoas que afirmavam ser ouvintes do Nirvana apesar de interpretarem mal as visões sociais e políticas que ele tinha.

“Estou enojado com a minha própria apatia e com a apatia da minha geração. Estou enojado com o que permitimos que continue e com o quão covardes, letárgicos e culpados somos por não nos levantarmos contra o racismo, o machismo e todos os outros ‘ismos’ sobre os quais a contracultura tem reclamado durante anos enquanto sentam e impõem essas mesmas atitudes todas as noites em suas TV’s e revistas.”


Essa citação acima foi extraída de uma entrevista dele para Frank Andrick em outubro de 1991. Portanto, com 24 anos de idade essa já era a linha de pensamento de Kurt Cobain mesmo em meio a uma fama repentina por conta de um videoclipe que estourou mundo afora ao som de ‘Smells Like Teen Spirit‘, do álbum Nevermind (lançado um mês antes dessa resposta a Frank).

No mais, a capa do disco fala por si. Kurt era anti-capitalista e seu desgosto por esse sistema era evidente.



A sua intenção, evidenciada em alguns de seus apontamentos posteriormente divulgados, era ”utilizar a indústria do entretenimento como meio para provocar mudanças revolucionárias”. No que diz respeito ao modo em que a sociedade se organiza, Kurt escreveu que no topo da cadeia alimentar desse tipo de sociedade encontra-se o ”boy branco, corporativo, macho e forte”. Afirmou também que a desigualdade salarial é determinada principalmente pelo machismo e pelo racismo, porque em uma sociedade patriarcal é o homem branco e hétero quem decide tudo.

Para ele, ”a nova atitude dos anos 90” era lutar pelo meio ambiente e consumo consciente. Deste modo, procurando ganhar em cima dessa pauta, as grandes corporações iriam começar a ”permitir que grupos de pensamentos alternativos, supostamente subversivos” ganhassem voz, mas que não deveríamos esquecer que para eles – os capitalistas – isso só seria aceitável até um limite e também porque ”parece ser uma mercadoria lucrativa”. Depois concluiu o parágrafo dizendo que ”podemos nos infiltrar na mecânica do sistema e o império apodrecerá por dentro. Sabotar o império fingindo jogar o seu jogo”.

Já sobre a imposição do patriarcado sobre o corpo feminino, Kurt disse que durante o período em que esteve na escola, as meninas frequentavam uma espécie de aula especial para ensiná-las a se ‘prepararem’ e prevenirem uma eventual situação de estupro, ”só que ao olhar para fora, via os homens jogando bola e pensava: ‘eles que deveriam estar lá sendo ensinados a não estuprarem'”, ressaltou.

No mais, ele odiava com todas as forças o Ronald Reagan (que foi presidente dos Estados Unidos quando o Nirvana estava começando) e toda sua política liberal e conservadora. Sobre isso, chegou a escrever em suas anotações que quando pensava na direita, pensava em Ronald Reagan e como que um cara desses foi escolhido para ser presidente de uma nação. Além disso, acrescentou: ”quando ouço o termo ‘direita’, penso em Hitler, no satanás e em guerra civil. Quando penso nos direitistas, penso em terroristas que planejam matar e aterrorizar a vida de praticantes da Planned Parenthood” (uma organização sem fins lucrativos responsável por realizar abortos em território estadunidense).

Em sua passagem pelo Brasil, Cobain fez questão de sabotar o próprio show do Nirvana em São Paulo quando o João Gordo (vocalista do Ratos de Porão) explicou a ele que se tratava de uma marca de cigarro levando a banda ao país pensando em lucro com o sucesso global do Nirvana e dos artistas grunge na época.

O que ele fez no Rio de Janeiro como forma de protesto em sua apresentação seguinte com o Nirvana (ao vivo na Rede Globo) é algo antológico, sendo ele até hoje o único a ter cuspido nas câmeras da emissora durante uma performance na TV aberta.



Um ano depois (no dia 1° de março de 1994) ele tocaria em Munique, na Alemanha, pela última vez, a um mês de sua morte. O último som do show foi ‘Heart-Shaped Box‘, do álbum In Utero (lançado em setembro de 1993). E o grande hit (‘Smells Like Teen Spirit’, que culminou em toda a sua fama com o Nirvana) curiosamente não foi tocado.

O grupo, que só esteve na ativa por 7 anos e lançou 3 álbuns de estúdio (Bleach, de 1989, Nevermind, de 1991 e In Utero, de 1993) e uma coletânea (Incesticide, de 1992), ficou marcado para sempre na humanidade como o maior fenômeno multigeracional da história do rock.







Imagem destacada por Marcia Foletto.

Kurt Cobain do Nirvana: 30 anos sem um dos artistas mais inspiracionais da história

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