Empoderamento feminino e muitas emoções no 2º dia de Groezrock


O segundo dia de Groezrock foi cheio de emoções!

Algumas delas não foram lá tão boas como imaginei, como, por exemplo, perder a carteira com todos os documentos, inclusive minha permissão de residência nos Estados Unidos!

Mas, graças a alguém de bom coração, que encontrou e devolveu a carteira para o departamento administrativo do evento, poucas horas depois eu já me encontrava tranquila e pronta para retornar às atividades!

Só lamento mesmo por ter perdido algumas apresentações e uma entrevista com a banda Sharptooth enquanto tentava localizar a minha carteira. Porém, como promessa é dívida, em breve vamos falar com eles. Me aguardem!

Groezrock Day 2




Ao contrário da sexta-feira, o sábado foi um verdadeiro dia ‘paulistano’. Teve chuva, frio, calor, sol… Só faltou nevar!

Mas nada disso impediu que a galera acordasse cedo no acampamento, ou, como no meu caso, dirigir até a Bélgica para curtir mais uma tarde intensa de muita música pesada!

A apresentação do No Turning Back foi a primeira do meu dia (abrindo também a minha line up pessoal e personalizada, rs).

Cheios de energia e com um álbum recém lançado, os veteranos do hardcore não desapontam nunca no quesito ‘stage dive’ e ‘sing alongs’.

O set list começou com a música ‘Stronger’ (que também dá nome ao álbum de 2008), considerada uma das mais populares do grupo!

A sequência se deu com faixas dos discos ‘No Regrets, No Time To Waste’, incluindo também trabalhos dos álbuns mais antigos, como ‘Revenge Is a Right’ e, claro, o novo projeto intitulado ‘Destroy’. E o mais interessante aqui é que a galera já tinha muitas letras na ponta da língua, cantando em coro durante as performances de ‘Wolf Hunt’, ‘Let It Burn’, entre outras.

Um dos shows mais aguardados por mim (e por muitas pessoas) era a dos ‘velha-guarda do hardcore maloqueiragem’, mais conhecidos como Dog Eat Dog.

Como eu cresci na cena hardcore de São Paulo, assistindo MTV quando a emissora ainda voltava suas atenções exclusivas à música, era impossível não ouvir falar dessa banda.

O Dog Eat Dog é divertido de se ouvir, mas mais legal ainda é poder assistir uma apresentação ao vivo!

E como esse foi um dos grupos que a galera mais me pediu registros (fotos, vídeos, entrevista, etc.), garanti um bate-papo com o Dave, baixista e membro original. (Nossa conversa estará disponível nesta semana na Hedflow TV).

Voltando à parte importante da performance, o Dog Eat Dog tocou no maior palco, o ‘Main Stage’, com barreiras entre os músicos e o público. E para a minha surpresa, essas grades na Europa são bem maiores!

Com isso, a plateia inteira pulava fervorosamente enquanto eu, bem no cantinho, me sentia em um show de uma banda de heavy metal, tipo Metallica.

Olhar aquela galera cantando e se divertindo me fez repensar sobre todas as críticas que leio a respeito de pessoas que já são consideradas ‘velhas’ e ainda continuam com suas bandas ou comparecendo aos shows e eventos.

Como o próprio Dave disse em um trecho da nossa entrevista: “Você só é velho se sentir velho!” e “A música é uma coisa eterna! As pessoas podem morrer, mas suas canções sempre estarão alí, disponíveis!”.

Agora, sendo um pouco mais realista, sinto que depois de ver uma porrada de banda de punk rock e hardcore, assistir a um concerto do Dog Eat Dog é exatamente o que nós precisamos para dar um ‘reset’ na cabeça!

Totalmente diferente de qualquer outro grupo que tocou nessa edição do Groezrock, seus experimentos passam entre a mistura do rap, do metal anos 90 e uma pegada fundida com o reggae, contando até com apresentação de uma mina saxofonista (inclusive, ela foi um show à parte).

Outra coisa interessante é que a gente nunca sabia como seria a próxima música, perguntando-se a todo momento se viria algo mais melódico, mais agitado… Mas a real é que não importava muito, já que o Dog Eat Dog conseguiu colocar um sorriso no rosto das pessoas de qualquer forma, nos fornecendo a ‘vibe good times’ pregada em suas próprias letras!

A apresentação do Dog Eat Dog é muito louca e efusiva de se ver, mas é claro que também foi hilário perceber como todos os membros da banda se transformam, fazendo do palco uma verdadeira festa!

“Hey Groezrock, vocês estão prontos para lutar?”, perguntou John ao público antes de iniciar a música ‘Rocky’.

Logo em seguida, apareceu um segundo vocalista, vestido com uma roupa de boxe: Dave, o baixista, mostrou que sabe cantar e atuar!

E falando de vocalistas, o Dog Eat Dog tinha para dar e vender, rs!

Eram infinitas as opções: quando John não estava no controle dos vocais, o baterista completava a missão vestido com uma camisa do ‘Washington Capitals’, portando luvas pretas e mandando uns ‘freestyle‘ pra galera, que se sentiu totalmente conectada com a vibe anos 90 (tempo em que as pessoas realmente sabiam fazer uma festa).

Sei que falei de quase todas as bandas que eu estava ansiosa para assistir, mas existem algumas que você nunca imaginou ser possível presenciar. A Trash Talk foi um dos exemplos, pois eles só se apresentam quando realmente ‘dá na telha’!

Trash Talk




E por sempre assistir shows gravados e postados no Youtube, eu já SABIA que essa performance seria uma insanidade sem limites!

Para quem já teve a oportunidade de pegar um show ao vivo desses caras, ou até mesmo assistir uma apresentação via redes sociais, sabe que haverá algumas danças violentas. E como o grupo californiano já teve que cancelar concertos por duas vezes no Groezrock, para recuperar as frustrações anteriores, eles decidiram usar da artilharia pesada!

Lee Spielman, o frontman do Trash Talk, é daqueles que você não sabe se fica intimidada ou fascinada!

Sempre com olhares loucos e cabelos cacheados, completamente desenfreado, Lee sabe exatamente como fazer a galera ir à loucura, pelo simples fato do próprio não ligar para nada e ninguém! E essa é uma característica visível no grupo todo, principalmente por suas parcerias com artistas que seguem a mesma linha, como os moleques do Old Future ou o rapper Tyler, The Creator.

O Trash Talk tocou muitas faixas dos seus lançamentos em um ritmo acelerado, agressivo, cheio de ódio e críticas à nossa sociedade.

O ponto alto do show foi quando Lee mando, literalmente, que todos fossem embora. Sim, ele desceu do palco e ordenou ao público que saíssem da tenda… E a galera obedeceu!!

E quando menos esperávamos, tivemos ‘Wall of Death’, só que de um jeito diferenciado… Lee sumiu no meio da galera, mas logo reapareceu mandando todos fazerem um ‘circle pit’ em sua volta para que ele pudesse cuspir, beijar as pessoas, mostrar o dedo do meio, chutar a galera e apertar as mãos dos presentes!

Tirando essa parte mais violenta (que já era sabido por todos, ok?), essa coisa do vocalista entrar no meio do público para cantar ‘cara a cara’ é uma das coisas que mais me fascinam, fazendo-me recordar de performances como as da Raybeez, vocalista da Warzone e uma lenda da cena hardcore mundial. Ela sempre entrava no meio da galera para que todos se sentissem representados, não apenas por conta da mensagem das músicas, mas para lembrar que “estamos todos ‘fodidos’ igualmente!”.

Com boa parte da plateia em cima do palco, o show se encerrou com Lee ‘surfando’ em cima das pessoas. Bati palmas com as mãos e os pés!

Empodere-se!




Passei grande parte da minha vida procurando por pessoas que me ‘representassem’ no sentido de me sentir incluída em um espaço.

Ouvir alguém dizendo coisas que nos mostram que não estamos sozinhas é algo que faz a diferença, principalmente, quando a voz é feminina!

A primeira vez em que ouvi falar da banda Sharptooth, eu não só me interessei pela música, mas também pela vocalista Lauren, que é uma ativista dos direitos humanos, principalmente nas causas feministas e LGBT+. Lauren nunca escondeu sua bissexualidade e sempre falou disso nas próprias letras!

Vê-los ao vivo era algo que eu precisava!

Criado em Washigton DC, o Sharptooth veio ao Groezrock para se apresentar no palco ‘Monster Energy’ (o único ao ar livre), tornando a ‘parada’ ainda mais especial!

Além das músicas pesadas, com letras engajadas e um vocal rasgado que coloca qualquer marmanjo machista no ‘chinelo’, a banda tem uma desenvoltura MUITO contagiante.

Apesar de não ter um público gigante desde o começo, comparando com os outros palcos, a apresentação do Sharptooth foi tão colossal que, no decorrer do concerto, as pessoas iam chegando, formando uma galera enorme de curiosos e entusiastas!

Confesso que para mim foi um show meio sentimental, não no sentido das músicas serem melódicas, pelo contrário, mas pela mensagem que a Lauren estava passando.

Apesar de eu achar um porre quando homem fica fazendo discurso em show, eu não me senti nenhum pouco incomodada com o que ela tinha a dizer, pois o sentimento era de representação!

Eu era a única garota na frente do palco a fotografar e presenciar o discurso no famoso ‘olho no olho’, passando aquela sensação de que “eu sei que você também passou por isso e estamos nessa juntas!”.

E ela não aliviou: falou sobre ter sofrido abusos psicológicos, sexuais, discriminação e como era ser ‘taxada’ de ‘marginal’ e abandonada por pessoas que duvidaram do seu potencial.

Sua fala cheia de raiva, porém, muito coerente, foi uma aula sobre saúde mental, crimes de ódio e estupro, temas que muitas outras bandas não reforçam.

Durante a canção ‘Survivors’ meus olhos encheram de lágrimas mesmo com as pessoas se acabando de ‘moshar’. Foi uma experiência brutal poder ouvir a Lauren sem medo de botar a boca no microfone para falar sobre assuntos que todos precisam ouvir (além de vê-la escalando a estrutura do palco enquanto berrava todas essas verdades!).

Sobre o Comeback Kid, posso dizer que foi uma das melhores apresentações que já peguei até agora.

Mesmo sabendo que o vocalista Andrew Neufeld estava doente e que os seus gritos soavam mais roucos do que o habitual, sem o acabamento nítido que ele sempre consegue atingir, o espetáculo foi garantido!

Inclusive, a galera atendeu ao pedido e o ajudou a cantar muitas vezes!

O fato é que, além do Stick To Your Guns e do The Ghost Inside, o hardcore melódico do Comeback Kid tem sido uma das paisagens sonoras mais consistentes e sólidas do gênero na última década. E no ao vivo fica ainda melhor!

Então, naturalmente, nós o ajudamos também, roubando o microfone e dando stage dive!

A música ‘Wake The Dead’ finalizou o concerto do Comeback Kid com o público todo em cima do palco.

E antes de partir, conseguimos presenciar um trechinho do show do Millencolin também!

‘No Cigar’ foi um momento histórico para essa pessoas aqui que não os via atuar desde meados de 2009 ou 2010. E a conclusão foi a de que valeu a pena esperar!


Texto e fotos por Vanny Moura


Empoderamento feminino e muitas emoções no 2º dia de Groezrock

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