O líder indígena Aílton Krenak e suas ideias para adiar o fim do mundo

O líder indígena, escritor e ambientalista, Aílton Krenak, foi o convidado do ‘Sempre Um Papo’, realizado na última quinta-feira (31), pelo SESC Santo André.

Durante o evento foram debatidos temas sobre o seu mais recente livro, ‘Ideias Para Adiar o Fim do Mundo‘, lançado pela Companhia das Letras.

Desde seu contundente discurso perante a Constituinte (quando pintou o rosto com tinta do jenipapo preta, em um protesto contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas), Aílton é considerado uma das maiores lideranças no Brasil sobre o tema. Ele é respeitado internacionalmente pela resistência indígena, essa que se baseia em negar a noção de que somos todos iguais.

Durante o bate-papo, foi sugerido aos presentes que abrissem qualquer parte do livro para ler. Posteriormente eram feitas reflexões ou perguntas sobre o trecho escolhido.

Destacamos a seguir algumas falas proferidas pelo pensador indígena durante os comentários:

“Vocês criam as crianças de forma violenta. Vocês alugam o trabalho do professor, do psicólogo para cuidar deles porque vocês estão preocupados em cuidar de outra coisa, o trabalho”, afirmou.

Ao contar sobre uma negociação para levantar recursos internacionais, Krenak lembrou que o Banco Mundial – quando disponibilizou a liberação de verbas para a construção da Transamazônica – dizia que esse era o papel dos bancos e que isso era o “negócio deles”.

Aílton afirmou ainda: “E o nosso negócio é destruir o banco”.


Em outro momento, Krenak relatou que, perante a sociedade, os indígenas e os cientistas são os que sempre falam sobre essas coisas com mais propriedade.

“As crianças já são pós industriais, pois desenham árvores retas (eucaliptos ou pinus), além de montanhas. A cidade isola todo mundo do chão, da terra (as crianças não sabem citar um animal daqui). Isso é culturalismoA gente só aprende com a terra em fricção com a terra. Não podemos deixar que nossas crianças sejam enganadas sobre o futuro. No Ocidente é o que mais se faz. Você tapa o olho da criança para não ver o rio que virou esgoto, o índio que virou refugiado, nem as pessoas em situação de rua, etc.”

O escritor também deu algumas sugestões de obras educativas, citando o premiado documentário ‘Para Onde Foram as Andorinhas’, com direção de Mari Corrêa; que conta a história do povo Xingu.

Ele indicou também o livro ‘A sociedade contra o Estado’, do autor Pierre Clastres.



Sobre a questão das guerras territoriais, Aílton fez um paralelo com a atual situação na Europa:

“Se minha casa é destruída, vou para a sua. É o que tem acontecido com os refugiados na Europa. Seus territórios foram destruídos. Eu vejo hoje cada um com seu lugar de fala e isso reduz a solidariedade entre os outros. A gente acha que o nosso grupo é bom e os outros não.”

“Se o estado de São Paulo não vê os Guaranis é porque não quer ver. Somos quase 21 mil, a maior comunidade indígena com habitantes de todos os lugares do Brasil. Basta olhar para o alto, para o pico do Jaraguá, que lá estão. Se o estado não olha para o índio, o índio olha para o estado. Os índios dos outros estados, e que moram aqui, são refugiados, não tiveram acesso à sua terra. Quando chegam à cidade grande são porteiros, cozinheiros… E são refugiados dentro de seu próprio país”.



Aílton Krenak fez questão de enfatizar que não está liberando a responsabilidade e a gravidade de todo a máquina que moveu as conquistas coloniais. A proposta do ativista é mostrar que muitos problemas enfrentados atualmente pela sociedade estão diretamente ligados aos desastres daquele tempo.

“Assim como nós estamos hoje vivendo o desastre do nosso tempo, ao qual seletas pessoas chamam de ‘Antropoceno’, a grande maioria está chamando de caos social, desgoverno geral, perda de qualidade no cotidiano, nas relações, e estamos todos jogados nesse abismo“. finalizou.

Fotos e texto por Gil Oliveira
Edição por Stefani Costa


O líder indígena Aílton Krenak e suas ideias para adiar o fim do mundo

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