Krisiun em Lisboa: a prova viva de que peso e empatia podem caminhar juntos no metal

A célebre tríade do brutal death metal brasileiro apresentou-se no RCA Club em uma nebulosa noite de quinta-feira na capital portuguesa.

Alex Camargo (vocalista e baixista), Max Kolesne (baterista) e Moyses Kolesne (guitarrista) manifestaram de maneira formidável o que o Krisiun de fato representa na cena da música pesada em todo o mundo.

Os fenomenais irmãos permanecem resistentes, ilustres e absolutamente distintos nesse âmbito que, infelizmente, ainda é amplamente permeado por homens grosseiros e incapazes de exercitar quaisquer traços de empatia, cordialidade e princípios éticos; como evidenciou-se em uma conduta descomedida protagonizada por Karl Sanders (guitarrista e ‘dono’ do Nile) ao destratar a nossa jornalista e fotógrafa Stefani Costa, convidada pelo próprio Krisiun para registrar a apresentação da banda em Lisboa.

Há anos a Hedflow realiza cobertura de eventos no RCA Club, e, como a casa de espetáculos é estreita, muitas vezes as fotos são feitas da parte superior à pista. Habitualmente o trabalho é realizado sem problema algum. Porém, desta vez, Sanders estava na área e foi para cima da profissional com o dedo indicador em riste gritando agressivamente “fora daqui”, repetidas vezes. Um trabalhador do RCA interveio e desculpou-se pelo ocorrido. No entanto, ficou inviável continuar ali face a tamanho insulto. Portanto, as fotos que ilustram esta reportagem foram todas feitas em meio ao público.

Atualmente, Sanders postula-se agora como ‘chefe’ e único remanescente da formação original da banda (formada nos Estados Unidos, em 1993).

O In Element, grupo de death metal industrial da Argentina, abriu as atividades no clube em uma noite com bilhetes esgotados.

KRISIUN

Pontualmente, às 21:05, o Krisiun iniciou uma apresentação antológica aos fãs lisboetas. ‘Kings of Killing’ do Apocalyptic Revelation (1998) abriu alas. Depois dessa ‘classiqueira braba’ já emendaram logo com uma das novas: ‘Swords Into Flesh’ do magnífico lançamento Mortem Solis.

Com a malta ensandecida, a clamar em uníssono “Krisiun, Krisiun, Krisiun…”, Alex saudou a todos e todas: “muito obrigado irmãos portugueses e irmãs portuguesas. É um prazer e uma honra estar de volta a Lisboa. Amamos Lisboa… É uma noite muito importante para nós, de coração. Se vocês não aparecem, não tem show. Sem o apoio de vocês as bandas não são nada. Muito obrigado, Portugal!”

‘Combustion Inferno’, do robusto Southern Storm (2008), veio para reafirmar com toda pujança esse agradecimento especial.

Dá gosto experienciar o Krisiun com toda essa sagacidade adquirida ao longo de três décadas repletas de uma sonoridade extremamente potente e motivadora.

‘Scourge of the Enthroned’, faixa-título desse excelente álbum que saiu em 2018, deu sequência à performance brilhantemente. O público respondeu com todo o vigor em circle pits frenéticos!

Alex continuou a expressar toda a satisfação pela noite memorável propiciada em solo lusitano: “é um grande orgulho estarmos aqui hoje. Não apenas pelo show, mas como brasileiros. Nossa avó era portuguesa, temos raíz neste país. Muito obrigado, mesmo!”, disse o músico em meio a uma enorme salva de palmas.

Foi então que se pôde apreciar uma música de uma fase um pouco mais cadenciada da banda. ‘Descending Abomination’, do The Great Execution (2011). Ela foi acompanhada por outra das antigas: a ‘pedrada’ ‘Vengeance’s Revelation’. E aí o ‘bagulho’ ficou realmente louco!

A resposta da audiência foi bastante calorosa. Houve até quem sacudisse a cabeça enquanto ‘abraçava’ os retornos de palco. Essa foi a deixa para então poder se contemplar mais um grande tema novo: a envolvente ‘Necronomical’.

Ouviu-se depois, novamente por parte do Alex, uma citação de suma importância nesse meio: “um salve aí para as mulheres! Homens e mulheres, sejamos todos iguais aqui!”

E logo mandaram outra ‘porrada’ das antigas: ‘Apocalyptic Victory’, recebida com bastante regozijo pelos metaleiros mais old-school no recinto.

Na continuidade, ‘Serpent Messiah’ agraciou as pessoas que estavam ávidas para constatarem ao vivo como essas faixas mais recentes iriam rolar. E a aprovação foi total.

A saideira ficou mesmo a cargo da famigerada ‘Hatred Inherit’, extraída do aclamadíssimo Conquerors of Armageddon (2000).

Assim o Krisiun entregou uma das performances mais emblemáticas e impressionantes do ano em Portugal.




NILE

O Nile exibiu-se a seguir e teve problemas de regulagem logo no arranque com ‘Sacrifice Unto Sebek’, do álbum Annihilation of the Wicked (2005). A guitarra lead e o vocal estavam muito baixos em relação à bateria, ao baixo e à guitarra base.

George Kollias (baterista) Scott Eames (vocalista e guitarrista) e Julian David Guillen (baixista) compõem o grupo com Karl Sanders na formação atual.

A situação melhorou na segunda, ‘Defiling the Gates of Ishtar’, faixa lançada no Black Seeds of Vengeance (2000).

Scott, contratado para a função de vocalista e guitarrista base da banda nessa turnê, chegou a ser designado para informar que a banda encerraria o show precocemente caso a plateia não se afastasse do palco.

Algumas pessoas acabaram indo embora do local. Pôde-se ouvir de um rapaz, ao deixar as dependências do clube, os dizeres: “estes gajos estão a achar que isto aqui é o Coliseu dos Recreios! Isto é o RCA, caralho!”

Contudo, a sensação que ficou é a de uma banda que, fora Karl, perdeu todos os seus membros pelo caminho ao longo desses anos e está agora começando a perder alguns dos seus ouvintes também.

Para constar algo positivo: provavelmente o ponto mais alto da exibição do Nile talvez tenha sido ao som da faixa ‘Vile Nilotic Rites’, retirada do álbum que leva esse mesmo nome. O trabalho, de 2019, é o mais recente do grupo.

Enfim… Que a dignidade, o respeito e a honra possam prevalecer sempre.

A digressão seguiu para a Espanha e será encerrada no dia 11 de dezembro, em Hamburgo, na Alemanha.





Imagem destacada e galeria de fotos por Stefani Costa





Krisiun em Lisboa: a prova viva de que peso e empatia podem caminhar juntos no metal

Por
- Comunicador cultural, editor e fundador da Hedflow Mídia.