A edição do Amphi Festival de 2023 aconteceu no final de julho no Tanzbrunnen, um local de eventos situado às margens do Rio Reno na cidade de Colônia, na Alemanha. Foram dois dias com mais de 30 bandas em 3 palcos diferentes (incluindo um palco em um navio).
Com sua primeira edição em 2005 na cidade de Gelsenkirchen, o Amphi já é tradicionalmente conhecido por ser um dos festivais de música da cena alternativa e gótica da Europa e um dos que atraem mais público. Além das atrações musicais, o evento também traz outras atividades como discotecagens, apresentações teatrais, mercado de roupas e acessórios, além de uma grande área com diversas opções de alimentação para os presentes.
Passando por diversos locais em seus primeiros anos, a estimativa de público da primeira edição do Amphi Festival foi de 4.500 pessoas, número que foi aumentando ao longo dos tempos devido à sua divulgação e estrutura. A estreia na cidade de Colônia foi em 2015 e desde então conta com aproximadamente 12.500 presentes todos os anos. Foi uma escolha muito assertiva, visto que a cidade por si só já é uma atração imperdível dentro da Alemanha e certamente merece uma visita com calma e atenção, principalmente devido à sua importância na história ocidental. Estar presente num festival que enaltece e dá o devido valor à cena artística mundial obscura e suas demais subculturas às margens do Reno, por si só já torna a experiência para lá de enriquecedora.
O Amphi conta com uma grande estrutura local e é extremamente organizado. Há avisos e informações em diversos pontos e facilidades para acessibilidade onde todos e todas podem desfrutar dos mais diversos ambientes da melhor forma. Dentre as áreas do local, era possível visitar o local de praia, onde algumas cadeiras esportivas eram disponibilizadas num espaço de areia na beira do rio. Ali era permitido descansar, curtir a paisagem e tomar uns bons drinks. E claro, uma zona sempre cheia de gente!
Durante a semana do festival, a produção foi informando sobre a situação do palco-navio, denominado Orbit Stage. Devido às altas demandas de chuvas nos dias anteriores, era possível que o barco não ficasse atracado ao lado do Tanzbrunnen, já que o nível da água estava mais alto do que o considerado ideal e as pessoas teriam que se deslocar a outro espaço mais seguro. Porém, um dia antes do Amphi, fomos informados que o nível de água estava normal e o navio estaria à disposição no local e em segurança. Isso garantiu que aproximadamente 1.300 pessoas estivessem a bordo para assistir bandas como Diary of Dreams, Selofane, Clan of Xymox, dentre outras.
Alex Wesselsky
Alexander “Alexx” Wesselsky é um cantor bastante conhecido na Alemanha. Ele é o vocalista da banda Eisbrecher e antes disso foi parte da banda Megaherz entre 1993 a 2003. Para homenagear essa trajetória, Wesselky fez um set especial composto apenas por músicas de sua antiga banda e contou com temas como ‘Ascension Day’, ‘Freiflug’ e ‘Kopfschuss’.
S.P.O.C.K
SPOCK (também conhecido como Star Pilot On Channel K) é uma banda sueca de synthpop formada por volta de 1988. Com mais de 10 álbuns lançados, o grupo trouxe alguns clássicos como ‘Astrogirl’, ‘She’s An Alien’, ‘Vanguard’ e finalmente ‘Centhron’.
Das Ich
Formado pelo duo Bruno Kramm e Stefan Ackermann, o Das Ich iniciou sua bem sucedida trajetória com suas primeiras fitas demo lá no início dos anos 1980, contendo músicas e críticas religiosas. Na época, nem desconfiaram que, composições como ‘Gottes Tod’ (A Morte de Deus) e ‘Des Satans neue Kleider’ (Roupas Novas de Satanás), anunciariam o nascimento de um novo gênero, o Neue Deutsche Todeskunst (Nova Arte Alemã da Morte). Alguns meses depois, essas mesmas canções já eram consideradas o hino de uma cena obscura na Alemanha reunificada, cuja magia ainda pode ser sentida hoje, no novo milênio, e suas críticas continuam pertinentes.
Durante a apresentação, Stefan Ackermann (que no passado sofreu com sérios problemas de saúde) parecia gratificantemente em boa forma. O vocalista trouxe muita energia descendo até os fãs na primeira fila, enquanto Bruno Kramm causou muita agitação no palco com seu teclado móvel. De acordo com suas próprias palavras, a banda está “trabalhando a todo vapor em um novo álbum”, o que nos deixou esperançosos.
Zeraphine
Projeto de Sven Friedrich, também membro da banda Solar Fake, o Zeraphine surgiu após a dissolução do Dreadful Shadows, um outro trabalho do músico. Além de Sven, o coração dessa proposta é Norman Selbig, bem como outros três músicos que apresentam as suas ideias e formam o line-up ao vivo.
Denominado como dark rock e rock alternativo, Sven nos brindou com algumas músicas como ‘Ohne dich’, ‘Fang mich’, ‘Still’, ‘No Tears’ e ‘Wenn Du gehst’.
Covenant
Um clássico do synthpop sueco. Ativo desde 1986 e com 8 álbuns de estúdio, a banda construiu uma sólida reputação e coleciona clássicos da música alternativa ao redor do mundo.
Ao vivo, o grupo impressiona com seu carismático vocalista Eskil Simonsson, que apresentou um show muito especial com temas como ‘Dead Stars’, ‘Edge of Dawn’, ‘The Men’, ‘Lightbringer’ e ‘Call the ships to port’.
Front 242
Com o seu som inovador e abordagem pioneira, o Front 242 se consolidou como uma das bandas mais influentes no cenário da música eletrônica desde 1982. Com uma música que transita entre industrial, EBM e techno, inspirou inúmeros artistas e gêneros musicais.
De volta aos palcos recentemente, para esse festival o público conferiu nada menos do que os grandes clássicos como ‘Headhunter’, ‘Welcome to Paradise’ e ‘Tragedy for You’.
Deine Lakaien
Fechando o palco principal do primeiro dia do festival, o Deine Lakaien fez uma apresentação memorável. Relevante, inovador e cativo desde 1985, Deine Lakaien tem estado entre as figuras da vanguarda eletrônica internacional e da cena dark wave.
A dupla composta por Ernst Horn e Alexander Veljanov sempre construiu pontes para gêneros muito diferentes. Com sua formação em música clássica, fez história na música.
O setlist foi curto para tamanho repertório, trazendo algumas músicas como ‘Farewell’, ‘Return’, ‘Because the Night’ (sua versão para a clássica de Patti Smith, presente em seu recente álbum Dual), ‘Love me to the end’ e ‘Reincarnation’.
Qntal
Qntal é o cosmos vanguardista de dois artistas excepcionais que se uniram em 1991 para animar músicas medievais e poesias com construções sonoras eletrônicas e um instrumentário histórico – uma fusão inovadora de presente e história.
A mezzo-soprano Syrah e o compositor e multi-instrumentista Michael Popp criaram um amálgama acústico inovador, trazendo para o Amphi algumas músicas como ‘O Welt’, ‘Quis est deus’ e ‘Ad Mortem Festinamus’.
Solitary Experiments
A banda alemã, que celebrará seu 30º aniversário no próximo ano em meados de setembro, encantou sua tradiciona numerosa base de fãs com sons eletro intensos, como ‘Wonderland’, ‘Discipline’, ‘Epiphany’ e ‘Stars’.
Combichrist
Um dos artistas mais populares no movimento “aggrotech” (relacionado ao industrial e eletrônico), Combichrist iniciou-se com o vocalista norueguês Andy LaPlegua (que já tocou em bandas como Icon of Coil, Panzer AG, Scandinavian Cock e Scandy).
Para algumas apresentações na Europa durante este ano, o Combi (como é conhecido pelos fãs) está apresentando sua turnê oldschool, apenas com Andy e com o sintetizador de Elliott Berlin, sem outros músicos ao vivo, o que deixou o som da banda mais “metal”. Assim, faixas como ‘Blut Royale’, ‘Electrohead’ e ‘Without Emotions’ foram reproduzidas “da forma como vieram ao mundo”, sem adições de bateria ou guitarras.
TRAITRS
TRAITRS, composto por Sean-Patrick Nolan e Shawn Tucker, foi formado em Toronto, Canadá, no verão de 2015 e vem conquistando um espaço muito importante na cena alternativa desde então. Seus shows são sempre marcantes. No festival, eles apresentaram músicas como ‘Magdalene’, ‘Skinning’ e ‘Thin Flesh’. Essa é a segunda performance da banda que cobrimos em pouco tempo. A primeira pode ser lida nesse link, quando eles abriram para a VNV Nation, em Berlim.
Whispering Sons
O quinteto belga Whispering Sons traz uma mistura de pós-punk experimental e frenético. Fenne Kuppens, a pessoa que canta na banda, encanta e traz um desconforto ao mesmo tempo, fazendo um show ao vivo imperdível. Algumas músicas apresentadas foram ‘Heat’ e ‘Alone’, num mix de faixas já conhecidas e algumas inéditas.
Coppelius
Com uma misteriosa presença de palco, os alemães do Coppelius mostram que um contrabaixo, um violoncelo, dois clarinetes e uma bateria são muito mais do que música de câmara e trazem um som que cria uma atmosfera conhecida apenas em Berlim no início da década de 1920.
O set incluiu uma ótima versão cover do clássico ‘Chop Suey’ do System Of A Down, juntamente com clássicos como ‘Risk’ ou ‘Gumbagubanga’.
Lord of the Lost
Uma das atrações mais aguardadas do festival, o LOTL veio para provar que as fronteiras só existem para serem cruzadas, combinando elementos de metal, industrial, glam, rock e pop. Ao se reinventarem o visual e musicalmente, o grupo foi ganhando sucesso nacional e internacional de forma gradativa.
Com uma energia ao vivo desenfreada e muitos momentos emocionais, LOTL criou um vínculo emocional único entre a banda e os fãs que muitas vezes se assemelha mais a uma comunidade familiar, com um carinho imenso pela legião de seguidores que eles vêm conquistando em todas as partes do mundo.
Crescendo a passos largos, o grupo está numa turnê com muitas datas ao lado de ninguém menos do que Iron Maiden, além de estar presente nos principais festivais europeis.
No Amphi, o vocalista Chris Harms disse que era bom estar “em casa” novamente. Na performance da banda, vale a pena destacar o modelito “verão praiano” do tecladista Gared Dirge, que contava somente com uma espécie de elástico verde tampando algumas partes essenciais do corpo, traje este conhecido pelo personagem Borat. Hilário!
O público dançou e cantou cada momento de ‘Dry the rain’, ‘Loreley’, ‘Blood & Glitter’ e ‘Drag me To Hell’.
Actors
A apresentação da banda de rock pós-punk/gótico de Vancouver foi ansiosamente aguardada, já que Jason Corbett e companhia são um dos grupos mais promissores da cena e receberam grandes críticas por seus álbuns mais atuais.
E as expectativas não foram frustradas. O público conferiu alguns sucessos como ‘Strangers’, ‘Like Suicide’, ‘Face Meets Glass’ e ‘Bury Me’.
OMD
Fechando esta edição do festival, presenciamos a performance da lendária banda britânica Orchestral Maneuvers in the Dark (OMD), que desde o início dos anos 80 vem influenciando o mundo da música com sua mistura única de synthpop, new wave e sons eletrônicos.
Formado pelos amigos Andy McCluskey e Paul Humphreys em 1978, em Liverpool, o OMD produziu uma infinidade de sucessos, incluindo ‘Enola Gay’, ‘Souvenir’, ‘Electricity’ e ‘Maid of Orleans’, que se tornaram clássicos da música eletrônica e não faltaram na noite. Foi uma aposta assertiva para fechar o evento de 2023 de forma muito satisfatória.
2024 e a próxima edição
Ao fim do evento já foi anunciada a edição de 2024 com algumas bandas divulgadas. A pré-venda dos ingressos já está disponível e, novamente, como de costume, a produção divulgará outros nomes durante o decorrer deste ano.
Em resumo, o Amphi Festival é realmente uma experiência para lá de relevante, especial e inesquecível. Vivenciar um evento com artistas da cena obscura e alternativa mundiais às margens do Rio Reno numa cidade tão aconchegante foi uma dádiva.
Texto e fotos por: Edi Fortini/Hedflow