SonicBlast: o tesouro dos festivais de verão em Portugal


Regressamos ao SonicBlast, festival cada vez mais eleito como o nosso favorito no que diz respeito aos eventos do género durante o verão em Portugal, pois continuam a oferecer as melhores condições no que diz respeito à localização, cartaz, ambiente e público.

Situado ao lado da praia de Vila Praia de Âncora, o SonicBlast proporciona o ecossistema ideal para o usufruto de boa música em companhia de pessoas com boa onda e dedicadas à programação sugerida por uma organização competente e que se esforça em oferecer uma experiência positiva de “beach and riffs“.

Desta feita, estivemos presentes nos dois últimos dias. Fomos de coração cheio de um tempo bem passado num local onde nos sentimos em casa logo à chegada. Um momento para encontrar amigos e relaxar ao som de grandes bandas, degustando comidas frescas e a preços acessíveis.





Iniciamos a nossa jornada com Naxatras, banda de rock psicadélico grego que mistura um estilo progressivo com elementos de blues e hard rock, o que resulta muito bem. Seguiram-se os muito esperados Temple Fang, que nos levaram para uma incrível viagem alucinante onde a serenidade se encontrou com o sonho.

Os stoners Green Leaf transportaram-nos por belas paisagens sonoras liderados pela voz poderosa de Arvid Hallagard e pelos riffs excêntricos de Tommi Holappa (que viríamos a encontrar no dia seguinte noutro grande concerto dos Dozer).

Destacamos ainda o rock potente com tonalidades de punk hardcore dos Mondo Generator, um trio que originalmente foi um projecto a solo de Nick Oliveri (Kyuss e Queens of the Stone Age). Inclusive, o grupo presenteou-nos fechando o concerto eletrizante ao som de ‘You think I Ain’t Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire’.

Para agrado de uns e amargo de boca para outros, a edição deste ano do festival cunhou-se por explorar outras trilhas sonoras, não indo tanto ao doom (do qual se sentiu alguma falta na nossa opinião pessoal) e mais ao punk, ao étnico, ao indie.

Na hora do jantar assistimos à actuação mais world music dos Bombino, uma mescla de ritmos africanos, reggae e rock. A balançar os espíritos e a fazer mexer os pezinhos de muitos, a banda conseguiu aquecer a noite que se avizinhava bastante húmida.

Tipo estalo na cara, vimos os Scowl, projecto inconformista de hardcore punk comandados pela possuída Kat Moss. Imparável em palco, ela instaurou o caos na multidão que assistia, tornando-se um dos concertos mais aclamados do festival.

Numa nota bem diferente, foi a vez dos Thurston Moore Group ocuparem o espaço, encabeçado pelo próprio Thurston (ícone do rock alternativo e influenciador de muitos outros artistas). O vocalista olhava para as letras no seu suporte e aparentava vir dar-nos uma palestra sobre música, mostrando como brincar com as formas convencionais de fazer as coisas e experimentar com som e atmosferas, com o acústico e o electrónico.

Frankie and the Witch Fingers já tinham surpreendido o público na edição anterior. A banda regressou com o seu dinamismo contagiante de punk psicadélico levando a plateia ao rubro com as suas lendárias actuações. Numa uma energia contagiante, finalizaram o espetáculo com ‘I wanna be your Dog’, tema icónico dos Stooges.

A mestria dos Elder não deixou ninguém indiferente, atravessando as fronteiras porosas entre o prog e o metal, elevando sempre a sua música a novos níveis de complexidade, sem momentos aborrecidos. Uma verdadeira viagem que muda assim que nos acostumamos ao andamento, pois algo estava sempre a acontecer: o groove, os crescendos, os ritmos cambiantes, as texturas…

Terminamos a noite com os nacionais Black Bombaim, mas ainda houve tempo para Acid Mammoth, animando os mais resistentes ao cansaço e à chuva.






Estávamos expectantes com o terceiro dia do SonicBlast, pois a programação era variada e eclética (no que concerne aos estilos que iriam passar nos palcos). Iniciamos a nossa jornada com a performance curiosa dos estadunidenses Spirit Mother, cujo som psych-rock acompanhado por violinos destacaram-os imediatamente da matilha. Apesar de parecer um coletivo relativamente jovem, tocaram com a postura de quem já faz isto há muitos anos com temas bem escritos e que não deixaram a multidão indiferente.

Ver e escutar os Earthless é uma viagem que escolhemos fazer sem saber qual será o destino, e, apesar do cedo da hora, não houve desilusões. Os ritmos alucinantes que mudam do heavy metal para o heavy blues, passando pelo rock psicadélico, lavaram a alma dos que observavam maravilhados.

As lendas do post-punk A Place to Bury Strangers subiram ao palco e, de repente, parecia que se tinham aberto as portas para o inferno tal foi o caos instalado por este trio durante a sua performance. Guitarras voam e são partidas, mas continuam a ser tocadas. A baterista pega num timbalão e toca na frente do palco. Enquanto isso, a banda mergulha no mar de multidão para tocar entre o público que delira a cada minuto, pois o som é cru, errático e íntimo. Uma experiência quase xamânica onde o noise imperou.

Os gigantes de Louisiana Eyehategod também estavam de regresso ao SonicBlast. Mestres do sludge e com uma atitude punk bem rude, a postura em palco instigou o crowd surfing logo no início. Mike Williams pareceu bastante bem ao assumir os seus trejeitos em palco que ajudaram na ferocidade e na crueza da actuação.

Para cortar um pouco a rigidez do ambiente, enveredamos por diferentes caminhos em outro palco, molhando o pé novamente na world music com o projecto Imarhan, música tuareg com bastante ritmo e dinâmica. Foi um cheirinho de funk com uma pitada psicadélica.

E o que dizer da trip sonora dos psych-rockers The Black Angels? O grupo nos levou numa viagem imersiva e hipnótica auxiliada pelos filmes projetados na tela atrás da banda (daí os avisos para as pessoas sensíveis à entrada do recinto). Imagens caleidoscópicas, distorcidas, mas uma luz bem escolhida a estabelecer o mood, como que a transferir o foco nos membros da banda para a música em si. O feitiço não foi quebrado e deixamo-nos conduzir até nos perdermos na música.





O saudoso doom viria com os Church of Misery num concerto poderoso. A formação nipónica nos surpreendeu com a sua atitude, riffs sujos e distorcidos de brutalidade stoner. Esperamos que os visitem novamente (bem como a maior parte do lineup do cartaz).

Os Dozer, mais uma grande aposta do festival e grandes contribuidores do stoner rock europeu, encheram-nos as medidas no que diz respeito a um concerto que se tornou uma experiência imperdível.

A vivência xamânica dos Lunavieja nos aguardava do outro lado. A actuarem desta feita (e ainda bem) em modo noturno, o grupo impulsionou o dramatismo visual durante a sua performance. Levaram-nos às lendas antigas de bruxas e florestas, navegando entre o stoner, o doom e o psicadélico ao passar por histórias contadas em segredo.

Finalizamos o belo festival com El Altar del Holocausto, um projecto instrumental que mistura post-rock com metal. Cobriram-se de mistério pela particularidade de se vestirem com mantos brancos. Praticamente sem dialogar com os presentes, distribuíram temas com uma toada bastante poderosa.

Por fim, regressamos à casa com um sorriso nos lábios e com a promessa de continuar a voltar onde somos felizes. O Sonicblast é, com certeza, o “tesourinho” mais bem guardado de todos os festivais!




Um agradecimento caloroso ao Ricardo, à Telma, ao Yago e a toda a restante da equipa.

Fotos e texto por Helena Granjo

SonicBlast: o tesouro dos festivais de verão em Portugal