Começou na noite de ontem o massacre de palestinos em Rafah. Já devem ter dito isto milhares de vezes, mas, quando nos perguntamos como o Holocausto foi possível, foi assim. Quando Israel atacou o hospital de Al-Shifa, foi vendido como havendo túneis do Hamas para justificá-lo, os media aceitaram e aceitam a versão das IDF, com comentadores que se passeiam em iniciativas com o embaixador de Israel.
Nesta terça-feira (7), a ONU revelou valas comuns com cerca de 400 cadáveres no hospital, alguns de pessoal médico com as mãos atadas atrás das costas, outros enterrados vivos. Rafah é no sul da Palestina, para onde 1,5 milhões de pessoas foram aconselhadas a fugir no início do ataque. Agora, não há mais para onde fugir. Dos 35 mil mortos, mais de dois terços são mulheres e crianças.
Pela primeira vez na História, estamos a assistir a um genocídio em direto, através das redes sociais. A criminalização do protesto por parte das chamadas democracias ocidentais alarga-se. Israel bane a Al Jazeera, que operava no terreno, ainda que com grandes condicionamentos por parte de Israel. Dos cerca de 140 jornalistas que estavam em Gaza, sobram cerca de duas dezenas.
A autoridade moral do ocidente, se já era decrépita, morreu em Gaza. Não há explicação nem desculpas. Vivemos um tempo de rearrumação geopolítica e de equilíbrio das relações internacionais, com o fim de um império, que arrasta com ele a irrelevância da União Europeia e o perigoso fim da ONU como ponto de equilíbrio.
O império está a cair e, como todos, quando cai, cai com enormes custos. São essencialmente os palestinos que os estão a pagar. Já agora, se o rigor jornalístico morreu, pelo menos, por uma questão de humanidade, parem de falar neste genocídio como uma guerra Israel-Hamas. Não é e nunca foi.
Texto por Ricardo Meireles Santos