O Estado de Israel assassinou mais de 100 jornalistas em quatro meses


Hamza Al Dahdou. Salam Mema. Shima el-Gazzar. Mustafa Thuraya. Amal Zohd. Jabr Abu Hadrous. Mohamed Khaireddine. Ahmed Khaireddine.

Estes são os nomes de oito dos mais de 100 jornalistas assassinados por Israel na Faixa de Gaza e no Sul do Líbano nos últimos quatro meses. Mais de 50 edifícios de meios de comunicação social foram parcial ou totalmente destruídos pelas forças israelitas. Desde 1990 que não morriam tantos jornalistas numa única guerra, se assim lhe podemos chamar. O Estado colonial sionista matou mais de um jornalista por dia nos últimos quatro meses. Onde está a indignação internacional? É um muro de silêncio.

O Comité de Proteção de Jornalistas é claro: a escala e as circunstâncias das mortes, incluindo ameaças diretas a jornalistas e às suas famílias, são provas de que estão a ser intencionalmente visados. Resumindo, estão a ser assassinados. E os líderes do dito Ocidente, que enchem a boca com democracia e liberdade de imprensa sempre que podem, mantêm-se num gritante silêncio apoiando um genocídio. Quando dizemos “nunca mais”, é mesmo nunca mais. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, o silêncio é uma mentira.

Somos inundados pela propaganda de Israel. As fontes internacionais são sempre as mesmas, replicando a propaganda saída dos gabinetes de comunicação israelitas, criando uma narrativa única. A vingança contra um povo inteiro é justificada com mentiras e soundbites – como o já gasto ‘direito à autodefesa’. Quem as denuncia e desmascara pode sempre contar com a clássica acusação de antissemitismo. E os comentadores de sempre, que até há bem pouco tempo gritavam genocídio sobre a Ucrânia, têm medo de usar essa palavra sobre o que Israel está a fazer ao povo palestiniano. Sabemos bem a quem servem.

E muitos jornalistas por todo o mundo, consciente ou inconscientemente, relatam a narrativa única israelita como se fossem factos. Quando não o fazem, são pressionados e ameaçados com despedimentos. Se não se vergam, são despedidos. Dezenas de jornalistas já foram despedidos por todo o mundo por defenderem os direitos humanos. Israel apenas tem mentiras para tentar justificar o injustificável, os seus crimes de guerra e contra a humanidade.

Bem sabemos qual o verdadeiro objetivo dos líderes israelitas: concluir o projeto colonial sionista que se prolonga há décadas com o genocídio e expulsão de mais de dois milhões de palestinianos da Faixa de Gaza. Mais de 30 mil palestinianos foram assassinados até agora, dos quais mais de oito mil crianças, e os números deste desastre humanitário sobem todos os dias. Os Estados Unidos e o Reino Unido até bombardeiam o devastado Iémen para evitar qualquer disrupção do genocídio em curso.

O genocídio na Faixa de Gaza é o primeiro a ser transmitido em direto na televisão e nas redes sociais. Se hoje sabemos o que verdadeiramente está a acontecer, pondo em causa a propaganda que nos entra em casa, é por causa dos jornalistas palestinianos. Continuam a fazê-lo mesmo depois de perderem as suas famílias, de verem os seus camaradas de profissão serem impunemente assassinados, de verem os seus compatriotas despedaçados por bombas de fabrico norte-americano. Fazem-no sem saberem se estarão vivos no dia seguinte. Resistem heroicamente e rompem com o silêncio que lhes tentam impor.

Os jornalistas palestinianos têm sido o verdadeiro contraponto ao consenso fabricado que nos tentam impor. E por isso são assassinados por um Estado de apartheid que há décadas age à margem da lei internacional. Os políticos israelitas nem o tentam esconder, chegam até a dizer publicamente que os jornalistas são alvos legítimos. Houve até jornalistas portugueses a replicar cá esse discurso, uma vergonha. Mas as suas mentiras têm sido desmascaradas e o mundo está com os olhos bem abertos por causa dos jornalistas palestinianos. Eles incorporam o verdadeiro espírito do jornalismo: contam a verdade, que é sempre subversiva.

Peço um minuto de silêncio pelos mais de 100 jornalistas assassinados na Faixa de Gaza e em homenagem aos que todos os dias relatam os crimes que Israel comete. Incorporam o espírito do jornalismo e são verdadeiros heróis.

A Palestina será livre!

Discurso do jornalista português Ricardo Cabral Fernandes a 14 de janeiro de 2024, para assinalar os 100 dias de genocídio na Palestina.

O Estado de Israel assassinou mais de 100 jornalistas em quatro meses

Por
- Latino-americana, imigrante e jornalista. Twitter: @sttefanicosta