IDLES: seria a última banda politizada a encher festivais de verão?


O oposto do que as pessoas pensam de verdade. Essa frase resume bem o videoclipe para ‘Reigns’, do IDLES.

A nova faixa de Ultra Mono, álbum lançado no ano passado, revela um grande paradoxo da nossa sociedade. Amigos e familiares se divertem em frente à TV, comendo pipoca e rindo de maneira natural, enquanto animais se devoram durante um documentário a cerca da ‘natureza selvagem’.

“How does it feel to have shanked the working classes into dust?” (“Como você se sente ao transformar a classe trabalhadora em pó?”), questiona o refrão.

Sucessor de outros vídeos já lançados para o novo trabalho em estúdio, como Kill Them With Kindness, CarcinogenicouGrounds, os britânicos mais uma vez reforçaram diversas questões quanto às injustiças sociais, algo característico de bandas que se aproximam do punk mesmo quando preferem não receber determinados ‘rótulos’.

A brilhante ideia de misturar noise e consciência social não seria novidade se, para muitas pessoas, alguns problemas complexos, porém óbvios, não continuassem a ser ignorados.

Em ‘Ne Touche Pas Mo’, por exemplo, o quinteto de Bristol faz uma abordagem a respeito da liberdade das mulheres e da exploração de seus corpos em uma sociedade construída sob a ideia do patriarcado: “Cause my body is my body / And it belongs to nobody but me” (“Porque meu corpo é meu corpo / E não pertence a ninguém além de mim“).




Seria talvez a última banda politizada a encher festivais de verão?

Aos que acompanham o IDLES desde o início, já perceberam que a política britânica está fortemente presente em suas composições. Em 2017, o vocalista Joe Talbot escreveu em ‘Mother’ (canção de Brutalism, o primeiro trampo em estúdio): “The best way to scare a Tory is to read and get rich” (“A melhor maneira de assustar um conservador é ler e ficar rico”).

Já em 2018, em ‘G.R.E.A.T’ (música do álbum Joy as an Act of Resistance), a banda faz uma crítica feroz ao Brexit (que ocasionou a saída do Reino Unido da União Europeia), processo apoiado e incentivado por representantes e políticos de extrema-direita. E claro, não podemos deixar de mencionar a canção ‘Danny Nedelko’, uma denuncia à xenofobia contra imigrantes.

Só na primeira semana de lançamento de Ultra Mono, o terceiro disco do IDLES encabeçou algumas listas de álbuns mais vendidos em todo o Reino Unido, sendo, até o momento, o melhor desempenho do grupo em território britânico.

E agora, depois de ouvi-lo e digeri-lo, ficou evidente que, além de tocar nas feridas da sociedade, Ultra Mono é também sobre os nossos conflitos internos, principalmente em um momento pandêmico e de isolamento social.

Podemos dizer que foi a “oportunidade perfeita” para lançar um projeto que propõe ao indivíduo uma reflexão a respeito de suas ações cotidianas e se realmente estamos construindo um caminho efetivo para uma transformação coletiva.




Foto em destaque por Ebru Yildiz

IDLES: seria a última banda politizada a encher festivais de verão?

Por
- Latino-americana, imigrante e jornalista. Twitter: @sttefanicosta