Maglore, a banda que vem para nos lembrar que a vida é uma aventura


Você já deve ter escutado por aí que o rock está morto, ou que no Brasil não se faz músicas boas como antigamente. Bobagem, meu amigo!

Temos muitos artistas da nova geração entregando canções de qualidade e com trabalhos que borbulham criatividade. Seguindo essa linha, posso citar sem medo de errar, o álbum V, da Maglore. E caso você ainda não conheça a banda, vou fazer uma breve apresentação.

Eles já contam com 14 anos de estrada. Os membros são: Teago Oliveira (voz e guitarras), Lucas Gonçalves (voz e baixo), Lelo Brandão (teclado e guitarras) e Felipe Dieder (bateria). Especificamente nesse último disco, é possível perceber influências de artistas como George Harrison, Beatles e Rolling Stones, misturado num caldo de ritmos brasileiros.

Uma característica marcante da Maglore é sua habilidade em contar histórias por meio da música. Nos trabalhos anteriores, foram poucas as composições com teor de protesto, se posso chamar assim. Isso mudou no álbum V, onde duas canções são bem diretas quanto ao assunto. ‘Eles’, escrita por Teago Oliveira, retrata a situação que o Brasil estava passando antes das eleições de 2022. Falamos sobre o clipe dessa faixa aqui, e a letra vai direto ao ponto: 

Eles / Se dividiram em partes aos milhões / Exterminaram raças e nações / Subverteram altas equações da natureza / Eles / Eles não tem chance, não / Eles não entendem o que são

O momento era de tensão absurda no país. Com ameaças de golpe, a democracia parecia estar por um fio. Ouvindo a letra otimista diante da realidade dura em que vivíamos, era possível respirar e voltar a ter esperança enquanto o momento da decisão nas urnas não chegava.


Foto por Barbara Almeida




Outra composição com teor político é ‘Maio, 1968’, de autoria do baixista Lucas Gonçalves, que além de ser dedicada à sua mãe, também aborda o ano que ficou conhecido como aquele que “que não terminou” devido aos acontecimentos históricos registrados naquela época:

Um astronauta mira a Lua e imagina a própria fuga / Enquanto o Papa VI perde a paz / Pois já havia a Guerra Fria, a primavera / A ditadura e os novos atos institucionais / E mais / O ano que não teve fim levou da luta Luther King / E outros companheiros tão leais / A Terra em terremoto, vide a foto nos jornais / As cores do yellow submarine

É quase uma aula de história. Se pensarmos na música como uma ferramenta para manter a memória viva, é muito importante que composições nesse estilo continuem sendo feitas.

Outro ponto interessante, é observar que o grupo conquistou um público leal que compreende e apoia seu estilo. No V, os músicos experimentam propostas diferentes. Num papo com Teago Oliveira, ele comentou que as pessoas ficam sem saber se eles são uma banda de rock ou de MPB. Do que se trata? Se trata de uma banda sem amarras.

Nesse último lançamento, ‘Eles’ evoca o rock dos Rolling Stones em ‘Sympathy For The Devil’, e no mesmo disco ouvimos canções suaves, bem bossa nova, como ‘Amor Antigo’ e ‘Para Gil e Donato’. Essa última é uma clara homenagem a Gilberto e Gil e João Donato (artista de extrema importância para nossa cultura, que faleceu aos 88 anos em julho deste ano), compositor da canção ‘A Paz’ em parceria com o músico.

Contando com 13 faixas, o álbum de estúdio experimenta a MPB, a bossa nova, a psicodelia e o rock. A música que abre o disco o é ‘A Vida É Uma Aventura’, que começa lenta e vai ganhando um ritmo dançante. A letra fala de um caminho sofrido, que é o caminho de viver, mas mesmo assim consegue ser alegre, o que me faz pensar em Chico Buarque, um compositor que sabe fazer isso como ninguém.


Foto por Barbara Almeida




Pensando que o disco foi criando forma durante o período em que ainda estávamos sob as incertezas da pandemia, e num contexto político opressor, o que manteve tudo funcionando foi a conexão com os próprios fãs. E durante um show dessa turnê, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, realizado no dia 24 de setembro, Teago declarou:

“Há pessoas que estavam aqui há 10 anos e ainda estão presentes, alguns com seus filhos. Acredito que nada pode superar essa experiência na vida. Acho extremamente bonito o que construímos juntos. E isso é o que a música, faz você se sentir bem. João Donato e Gilberto Gil são exemplos disso. É sobre parceria. Se não tivéssemos vindo aqui, Luquinhas talvez nunca nos conhecesse. A música é diversão e também oferece um pouco de alegria em meio às dificuldades da vida, não é mesmo? Estamos repletos de sentimentos agora, então vou encerrar antes que as lágrimas rolem.”

No perfil do Instagram, o vocalista acabou fazendo um “faixa a faixa”, contando mais a respeito do processo de criação e inspiração das músicas. Você pode conferir lá. Lembrando que a Maglore continua em turnê.

Maglore, a banda que vem para nos lembrar que a vida é uma aventura

Por
- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas