Otto canta Reginaldo Rossi e deixa uma lição de amor e afeto


É noite de sexta-feira 13, a mesma noite do show As Quatro Estações, onde Otto canta as músicas de Reginaldo Rossi, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. O concerto estreou em maio deste ano, e é a minha primeira vez vendo o músico no palco – cada momento merece a minha máxima atenção.

O dia anterior foi o de Nossa Senhora Aparecida, também conhecido como o Dia das Crianças, e a emenda do feriado talvez pudesse resultar em um teatro com muitos lugares vazios. No entanto, a casa estava cheia.

O cenário foi assinado pelo artista Derlon. Em seu site, ele descreve sua proposta como “Respirar a simplicidade. Criar vínculos de afeto, elaborar cruzamentos, ser leve.” Essa sugestão foi claramente refletida nas figuras que decoravam o palco. Reginaldo Rossi estava ali, com óculos de lentes douradas, a mão no coração e um sorriso sincero, uma representação perfeita.

Com a banda completa, Otto foi recebido com entusiasmo e aplausos calorosos – o músico irradiava uma energia jovial que parece destinada a acompanhá-lo mesmo quando atingir a velhice.

A plateia era composta por pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos de cabelos brancos, todos cantando em alto e bom som, com sorrisos estampados em seus rostos.

Otto honrou a memória de Reginaldo Rossi, cantor e compositor que ficou conhecido como o ‘Rei do Brega’, e que morreu aos 69 anos, em 2013. Quase 10 anos depois da despedida, não foi por acaso que o artista responsável pelo cenário incluiu em sua página as palavras “criar vínculos de afeto”. Ficou claro que o show é uma declaração de amor não apenas ao seu amigo e ídolo pernambucano, mas também à cidade de Recife.

Coincidentemente, no dia anterior, assisti ao filme de Kleber Mendonça Filho, Retratos Fantasmas, que trata do amor pela cidade e seus personagens. O diretor repete duas vezes a frase “Eu amo o centro de Recife”, e explica “A gente tem que falar quando gosta de alguém”. Otto expressa seu amor através das canções de seu grande amigo, o genial artista da cultura brasileira, Reginaldo Rossi.

Enquanto manifesta esse amor, o cantor afirma: “Reginaldo Rossi não era apenas Brega, ele era rock, Beatles, The Silver Jets, música francesa, Jovem Guarda. Eu amo o Brega, mas ele era muito mais!”




O artista também lembrou um problema grave que persiste em todo o Brasil, a violência contra as mulheres. No passado, homens acreditavam que tinham o direito de tirar a vida de suas companheiras sob a alegação de “defesa da honra” em casos de suposta traição.

Em agosto deste ano, o STF proibiu o uso da tese de legítima defesa da honra em casos de feminicídio. Otto lembrou que em 1968, Reginaldo Rossi brincava com o rótulo de “corno”, trazendo leveza e humor à questão, sugerindo que os homens podiam expressar suas emoções e desabafar em vez de recorrer à violência. Otto disse de forma bem-humorada: “Só é corno quem merece.”

É importante acreditar que a leveza de Reginaldo Rossi tenha sensibilizado alguns homens. Pessoas não são propriedades.

Ao cantar ‘Recife, Minha Cidade’, o músico demonstrou estar emocionado e declarou: “Respeito é a única coisa que a gente deve ter pelo outro. As pessoas têm o direito de amar quem quiserem, como quiserem. É uma questão de respeito.”

Essa afirmação ocorre na mesma semana em que a Comissão da Câmara aprovou um projeto de lei que proíbe o casamento homoafetivo no Brasil. O projeto ainda passará por outras duas comissões.

Durante a performance, Otto interagiu com o público, circulou entre os assentos, retornou ao palco, conversou e demonstrou carinho por cada pessoa presente, seja membro da equipe ou um fã que o assistia. Seus olhos percorreram todos os cantos do teatro.

No final, um rapaz presenteou Otto com uma camisa estampada com a bandeira de Pernambuco. Otto a vestiu e brincou: “Até a bandeira de Pernambuco é flex.” Ao se despedir, ele destacou: “Hoje é sexta-feira 13, um número que salvou este país, o número que salvou nossa democracia.”

Uma criança correu ao palco e se despediu dos artistas como se fizesse parte da performance, o que, de alguma forma, é verdade. O futuro segue como um rio!





Setlist

Um Romance Que Ninguém Leu
Leviana
Eu Devia Te Odiar
Quando Você Foi Embora
Ai Amor
Em Plena Lua de Mel
Desterro
A Raposa e As Uvas
Pedaço de Mau Caminho
Teu Olhar, Teu Andar
Garçon
As Quatro Estações
Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme
Amor, Amor, Amor
Itamaracá
Recife Minha Cidade

Bis:

Pra ser só minha mulher
Deixa de Banca (le Cornichons)

Foto em destaque por Flávio Charchar
Edição por Stefani Costa

Otto canta Reginaldo Rossi e deixa uma lição de amor e afeto

Por
- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas