Variedade musical e encontro de gerações marcam a 13ª edição do Balaclava Fest 

O Balaclava Fest, um dos eventos mais queridos pelos aficionados da música alternativa, retornou à cena no último domingo (19), fazendo novamente a alegria dos indies paulistanos. Mais uma vez, a Tokio Marine Hall, casa de espetáculos com capacidade para 4.000 pessoas situada em Santo Amaro, bairro da zona sul da capital paulista, foi o local escolhido para sediar a festa.

A edição de 2023 se destacou por sua diversidade no lineup, trazendo bandas de estilos e épocas variadas. Entre elas, estavam Unknown Mortal Orchestra com seu pop psicodélico; American Football, um dos maiores representantes do midwest emo; o criativo grupo soul/indie-pop Whitney e Thus Love, aclamado como uma das principais revelações da cena noise/punk rock estadunidense. Além disso, o evento também contou com presença da talentosa cantora australiana Hatchie com seu dream pop/shoegaze psicodélico, o inovador PVA trazendo uma nova roupagem ao post punk eletrônico, e os representantes nacionais terraplana e Shower Curtain, que fazem parte do casting da Balaclava Records. 

Histórico

O Balaclava Festival teve um início modesto em 2015, tendo como palco o Centro Cultural São Paulo (CCSP), onde o músico Mac McCaughan e a banda The Shivas encabeçaram o line up inaugural.

A receptividade calorosa do público alternativo impulsionou rapidamente o evento, levando-o a crescer em popularidade e a expandir-se para clubes de médio porte, como a Audio e o já extinto Tropical Butantã. Em quase uma década na cena independente, o festival abrigou shows de diversas bandas renomadas da música alternativa nacional e internacional, entre elas: Terno Rei, Boogarins, Slowdive, Mac DeMarco, Warpaint, Future Islands, Crumb, Fleet Foxes, Ride e muitos mais.

Experiência geral e shows

Pontualmente, às 15h, a casa abriu para o público geral. Nos primeiros momentos do evento, os fãs puderam conferir a belíssima decoração preparada especialmente para a celebração. Os corredores da Tokio Marine Hall foram adornados com totens com o logo da Balaclava Records, além de barracas de comida e áreas dedicadas a merchandising exclusivo das bandas do lineup. Além disso, atividades interativas, como uma cabine de fotos polaroid, estavam à disposição dos presentes. A atmosfera pulsante indicava a alta expectativa para o evento, refletida na presença maciça de centenas de pessoas que lotaram o espaço logo nos primeiros minutos da festa.

Por volta das 15h40, terraplana e Shower Curtain, únicos representantes nacionais no lineup do Balaclava Festival 2023, iniciaram a sessão de música ao vivo do evento com uma apresentação intimista no hall de entrada do clube. Apesar de ser apenas a abertura da gig, o pocket show contou com uma excelente cenografia, com jogos de luzes e efeitos caprichados no telão de LED. Durante o set, ambas as bandas apresentaram suas canções, mas o grande destaque foi a execução de ‘meus passos’, single lançado em conjunto recentemente nas plataformas de streaming e no YouTube.


Ainda no palco secundário, o trio londrino post punk/electro PVA deu continuidade ao espetáculo. O show começou com uma extensa introdução de sintetizadores, liderada pelo tecladista Josh Baxter. Em seguida, Ella Harris (vocal) e Louis Satchell (bateria) se juntaram ao músico no palco para apresentar as faixas do elogiado disco ‘Blush‘, lançado em 2022, como ‘Kim’, ‘Hero Man’, ‘Seven’, além dos marcantes singles ‘Talks‘ e ‘Divine Intervention‘, que impulsionaram a popularidade da banda durante os primeiros anos de carreira, quando sequer contava com um EP no “portfólio”. Destaque para a performance de Ella, que dançou sem parar e soltou berros guturais assustadores em alguns trechos de suas canções, conquistando o respeito e a atenção dos presentes, apesar do desconhecimento de boa parte do público.


Fotos


Após a barulheira experimental dos ingleses, o Whitney, conjunto que mistura soul, indie e música pop, assumiu a responsabilidade de inaugurar as apresentações do palco principal no Balaclava Fest 2023. A banda encantou o público com seu som rico em detalhes e capricho, variando entre tons de R & B, forte presença de violões acústicos e bateria com batidas simples, mas extremamente agradáveis. Apesar de terem lançado recentemente o novo disco ‘Spark‘, apenas a faixa ‘Nothing Remains’ entrou no repertório.



O set foi praticamente composto por canções dos excelentes discos ‘Light Upon the Lake’ e ‘Forever Turned Around’, como os hits ‘Used to Be Lonely’, ‘Golden Days’ e ‘No Woman’. Além disso, a apresentação contou com uma dinâmica de cenário muito precisa, com a bateria de Julien Ehrlich posicionada ao centro do palco, permitindo maior protagonismo ao frontman.

Setlist

No Matter Where We Go
Giving Up
BLUE
Dave’s Song
Golden Days
Polly
Kansas
Friend of Mine
Nothing Remains
Used to Be Lonely
Valleys (My Love)
No Woman

Fotos


No palco secundário, a cantora australiana Hatchie conquistou os presentes com sua belíssima voz e habilidades no contrabaixo. Com um som voltado ao dream pop, a moça logo de cara anunciou que iria tocar o máximo de músicas possíveis e cumpriu sua palavra, apresentando um set sem pausa com 9 músicas.

Para enfeitar as execuções de faixas como ‘Thinking Of’, ‘Sugar & Spice’ e ‘Obsessed‘, a produção destacou uma incrível arte psicodélica nostálgica, que curiosamente continha referências ao logo da linguagem de programação PHP e outras figuras que marcaram o início da internet nos anos 90.


A jovem ainda presenteou os fãs paulistanos com ‘This Enchanted’, seu último single, que foi muito bem recebido pela pista, que até acompanhou a letra durante o refrão. Um excelente show em qualidade estética e visual, que poderia muito bem ter sido posicionado no palco principal.

Setlist

Thinking Of
Sugar & Spice
Try
Her Own Heart
This Enchanted
Obsessed
Sure
Lights On
Quicksand

Fotos


Retornando ao palco principal, finalmente veio um dos momentos mais aguardados do evento: o set do American Football, um dos nomes mais emblemáticos do midwest emo noventista. A apresentação começou pontualmente às 19h15 sob os riffs dedilhados de ‘Stay Home’, levando a pista completamente lotada à loucura e com todos os presentes cantando a plenos pulmões. Na sequência, surgiu uma perfeita combinação da faixa instrumental ‘The One With the Wurlitzer’, do clássico álbum homônimo de 1999, com ‘I Can’t Feel’, que funcionou muito bem ao vivo devido à forte presença de xilofone.

No meio do set, a banda dedicou um bloco para visitar alguns sucessos mais recentes que foram lançados após seu retorno, em 2014, como a belíssima ‘Uncomfortably Numb’, que conta com a participação de Hayley Williams, vocalista do Paramore, e o single ‘My Instincts Are the Enemy’, que impressiona por seu belíssimo videoclipe. Neste momento, os fãs também acompanharam com pleno entusiasmo.



Para a felicidade dos seguidores mais fervorosos do clássico grupo ‘real emo’, o repertório também contou com algumas canções b-sides, como ‘Give Me the Gun’ e ‘Home Is Where the Haunt Is’. A parte regular do setlist foi encerrada com ‘Honestly?’, uma das canções mais marcantes do primeiro disco.

Depois de uma breve pausa, o conjunto retornou ao palco, e, em um dos poucos momentos de interação com o público, o vocalista Mike brincou dizendo que ‘se um dia vocês forem para Chicago, podem ficar na minha casa’, e também zombou afirmando que iria tocar uma música do Sepultura. Após o momento humorado, o show seguiu com uma fusão da instrumental ‘Home Is Where the Haunt Is’ com ‘I’ll See You When We’re Both Not So Emotional’.

Para finalizar uma hora e meia de pura emoção e nostalgia, veio o ápice do set: o emblemático riff inicial do ‘hino’ emo ‘Never Meant’. Durante a execução da música, foi possível notar um mix de reações: enquanto alguns reuniam as últimas forças para cantar palavra por palavra da composição que narra perfeitamente o término de um relacionamento amoroso, muitos simplesmente desabaram em lágrimas. Mesmo depois do término da faixa, quando os integrantes já haviam saído do palco, muitos se despediram do hall principal da casa ‘simulando’ os sons das notas do riff que introduz a canção, gerando uma cena memorável.

O set do American Football contou com algumas falhas, como a quase total falta de interação de Mike Kinsella e companhia, além do excesso de fumaça do palco e baixa iluminação, que comprometeu a visibilidade dos integrantes em ação para o público que acompanha o show em certos pontos da casa. Ainda assim, foi uma grande honra conferir a lendária banda ao vivo.

Setlist

Stay Home
The One With the Wurlitzer
I Can’t Feel You
Silhouettes
Uncomfortably Numb
Heir Apparent
My Instincts Are the Enemy
Trumpet Solo
Every Wave to Ever Rise
Give Me the Gun
I Need a Drink (or Two or Three)
Home Is Where the Haunt Is
Honestly?

Bis:

You Know I Should Be Leaving Soon
I’ll See You When We’re Both Not So Emotional
Never Meant

Fotos


Após a emocionante apresentação do American Football, coube ao Thus Love, banda mais ‘pesada’ do line-up, manter os presentes animados e encerrar o palco secundário.

Tocando o disco ‘Memorial‘, lançado em 2022, praticamente na íntegra, o trio mandou uma performance visceral, com variações de diversos estilos do rock, desde explosões de solos de guitarra barulhentos até linhas de baixo pegajosas, com fortes influências de Joy Division. Enriquecendo a experiência geral, eles trouxeram as cores de volta ao evento, com o palco iluminado por explosões coloridas no telão de LED e canhões de flashes intensos.



Em um dos momentos mais legais do show, a vocalista Echo Mars agradeceu a todos os presentes, incluindo faxineiros, seguranças e atendentes dos bares, recebendo uma verdadeira salva de palmas pelo exemplo de respeito.

Setlist

On the Floor
Anathema
Family Man
Inamorato
House On a Hill
Losing a Friend
Friend
Put On Dog
Lost In Translation
Centerfield
Repetitioner

Fotos


Unknown Mortal Orchestra encerrou o Balaclava Fest 2023 com um show no palco principal. Apesar de ser a atração headliner, o grupo neozelandês teve uma plateia menor do que o esperado, o que evidenciou que o American Football, que se apresentou antes, era a atração mais esperada da festa.

Ainda assim, a banda fez um show animado, com um setlist longo, com nada menos do que 17 músicas, todas com ritmo dançante, que colocaram os fãs para dançar em plena noite de domingo.



Entre os destaque, vale mencionar a habilidade do conjunto em misturas diversas passagens de diferentes estilos em seu som, como ficou exposto em ‘From The Sun’, que conta com riffs de guitarra em estilo math rock; ‘Waves of Confidence’, que é preenchida por arranjos de sintetizadores e ‘So Good at Being in Trouble’, que mergulha no reggae. O set contou também com maior interação com a plateia. Em ‘The Opposite of Afternoon’, o frontman Ruban Nielson foi à pista e circulou todo o espaço com sua guitarra, causando uma emblemática cena de interação ‘público/artista’.

Setlist

The Garden
From the Sun
Swim and Sleep (Like a Shark)
The Opposite of Afternoon
Thought Ballune
Little Blu House
Necessary Evil / Monki / Necessary Evil
In the Rear View
Ministry of Alienation
Waves of Confidence
Nadja
So Good at Being in Trouble
Layla
Multi-Love

Bis:

Weekend Run
Meshuggah
That Life
Hunnybee
Can’t Keep Checking My Phone

Fotos





Em sua 13ª edição, o Balaclava Festival reafirmou seu compromisso com a música ao apresentar um line-up de peso, com grandes shows de bandas consagradas e emergentes, além de atividades interativas que proporcionaram uma experiência completa aos participantes. A excelente infraestrutura do evento também contribuiu para o seu sucesso, garantindo conforto e segurança a todos. Que a festa continue em 2024!

Texto: Guilherme Góes

Fotos: Vanessa Souza (@muito.amor)

Variedade musical e encontro de gerações marcam a 13ª edição do Balaclava Fest 

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.