Câmara Escura: a revelação de Lucas Gonçalves na música brasileira; assista à entrevista

Há uma nova e vibrante geração de músicos no Brasil que está trazendo um frescor para a nossa cultura, carregando vestígios das gerações anteriores que construíram os alicerces da Música Popular Brasileira.

Enquanto não posso predizer o futuro, consigo, pelo menos, compartilhar um vislumbre do que está acontecendo no cenário musical atual. E vou me valer do que disse o jornalista Marcus Preto em entrevista à revista Cult: “A música brasileira tem que ser pop, tem que chegar às pessoas por todos os meios possíveis.”

A alma da MPB renovada

Um desses talentos em ascensão é Lucas Gonçalves, um paulista de coração mineiro. Lucas lançou seu terceiro álbum solo, Câmara Escura, em outubro de 2023, seguindo os lançamentos anteriores Verona, em 2021, e Se Chover, em 2020.

Vale mencionar que ele também é baixista da banda Maglore e membro da Vitreaux, onde ocupa o posto de vocalista. No entanto, vamos nos concentrar em Câmara Escura. O músico passeia entre o folk sempre acrescentando elementos de outros gêneros, como a música caipira brasileira.

A busca pela autenticidade na música

O que significa ser diferente senão ser autêntico? Mergulhei neste novo álbum enquanto seguia o trânsito da Marginal Pinheiros, em São Paulo. Também o ouvi antes de dormir e enquanto escrevia.

É bom sinalizar aos usuários de serviços de streaming: a ordem das faixas em um álbum é cuidadosamente escolhida, como se fosse contar uma história, com começo, meio e fim. O modo aleatório tira um pouco desse gosto. Tentei me aproximar da história que Lucas conta nas 14 faixas do disco.

A imagem de “Câmara Escura”

A capa do disco apresenta uma imagem do vocalista segurando uma câmera analógica, como se estivesse prestes a capturar uma foto de alguém do outro lado, talvez de quem esteja ouvindo o álbum. Essa imagem emana uma sensação de melancolia, um sentimento que ressurge em algumas canções. E me faz lembrar do mineiro Carlos Drummond de Andrade. Acho válido deixar o poema aqui:

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

A originalidade de Lucas Gonçalves

Em Câmara Escura, Lucas Gonçalves consegue romper com o hábito que algumas pessoas têm de buscar influências óbvias, como se uma composição fosse sempre um reflexo de outra. Embora as influências estejam presentes, elas são muito sutis. Essa autenticidade talvez surja da postura vulnerável do compositor, pois suas letras refletem emoções genuínas e ideias que talvez apareçam no silêncio da madrugada.

Se precisássemos buscar pontos de referência, eu ousaria mencionar semelhanças com Guilherme Arantes, que de certa forma me fez pensar que Lucas talvez ele seja uma dessas pessoas que realmente ouve o que uma canção têm a dizer. Além disso, sua capacidade de compor sobre as dores humanas me recorda Nick Cave, que é mestre nesse campo, criando canções que exploram as profundezas da experiência humana de maneira magnífica.

O vocalista revelou que tem se inspirado em Neil Young e na cantora Cassandra Jenkins. A coincidência entre esses artistas vai além de gêneros musicais, é a exposição da alma, é colocar na música o que fere o coração, o desejo humano. É a vulnerabilidade.

O músico também contou com a parceria de sua companheira, Carime Elmor, nas cações ‘Casacaia’ e ‘Câmara Escura’.

A ‘Câmara Escura’ e a reflexão artística

Câmara Escura é um lugar para revelar fotografias. No nosso mundo digital, talvez essa atividade tenha ficado cada vez mais rara. E pensar nesse local me remete ao silêncio, e, no silêncio, é possível enxergar melhor. Esse espaço, onde a cor toma forma em imagens que serão eternizadas, também é um sítio de paciência e observação, de agir com delicadeza. E todas essas características estão presentes nesse disco. O que me fez lembrar de algo que Rodrigo Amarante disse em uma entrevista a Charles Gavin para o podcast  O Som do Vinil: “A pressa não está com nada.”

Lucas Gonçalves: o observador da vida

Como compositor, Lucas se revela como um observador em primeira e terceira pessoa. Ele presta atenção nas pessoas, na vida que acontece lá fora, na passagem do tempo, nos sentimentos dele e dos outros. Pessoas e lugares são seus personagens principais.

Câmara Escura é uma janela para a autenticidade e Lucas Gonçalves está moldando o seu próprio caminho na MPB. E para me aprofundar neste álbum tão bonito, ainda mais em dias de mísseis, conversei com o criador da obra na entrevista disponível no canal da Hedflow.




Foto em destaque por Davi Guedes

Câmara Escura: a revelação de Lucas Gonçalves na música brasileira; assista à entrevista

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas