Santa Jam Vó Alberta: a música pode salvar o Mundo?

Me desculpe pelo pessimismo, mas sim, o mundo vai acabar.

O que vem depois, eu não sei.
O que você gostaria de fazer antes que tudo vire lenda? Tem um filme que fala sobre isso, chama-se ‘Procura-se Um Amigo Para O Fim do Mundo’ (considere a dica).

Enfim, voltando ao tópico principal, estou observando o Apocalipse, mas sem deixar de experimentar pequenas e poderosas doses de felicidade.

Na noite de 21 de Janeiro de 2022, a Santa Jam Vó Alberta se apresentou no Bona, uma casa de música que fica em Pinheiros, bairro de São Paulo. O show começou às 21h, mesmo horário que saí de casa. Mais uma vez, eu estava atrasada.

Entrei no salão embalada pela música da banda, que já estava tocando há um tempo. Me sentei num lugar meio escondido. Éramos eu e mais três cadeiras em volta da mesa.

No pequeno palco, as luzes quentes e bonitas iluminavam Matheus Cassimiro, Pedro Cury, Ivan Staicov, Eudes Santos, Pedro Marini e Danilo Ruiz, deixando todas as outras pessoas, que estavam sentadas no salão, cobertas por uma sombra acolhedora.

Dizem que a música é uma linguagem universal, mas acho difícil exprimir como ela conversa com cada pessoa.

Tenho acompanhado a Santa Jam desde 2018. Posso dizer como a música deles conversa comigo. Ao ouvi-los, esqueço julgamentos, consigo ser eu mesma e começo a dançar. Os movimentos vão se soltando dos pés aos ombros, meu corpo absorve o ritmo da música. Gosto de chamar essa sensação de Alegria. Esse foi o sentimento que tive quando os vi tocando pela primeira vez e que permanece até hoje.




Como fã e espectadora, tenho assistido a evolução do grupo, principalmente no que diz respeito ao comprometimento com a boa música. Uma frase famosa diz, “we are all works in progress”, em português, seria algo como, “todos nós somos trabalhos em progresso.” A banda que eu conheci há 4 anos divertia muito fazendo versões de clássicos como ‘Take Me Home, Country Roads‘, um sucesso de John Denver, até ‘Anunciação‘, o hino de Alceu Valença, e eles continuam fazendo isso até hoje. E o fazem muito bem.

Mas algo mudou.

Entenderam que podem dar à luz novas músicas e assinar embaixo como Santa Jam Vó Alberta, através da canção dançante ‘Pelo Olho do Boi’, que me dá uma lembrança das composições destemidas de Arnaldo Antunes, mas essa é do Ivan [Staicov].

Os últimos lançamentos do grupo foram o EP Guard Rail, de 2019, e o álbum ao vivo Música na Fonte, de 2021.

Hoje, o microfone na mão de cada membro da banda é um protagonista, uma ferramenta para fazer ecoar novos pensamentos, contar a história da música como de fato aconteceu; uma história que, por pouco, ‘passou em branco’. Como a do Blues e do Jazz, que Matheus Cassimiro ratifica com orgulho: “foi feito por pretos”. Sem esquecer dessa mensagem ao ver a banda tocando uma linda versão de ‘Make Me a Pallet On Your Floor’, e na mesma noite ouvir nomes de grandes referências como Wynton Marsalis. Vai além da canção. Eles cantam a História.

A apresentação foi encerrada com pedido de bis. Já com os instrumentos desligados, a Santa Jam Vó Alberta tocou e cantou junto com o público ‘Sobradinho’, de Sá e Guarabyra. A escolha não foi aleatória. Antes de iniciarem, eles disseram que dedicavam a música para todas as pessoas que estão sofrendo com os alagamentos e desastres tão pouco naturais, (já que são consequências de uma devastação capitalista, ao meu ver) nas cidades de Minas Gerais e Bahia. É uma banda que ama o Brasil.

Ivan Staicov, que tem uma voz potente, aproveitou para despertar cada pessoa que estava sentada. Nós podemos ser as pequenas mudanças, e eles já perceberam o potencial que a música tem para dar esse empurrão. E posso dizer que a Santa Jam Vó Alberta faz música para emocionar até um coração cansado, vivendo num apocalíptico mundo em seu terceiro ano de pandemia.

Santa jam Vó Alberta – Foto por Nadja Kouchi




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Foto em destaque por Lucas Kappaz

Santa Jam Vó Alberta: a música pode salvar o Mundo?

Por
- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas