Perfil Clandestino: Jorge Filho recorre à poesia como forma de resistência em seu primeiro livro


Em tempos de intensificação de ataques aos direitos dos trabalhadores, com a divisão da classe proletária e de guerras e outras barbaridades promovidas pela crise do capitalismo, a escrita se fortalece como forma de resistência e luta.

E foi com a ideia de que sem poesia e luta, a vida perde o sentido, que Jorge Filho começou a colocar no papel poemas que falam de temas como amor e ódio, mas também expõem problemas políticos e sociais emergentes e fazem coro aos gritos de gente invisibilizada, racializada e violentada pelo patriarcado, pelo liberalismo e pelo capitalismo.

Reunidos, estes poemas formam o livro Perfil Clandestino, sua primeira obra, publicada pela Kotter Portugal. O lançamento será no dia 4 de agosto, às 19h, no Samambaia – Bar d’A Voz do Operário, e contará com a exposição de ilustrações feitas pelo artista Theo Azevedo, a apresentação do livro pelo autor e pelo editor Marcos Pamplona conduzida pela jornalista Stefani Costa, além da interpretação musicada de alguns poemas pelo músico Fernando Araújo.

“A escrita mais do que nunca tornou-se uma ferramenta de militância, numa forma íntima de resistência, afronta e libertação de pensamentos oprimidos pelo sistema político do capital. No livro Perfil Clandestino, publicado com o apoio da editora Kotter Portugal e com a sensibilidade do amigo e editor, Marcos Pamplona, reúno poemas com temáticas que podem se referir à vida de qualquer trabalhador/a brasileiro/a, imigrante, que carrega em si os sabores e dissabores da luta pela sobrevivência em um mundo adoecido”, afirma o autor.




Nascido na cidade de São Paulo, Jorge Filho é ator por formação e “corinthiano por defeito de fábrica”. Mudou-se para Portugal em 2017, e, desde 2021 é militante pelo PCP – Partido Comunista Português. Oriundo de uma família de classe média/baixa, foi com o passar dos anos, com a própria realidade material e com o entendimento da literatura marxista, que desprendeu-se das garras e ilusões do capitalismo e compreendeu a sua condição de proletário. “Entendo que a minha escrita é uma grande vitória pessoal, bem como cada conquista pelos direitos dos trabalhadores e pelo combate ao racismo e ao fascismo”.

Muitas vezes na forma de soneto, os poemas apresentam, ora explícita, ora implicitamente, temas complexos, condensados em 14 versos que convidam o leitor a interpretá-los de acordo com a sua realidade e pensá-los com base na sua própria existência. Em ‘Zezé’, um personagem que representa pessoas em situação de sem-abrigo, e que ficaram “trancadas para o lado de fora”, enquanto outros protestavam por ficarem confinados dentro de casa.

Zezé

Sem ter portas para poder ir embora
(As marquises são seus telhados),
Estes senhores, que estão isolados, 
Trancaram Zezé do lado de fora.

No populacho o Capital se escora. 
Pela Corrente prava de Elos quadrados,
Eis os liberais, conservadores, depravados.
Ontem Elos, Elos escravos de agora.

A cor, a infinita dor do esquecimento,
Pela dor branca de um confinamento,
Até ontem, aos Elos, de escravo serviu.

Em seus castelos, reclusos choram:
A liberdade que hoje eles imploram 
É a liberdade que Zezé nunca sentiu.


O poema ‘Silenciosos e desa*mados’ tem a sua interpretação i(nte)rrompida por tiros disparados por quem até se pode julgar livremente: desamados, desalmados ou desarmados? Outros poemas como ‘Motim’, ‘Porque era Mari’ e ‘Flores de Abril’ falam de luta de classe, violência contra a mulher e Revolução dos Cravos, respectivamente. Neste último, os versos finais traduzem a importância de retirar estes poemas da clandestinidade e publicá-los num livro:

“(…)Pouco vale a primavera fulgente,
Se em teu jardim não rebentar a luta.”




LANÇAMENTO – LIVRO PERFIL CLANDESTINO, DE JORGE FILHO
Data: 4 de agosto, às 19h
Apresentação de Marcos Pamplona com mediação da jornalista Stefani Costa
Local: Samambaia – Bar d’A Voz do Operário
Morada: R. da Voz do Operário, 13, 1100-621, Lisboa
Entrada gratuita

Perfil Clandestino: Jorge Filho recorre à poesia como forma de resistência em seu primeiro livro

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas