Entrevista com Olga do Toy Dolls: “nossos fãs não são um produto instantâneo de IA”


The Toy Dolls está no Brasil com a turnê que celebra o aniversário de 40 anos da banda. Conhecida pelas composições bem-humoradas e sarcásticas, o grupo continua fiel ao que fazia quando surgiu em 1979: se divertir e divertir o público também.

Fundada em 1979 na cidade de Sunderland, norte da Inglaterra, The Toy Dolls já lançou 13 álbuns de estúdio, dezenas de ‘best of álbuns’, discos ao vivo e box sets. São 40 anos de constantes turnês, shows e festivais ao vivo em todo o mundo, tocando em casas lotadas, do Leste Europeu à América do Sul.

O trio se apresenta em Porto Alegre (13/09, Bar Opinião), Curitiba (15/09, CWB Hall), São Paulo (16/09, Carioca Club) e Rio de Janeiro (17/09, Agyto) com a presença de Tommy Goober (baixo), The Amazing Mr. Duncan (bateria) e Michael ‘Olga’ Algar (guitarra/vocal).

Ao vivo, os ingleses entregam um espetáculo punk de respeito, pois o concerto de palco é repleto de saltos e danças sincronizadas, coreografias, guitarras giratórias e melodias altamente viciantes.

Antes de iniciar a tour pelo Brasil, Olga bateu um papo com a Hedflow sobre a trajetória do grupo e a respeito das mudanças no cenário ao longos dessas quatro décadas de história.





Dani Melo | Hedflow: Li uma entrevista que você deu ao site Scream & Yell dizendo que o foco sempre foi se divertir e que depois de 40 anos de banda, o foco continua sendo o mesmo. O mundo dá muitos motivos para que as pessoas direcionem cada vez mais em produzir e a buscar uma perfeição que não existe. Você teria uma dica aos que trabalham com música e se esquecem de se divertir?

Olga | The Toy Dolls: Sim! Bem, você sabe, no final do dia tudo se resume a se divertir. É preciso gostar do que se está fazendo, especialmente nesse meio do punk. O pessoal nota quando você não está se divertindo pra valer no palco, isso dificilmente passa batido. Todos percebem imediatamente e é disso que se trata. Se não for para se divertir, melhor deixar pra lá.

Dani Melo | Hedflow: A cena punk mudou, como tudo muda, naturalmente. Quando você pensa na sua banda, além do tempo que passou, quais são as principais mudanças que você consegue observar na The Toy Dolls que iniciou na década de 70 e que está ativa hoje?

Olga | The Toy Dolls: Eu vejo algumas mudanças, para ser sincero. Ainda cantamos sobre as mesmas coisas. Talvez minha voz tenha melhorado um pouco e minha habilidade na guitarra também. Não tenho certeza. O que quero dizer é que continuamos fazendo a mesma coisa que fazíamos antes. Quando você tem uma voz como a minha, não dá para fazer outra coisa além desse estilo Toy Dolls… E isso não mudou muito, foi sempre assim. Não consigo apontar nada que tenha sofrido uma grande mudança, talvez as músicas estejam um pouco diferentes por eu ter me mudado do nordeste da Inglaterra para Londres agora, inspirado por outras coisas. Ou seja, foram algumas mudanças, mas não enormes transformações, acredito eu.

Dani Melo | Hedflow: Com o avanço da tecnologia, o algoritmo decidindo quem ouve o que, as big techs agindo por trás de tudo isso, você acredita que a música da The Toy Dolls teria atingido tanta gente se vocês tivessem se formado na era da inteligência artificial?

Olga | The Toy Dolls: Ah, boa pergunta! Eu, pessoalmente, ainda não uso essa coisa de IA para nada. Pode ser que eu tente em algum momento, não sei… Se for ver a nossa trajetória, simplesmente saímos e começamos a fazer turnês por toda a Alemanha, França e outros locais da Europa “para ninguém” e depois 10, 20 ou 30 pessoas… Isso foi se construindo. Foram anos para formar o público fiel que temos. Talvez teríamos alcançado muitas pessoas, mas não as mesmas pessoas, porque essas se tornaram fãs leais, não são apenas um produto instantâneo tipo essas coisas de IA, digamos assim. Então, eu diria que não. Penso que, provavelmente, nós chegamos a mais pessoas com a nossa música através da longevidade de turnês constantes e lançando discos, um atrás do outro.





Dani Melo | Hedflow: Você comentou que tinha quase 14 anos quando começou a aprender a tocar guitarra. Na sua essência, existe algo daquele menino que se mantém dentro de você até hoje? Se tiver, você acredita que isso é importante para continuar fazendo música?

Olga | The Toy Dolls: Penso que sim. Se eu deixo a guitarra de lado por duas semanas, o que é realmente raro, tenho prazer em pegá-la de novo e sentir as cordas nos dedos, sabe? Pessoalmente, a guitarra me dá uma sensação mágica. Não sou tão fã de cantar, vou ser honesto com você, mas tocar guitarra ainda me empolga muito, todos os dias. Então acredito ser importante continuar fazendo música com esse sentimento.

Dani Melo | Hedflow: Mesmo se mantendo distante de temas políticos e de ideologias, é de conhecimento que o punk surgiu como forma de protestar contra o autoritarismo, crítica ao consumismo, entre tantas outras pautas que defendem a liberdade do indivíduo na sociedade. O que vocês pensam de bandas que se apropriaram do movimento punk para defender justamente o contrário, por exemplo, bandas punk que são abertamente neonazis?

Olga | The Toy Dolls: Essa é a escolha deles. Nós somos apenas contra extremismos políticos. Nós tocamos sobre o que fazemos. Prefiro não tecer comentários sobre o que eles fazem, pois essa realmente não é a nossa parada.




Fotos em destaque por Daniel Claudin

Entrevista com Olga do Toy Dolls: “nossos fãs não são um produto instantâneo de IA”

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas