Rebaelliun, Exterminate e Burn The Mankind sobre os desafios em retornar aos palcos: “dão pouco crédito para bandas autorais”

Em entrevista feita à Indy Lopes do Coletivo Preto no Metal, os integrantes de três grandes bandas da cena gaúcha de death metal, Lohy Silveira (Rebaelliun), Marcelo Nekard (Exterminate) e Marcelo Feijó (Burn The Mankinda), falaram sobre os rumos do cenário musical e quais as expectativas para o próximo ano. A ‘imprevisibilidade’ dos eventos que vem acontecendo e a adversidade de se manter ocupando um espaço cada vez mais disputado, são alguns dos temas abordados durante a conversa.


Preto no Metal – Quais os desafios dessa retomada dos shows?

Lohy Silveira: Acho que são vários desafios, como reencontrar um mercado com uma inflação que prejudica toda a cadeia de produção de um show, até o poder aquisitivo do público. Produtores que, por conta dessa inflação, estão mais propensos a apostar no ‘certo’, deixando pouca margem para investir em bandas que estão começando ou que ainda são pouco conhecidas. Mas o principal é manter o interesse do público que parte se dispersou e se acostumou em ver shows somente por vídeos e a outra parte que está sedenta por eventos, mas que pode ser apenas um ‘fogo de palha’.

Marcelo Nekard: Acho que o maior desafio é retomar a rotina de ensaios e a velha forma, os sons do Burn The Mankind não são dos mais fáceis de se executar, então é bem desafiador se manter afiado, especialmente depois de um hiato de dois anos. 

Marcelo Feijó: São vários fatores, voltar aos ensaios para conseguir o ritmo que perdemos parados devido a COVID. Tentar ganhar espaço nos festivais, pois já tinham muitos eventos agendados que estão retornando agora. Tentar ganhar espaço em outros eventos. O Brasil tem muitas bandas fodas. Tem que estar sempre se puxando pra ser lembrado. 

Preto no Metal – Você acha que está havendo uma oferta muito grande de artistas contra uma baixa oferta de shows por parte dos produtores?

Lohy Silveira: Acredito que essa disparidade sempre existiu, mas se intensificou com a facilidade do acesso à tecnologia. E isso se reflete em vários campos, desde como estudar seu instrumento, passando por como montar um estúdio em casa com poucos recursos, indo até como promover sua banda nas redes sociais.

Marcelo Nekard: Não tenho uma noção tão acurada de como anda atualmente a organização de eventos, mas acredito que no meio que participamos sempre foi meio assim, um número enorme de bandas ótimas, casas de show escassas e especialmente as que abram as portas para o metal extremo. Isso obviamente acontece por conta da procura do público por esse tipo de show, no momento em que show de metal der dinheiro fácil para as casas e produtores isso iria se reverter rapidamente. Só não acho que algo assim vá acontecer por aqui.

Marcelo Feijó: O Brasil sempre foi um celeiro de bandas fodas. É difícil o produtor conseguir agradar a todos. Acho que a banda que está disposta a fazer acontecer tem que estar sempre lançando um trabalho novo, um merchandising novo, tem que estar sempre se divulgando. Assim, quem produz shows sempre pode estar de olho naquela banda que está sempre na mídia.




Preto no Metal – Por que está havendo desvalorização dos artistas para os shows?

Lohy Silveira: Por uma série de fatores…Um deles é o pouco investimento/respeito pela arte no nosso país que se intensificou de maneira obscena desde 2018. E é bem difícil lutar contra isso. Outro é o cenário econômico que influencia diretamente nesse quesito e em vários pontos. Podemos falar também do pouco crédito que se dá para bandas autorais, principalmente nas vertentes mais ‘leves’ do rock e da música pesada. Esses outros fatores levam a pouquíssima valorização dos artistas, principalmente na hora de fazer um show.

Marcelo Nekard: Acredito que também gira em torno da procura do público. Nesse caso acho que tem mais fatores que envolvem as próprias bandas em relação a se valorizar, mas não fazer isso além da realidade. Afinal, quem organiza show não faz caridade, faz isso por dinheiro, se uma banda não leva público, por mais boa vontade que um organizador tenha, ele não vai estar disposto a tomar prejuízo só por respeito. Isso acaba gerando um efeito cascata e generalização que no fim só é ruim pra quem é artista e leva o próprio trabalho a sério. No fim, sempre gira em torno da procura do público.

Marcelo Feijó: Quem faz shows sempre quer ganhar dinheiro, assim como as bandas. Essa desvalorização eu acredito que foi devido a COVID, pois tudo subiu de preço. As passagens aéreas são muito caras, gasolina, comida. Mas, tem que chegar em um fator que fique bom para ambos. As bandas têm que ganhar pelo seu trabalho. Todos têm que sair ganhando sempre.

Preto no Metal – Quais os planos para 2023?

Lohy Silveira: Tocar muito, rs. O máximo que for possível. Divulgar muito o novo disco que deve sair ainda esse ano, aqui e lá fora. Seguir produzindo conteúdo e material de relevância para a cena e para nós mesmos e continuar espalhando a palavra do metal da morte por onde pisarmos.

Marcelo Nekard: Paramos por todo esse tempo e todo mundo teve sua vida pessoal pra tocar também, então agora eu acho meio cedo ainda pra dizer o que acontece, mas a vontade é de fazer shows para divulgar tanto quanto possível o nosso EP que saiu no início da pandemia e já estamos falando em ideias para um novo álbum que siga a linha do Chaos Matter: conceitual, denso e mais sombrio.

Marcelo Feijó: O Exterminate vai começar a composição do novo álbum esse ano mesmo para lançar em 2023. Queremos muito lançar o álbum novo e já começar a fazer shows. Acredito que 2023 vai ser bem melhor para as bandas. Muitos eventos devem voltar com força total.

Rebaelliun, Exterminate e Burn The Mankind sobre os desafios em retornar aos palcos: “dão pouco crédito para bandas autorais”

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