L7 inicia nova turnê em SP e apresenta seus maiores sucessos em noite de casa cheia


Durante a última semana do mês de outubro, diversas cidades brasileiras serão presenteadas com shows de duas das bandas mais influentes do rock mundial: Black Flag e L7.

Formado no final da década de 1970, o primeiro nome é um dos pioneiros do movimento punk hardcore. A banda ganhou destaque por sua sonoridade agressiva e letras politicamente carregadas em álbuns icônicos como Damaged e My War. Embora não tenha conquistado grande sucesso comercial, o Black Flag deixou um legado duradouro na cultura underground, servindo de inspiração para inúmeros grupos até os dias atuais.

Já o L7 surgiu na década de 1980 e se destacou como um dos raros conjuntos no meio rock liderado por mulheres na cena alternativa da época. As meninas atingiram enorme popularidade na metade dos anos 1990, durante a explosão do grunge, desfrutando de ampla visibilidade em canais como a MTV e participando de numerosos festivais em todo o mundo, incluindo o lendário Hollywood Rock em 1993, que marcou a única visita do Nirvana ao Brasil

Apesar das diferenças marcantes, as bandas deixaram uma marca indelével na cena musical independente. Portanto, é uma verdadeira honra para o público brasileiro ter a oportunidade de testemunhar ambas celebrando suas carreiras. Após cinco anos desde sua última visita à cidade de São Paulo, o L7 deu início à sua aguardada turnê brasileira na última sexta-feira, dia 20, no palco do Carioca Club.

A noite teve início com a apresentação do Cólera, um dos pioneiros do punk nacional. Val Pinheiro (baixo), Pierre Pozzi (bateria), Fábio Belucci (guitarra) e Wendel Barros (vocal) deram início ao set com ‘Ogiva Nuclear’, faixa emblemática do álbum Ao Vivo no Lira Paulista, um dos primeiros registros oficiais da cena punk latinoamericana.




Em seguida, o público foi bombardeado com uma série de clássicos que moldaram o punk rock no Brasil, como ‘Funcionários’, ‘São Paulo’, ‘Palpebrite’, ‘Medo’ e ‘Somos Vivos’. O quarteto também incluiu ‘Minha Mente’, música que conta com a participação especial de Nasi, vocalista do Ira!, além de ‘Por que ela não?’ e ‘Humanidade’, canções que geralmente ficam fora do repertório da banda (com direito a Pierre solicitando desculpas em caso de “pequenos erros”).

Infelizmente, não houve espaço para músicas do álbum Acorde! Acorde! Acorde!, primeiro registro da banda após o falecimento do lendário vocalista Redson Pozzi, lançado em 2018. No entanto, a energia e o vigor de Val e Pierre, juntamente com a devoção do público, que entoou cada canção como verdadeiros hinos de guerra, solidificam o status lendário do Cólera.

Seguindo com a festa, veio outro nome simbólico da cena alternativa nacional: As Mercenárias, o primeiro conjunto punk brasileiro composto majoritariamente por mulheres. A banda apresentou uma formação única, destacando Bibiana Graeff e Mayla Goerish (Anvil FX) que forneceram um suporte sólido. A interação com o público foi limitada, mas as moças entregaram uma sequência de músicas marcantes, incluindo os clássicos ‘Há Dez Anos Passados’, ‘Polícia’ e ‘Labirintos’.

O show se destacou visualmente com projeções de arte psicodélica, mensagens de protesto e críticas ao capitalismo com cenas do desenho ‘Tio Patinhas’ sendo exibidas no telão de LED da casa. Durante o encerramento com ‘Santa Igreja’, a tecladista Silvia Tape desceu para o meio da plateia, gerando uma cena marcante de interação. A performace serviu perfeitamente para aquecer o evento, ressaltando a proposta única e a importância simbólica com a atração principal da noite.




Já com a casa completamente lotada e com 25 minutos de atraso em relação ao horário oficial, Suzi Gardner (guitarra e voz), Jennifer Finch (baixo), Donita Sparks (guitarra e voz) e Dee Plakas (bateria) surgiram no palco, mas começaram a apresentação de forma inusitada, enfrentando problemas técnicos. Jennifer tentou reverter a situação com humor, comentando que “a única coisa que nunca será um problema são os fãs incríveis de São Paulo”.

Após a resolução das falhas técnicas, as garotas iniciaram o set com ‘Deathwish’ do álbum Smell The Magic, seguida por ‘Andres’ e ‘Everglade’, uma música que se tornou um clássico da MTV nos anos noventa e que certamente apresentou a prática do “stage dive” para centenas de pessoas ao redor do mundo. Neste momento, os fãs não conseguiram conter a empolgação e começaram a arriscar os primeiros saltos do palco da noite.

O frenesi seguiu em ‘Scrap’ e ‘Shove’, diminuindo apenas com ‘Stadium West’, quando Jennifer dançou com um fã que invadiu seu espaço. A passagem de contrabaixo marcante em ‘Mr. Integrity’ foi lamentavelmente prejudicada por problemas técnicos, levando a algumas reclamações da plateia. No entanto, a energia dos fãs ressurgiu com o riff irresistível de ‘Slide’, desencadeando um enorme mosh pit na pista.

Revisitando os clássicos de sua carreira, as “ladies” também mandaram ‘Human’, ‘Bad Thing’ e ‘Monster’, que foram recebidas com entusiasmo total, mantendo a roda punk na pista ativa e um contínuo desfile de stage dives. O repertório também contou com ‘Fighting The Crave’, uma música do novo álbum Scatter The Rats que traz fortes influências do Fugazi, além de ‘Wargasm’, ausência notável no setlist da apresentação de 2018.

No entanto, o pandemônio atingiu seu ápice com ‘Pretend We’re Dead’, uma das canções mais memoráveis do rock dos anos noventa, com o público do Carioca Club entoando o refrão em uníssono. Após a execução do megahit, Donita e companhia ainda destacaram ‘Shit List’, ‘American Society’ e ‘Fast and Frightening’, encerrando a noite com estilo.

Infelizmente, o show foi afetado por uma série de falhas técnicas. O som permaneceu baixo durante grande parte da apresentação, com as guitarras de Suzi e o contrabaixo de Jennifer, em alguns momentos, quase inaudíveis. No entanto, o público demonstrou uma incrível dedicação, superando as adversidades com empolgação. Foi uma noite inesquecível, destacando a importância duradoura da L7 para a cena musical.




Setilist 

Deathwish
Andres
Everglade
Scrap
Shove
Stadium West
One More Thing
Mr. Integrity
Slide
Can I Run
Human
Bad Things
Monster
Fuel My Fire
Fighting the Crave
Drama
Patricia
Wargasm
Dispatch From Mar-a-Lago
Pretend We’re Dead
Shit List
American Society (Eddie and the Subtitles cover)
Fast and Frightening

Fotos por Jéssica Marinho

L7 inicia nova turnê em SP e apresenta seus maiores sucessos em noite de casa cheia

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.