Slayer cumpre protocolo thrash e se despede de SP

Tom Araya ensaiou um “saudade” no microfone encarando sozinho a multidão da beira do palco de um Espaço das Américas abarrotado. Traído pelo sotaque, poucos entenderam quando ele disse: “I miss you”. Catarse concluída com sucesso. Era o fim de uma era.

Por Isis Mastromano Correia

Na última quarta-feira (2), o Slayer se apresentou em São Paulo pela última vez, cumprindo anúncio prévio de sua aposentadoria da indústria do thrash metal que ajudou a funda, feito há mais de um ano. Seguiram para o Rock in Rio e por lá finalizaram relações com os palcos do Brasil. 

Para o festival da ‘cidade maravilhosa’, rumou também o Claustrofobia, que ‘ciceroneou’ a noite do Slayer abrindo o show, amaciado a alma dos fãs e inaugurando sua nova turnê, ‘Cachorro Loko‘. Marcus D’Angelo (vocal e guitarra), Caio D’Angelo (bateria) e Rafael Yamada (baixo) entregaram os grandes hits da banda como ‘Peste e Metal Maloka’ (setlist completo no rodapé) com energia, peso e vibração.

Marcus D’Angelo do Claustrofobia – Foto: Stephan Solon


Por quase 2 horas, o show correto da ‘Final World Tour‘ de Araya (vocal e baixo), Kerry King (guitarra), Gary Holt (guitarra) e Paul Bostaph (bateria) caminhou dentro do esperado com desfile das principais canções da carreira, completados por momentos catárticos causados por ‘Raining Blood’, ‘War Ensemble’, ‘South of Heaven’ e ‘Seasons in the Abbys’ (setlist completo no rodapé).

Kerry King – Foto: Stephan Solon


O comunicado da produtora do evento de que mochilas e moshs estavam proibidos funcionou, mas só para as bolsas. Essas ficaram aos montes para trás, porém, ninguém se inibiu de entrar nas rodas que se formaram a todo o tempo como manda o figurino de um verdadeiro show de metal pesado. 

No palco, Gary Holt endiabrado esconde muito bem a figura que ostenta na internet de esposo, avô e grande fã de gatinhos. Já Kerry King prefere manter a pose malvada quase que sempre. Paul leva todos a loucura com sua performance veloz e furiosa. Araya ganha simpatia, provavelmente, apenas com a sua presença.

Gary Holt – Foto: Stephan Solon


E esse foi o quarteto que sem delongas entregou um espetáculo bem roteirizado, bom, pesado, sem papo com a plateia ou espaço para saudosismo. Apenas o tão aguardado massacre sonoro, costumeiro e sem piedade, que rendeu um bocado de suor espalhado pelo chão dos 8.200 fãs presentes que esgotaram os ingressos e fizeram filas que tomaram os quarteirões.

A apresentação terminou com ‘Angel of Death’, sem bis, sem choradeira, sem um discurso de adeus. Cada um deixou seu instrumento de lado, saudou a plateia, fez as honras da casa com a tradicional distribuição de baquetas e palhetas e o silêncio fez barulho: demorou para os fãs entenderem que sim, o show havia terminado.

Tom Araya – Foto: Stephan Solon



Araya permaneceu sozinho no palco por pelo menos 10 minutos. Meio incrédulo, com olhar fixado, e, ao mesmo tempo, perdido na imensidão do público, essa foi a forma que o vocalista encontrou para agradecer, com a permissão de cada um que esteve ali para aplaudi-los pela última vez. Tom Araya sabe que foram essas pessoas que o ajudaram a construir a sua vida ao longo das últimas 3 décadas e meia.

Público do Slayer em São Paulo – Foto: Stephan Solon


Setlist Slayer

Repentless
Evil has no Boundaries
World Painted Blood
Postmortem
Hate Worldwide
War Ensemble
Gemini
Disciple
Mandatory Suicide
Chemical Warfare
Payback
Temptation
Born of Fire
Seasons in the Abyss
Hell Awaits
South of Heaven
Raining Blood
Black Magic
Dead Skin Mask
Angel of Death

Setlist Claustrofobia

Swamp Loko
Bastardos do Brasil
Thrasher
Vira Lata
Pinu da Granada
Metal Maloka
Peste

Fotos por Stephan Solon/Move Concerts

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