As perguntas que Henrique Fogaça nunca respondeu

Há duas semanas o chef de cozinha (jurado no programa Masterchef Brasil) e vocalista da banda Oitão, publicou um vídeo em seu Instagram indagando sobre as origens da Covid-19 no mundo. Ao levantar a teoria da conspiração de que o novo coronavírus era uma mera peça em um plano de dominação global, Henrique Fogaça utilizou-se da economia como justificativa e sugeriu que a pandemia poderia ser “proposital”.

“Quando começou [a doença], o que vocês acham? Que foi acidental? Que eles foram perceber depois de um tempo só que havia um milhão de pessoas rodando o mundo, e a doença já se instalando e rondando. Ou você acha que foi proposital? Para simplesmente dominar o mercado econômico do mundo, começando pelo Estados Unidos e automaticamente refletindo para todo o mundo.”



Por Fogaça ser uma figura de grande repercussão na mídia brasileira, devido ao programa na TV aberta que o lançou como celebridade, o revés veio à altura. Bastaram alguns comentários contrários à opinião do chef para que ele logo agisse de maneira descomedida, respondendo aos seus próprios seguidores com palavras e insultos de baixo calão, tornando evidente, inclusive, um machismo exacerbado em muitas de suas colocações.




Como se pode ler acima, Fogaça ofendeu os internautas de uma maneira da qual a sua própria colega de trabalho, Paola Carosella, tem sido vítima. Há aqui também uma contradição enorme relativa à linha de conduta que o próprio movimento que inspirou o estilo musical de sua banda (Oitão) condena, já que o hardcore, que teve a sua origem do punk, abomina todo tipo de segregação, sexismo e exaltação do capital.


Além de toda a situação que o vocalista e chef protagonizou, com ofensas destinadas às pessoas que tinham uma opinião diferente (ainda mais neste momento delicado, onde milhares têm perdido suas vidas), evidenciou-se um ódio generalizado que não serve em nada para um debate apurado e construtivo, o que se espera de uma pessoa com tanto alcance público.


Logo na sequência desse episódio, Fogaça também intitulou-se como ANCAP (anarcocapitalista) em sua bio do Instagram. Algo que cabe salientar aqui como sendo uma posição absolutamente contraditória, sabendo-se que o Estado estrutura-se a partir da sociedade de classe. Sem que existam sanções econômicas, bloqueios, perdões de dívidas e outras ações promovidas por orgãos estatais, é impossível que o capitalismo exista.




Alguém que prega qualquer coisa oposta a isso, utilizando-se do termo ‘capitalista’, está cometendo um grande equívoco, tornando-se ainda mais absurdo quando associado ao anarquismo.


Abaixo, é possível aprofundar-se um pouco mais no tema e compreender as razões por trás do erro que é associar o anarquismo ao capitalismo, tentando assim passar a ideia de que é palpável criar um novo sistema com essa ‘teoria’. O vídeo a seguir mostra a drag, Rita Von Hunty, que também é marxista e professora de Literatura, explanando sobre o tema durante uma entrevista ao canal Meteoro Brasil.





Em março do ano passado, nós da Hedflow fomos contactados pela assessoria de imprensa da banda de Henrique Fogaça para uma entrevista com ele, no período em que o grupo lançava o single ‘Instinto Sujo’, música dedicada a “toda classe política”. Enviamos as perguntas como nos foi solicitado, abordando esse tema logo na primeira questão, como pode ser conferido no e-mail enviado ao vocalista:



Com as perguntas, pretendíamos que ficassem evidentes os posicionamentos e os objetivos de Fogaça, tanto como músico da cena underground quanto de um chef de cozinha renomado, até mesmo por sabermos que a sua influência pode fazer muita diferença, principalmente aos brasileiros e brasileiras mais jovens que o seguem e se inspiram em seu trabalho. No entanto, jamais obtivemos as respostas.

As perguntas que Henrique Fogaça nunca respondeu

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