Nazi no Knotfest?! Pantera confirmado no festival do Slipknot

Os membros sobreviventes do Pantera, Phil Anselmo e Rex Brown, conseguiram esquematizar uma ‘reunião’ do grupo e as primeiras datas já mostram shows marcados para México, Colômbia, Chile e Brasil; conforme se pode constatar no site oficial da banda: pantera.com

Eles assinaram com a agência Artist Group International e estão sendo atendidos pelos agentes Dennis Arfa e Peter Pappalardo. Este último disse à Billboard: “Estamos entusiasmados por trabalhar com uma banda tão icônica e trazer sua música de volta aos fãs!”

Formado em 1981, o Pantera passou por várias mudanças antes de se estabelecer com a sua formação clássica em 1987, que contou com Anselmo, Brown e os já falecidos ‘Dimebag’ Darell (guitarrista) e seu irmão Vinnie Paul (baterista).

Originária de Arlington, Texas, a banda começou como um grupo de glam metal. Foi somente em seu quinto álbum, Cowboys from Hell (1990), que o Pantera alcançou novos patamares tanto em musicalidade quanto em popularidade. Mas, foram mesmo os álbuns Vulgar Display of Power (1992) e Far Beyond Driven (1994) que os tornaram conhecidos mundo afora.

No entanto, brigas internas fizeram com que eles se separassem em 2003. O último lançamento de estúdio foi o Reinventing the Steel (2000). Depois do Pantera, Darrell e Vinnie formaram a banda Damageplan, enquanto Phil Anselmo tocou à frente projetos que ele já tinha desde o começo dos anos 90, como o Down e o Superjoint Ritual. O baixista Rex também se apresentou no Down por um tempo.

Na verdade, a sensação também é de que esse retorno não é realmente do Pantera, tendo em vista que já morreram os seus dois integrantes mais importantes no desenvolvimento da característica sonora base da banda, precursora do que hoje conhecemos como ‘groove metal’. O timbre da guitarra de Dimebag com seus chugs (repletos de uma tonalidade mais grave) intercalados por squeals, além da pegada e a afinação da caixa da bateria do Vinnie (com suas viradas distintivas), inspiraram toda uma geração de músicos na cena do metal.

O fato é que desde os anos 90, em diversas ocasiões, o Pantera já vinha manifestando o seu ‘orgulho de ser branco’ em apresentações ao vivo por meio de seu frontman Phil, como se pode ver na compilação de vídeos abaixo:


Portanto, há muitos motivos para não se emocionar com a decisão de Anselmo e Brown se reunirem nesse retorno, como, por exemplo, os comentários sobre raça que não devem ser ignorados.

Em primeiro lugar, temos que voltar nossa atenção para o notório show do Pantera na cidade de Montreal, em 1995. Nele, Phil Anselmo afirmou que “o Pantera não é uma banda racista” e que eles tinham amigos “de todas as cores e de todos os tipos”. Só que Anselmo ressalvou isso complementando que tinha um problema com os rappers negros, que estavam “irritando todos da cultura branca”.

Phil continuou afrontando a comunidade negra (que pedia pelo fim de sua perseguição violenta desde aquela altura com a desculpa de ‘combate ao crime’), alegando então que isso era o mesmo que dizer “tudo bem matar pessoas brancas”. Ele afirmou ainda que os brancos precisavam ter mais orgulho de quem são. “Esta noite”, concluiu ele, “é uma coisa branca!”

Isso não ficou só na década de 90. A seguir, está Phil Anselmo mais uma vez a exaltar o ‘poder branco’ já na fase final do Pantera, em 2001:



Aí vem a pergunta que não quer calar: então o Pantera é mesmo uma banda racista?

Para ajudar no intuito de esclarecer isso, vale ressaltar que Dimebag Darrell ostentava a bandeira dos confederados em uma de suas guitarras, fora ela estar também presente em capa de disco e camisetas oficiais do grupo. Esse símbolo, utilizado pelos sulistas dos EUA durante a Guerra Civil, representava aqueles que lutavam de maneira ferrenha pela manutenção da escravidão e contra a abolição.



Fãs continuaram ao longo dos anos a ignorarem sinais alarmantes de racismo no Pantera. Até que em 2016, após um evento em homenagem ao falecido Dimebag Darrel, imagens do vocalista da banda surgiram no YouTube. O vídeo mostra Phil Anselmo após sua apresentação fazendo uma saudação nazista e gritando “poder branco” para a plateia:




Talvez a crítica mais pungente tenha vindo de Robb Flynn, líder do Machine Head. Ele postou um vídeo de 11 minutos em seu canal do YouTube, intitulado ‘Racismo no Metal’, onde fez algumas afirmações muito contundentes sobre o comportamento de Anselmo nos bastidores do Dimebash 2016, além de ter dito também que o Phil Anselmo não gosta da fase ‘nigger’ do Machine Head, referindo-se a quando lançaram o álbum The Burning Red (1999) com fortes influências de rap. ‘Nigger’ é um termo absolutamente preconceituoso usado para ofender pessoas negras nos Estados Unidos.


Versão legendada em Português



A discussão não se trata mais sobre Phil Anselmo ser ou não um ‘metaleiro’ nazista, mas sim de que esses tipos de discursos e simbologias (difundidos por ele e pelo Pantera ao longo de todos esses anos), matam.

Em 2020, ano mais recente em que o FBI reuniu e divulgou dados oficiais de crimes de ódio de cunho racista em todo o país, 2.871 estadunidenses negros foram vítimas. O número representa quase 35% de todos os crimes de ódio relatados nos EUA ao orgão naquele ano, como mostra matéria da Time.

No Brasil, em 2019, 78% dos assassinatos com armas de fogo foram contra pessoas negras. Esse levantamento foi realizado com base em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), segundo o próprio Ministério da Saúde.

O Atlas da Violência mostra ainda que assassinatos de negros cresceram 11,5% só na última década em nosso país.

E aí que entra a ‘bola fora’ do Knotfest, já pedindo desculpa pelo eufemismo em citar isso meramente como uma ‘bola fora’ do festival do Slipknot. Apesar de terem negado o palco principal ao Pantera, acabaram mesmo assim aceitando a participação do grupo no palco secundário do evento. O show está confirmado para acontecer no dia 18 de dezembro no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.

O Knotfest já tinha cometido aquele absurdo de colocar a banda Armored Down, de Eduardo Parrilla (dono da Prevent Senior) no cartaz da edição do fest no ano passado. O plano de saúde foi acusado na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid de ocultar mortes de pacientes e usá-los como cobaias durante os estudos sobre o suposto combate do coronavírus com hidroxicloroquina (medicamento comprovadamente ineficaz para o tratamento contra o vírus, como já constava em relatório da Organização Mundial de Saúde).

Com toda a repercussão negativa, eles removeram o Armored Down do festival soltando uma breve nota. Aqui pode-se ler mais sobre quando denunciamos a banda e seus elementos simpatizantes ao nazismo.

E para os que vêm com essa de “separar a obra do artista”, vão ficar contemplando também as pinturas e os escritos de Hitler?!

Aqui vai o trecho de uma letra do Pantera para os fãs ‘curtirem’ então:

A backwards swastika, the black skin riddled in lead
A nazi gangster jew, it beats a dog that’s dead


Uma suástica invertida, a pele negra crivada de chumbo
Um judeu gângster nazi, bate
num cachorro morto


A faixa é ’13 Steps To Nowhere’, do álbum The Great Southern Trendkill (1996).

Interpretação? Contexto? Talvez voltar ao início deste texto e ler tudo novamente, ajude.

Enfim, é como o Jimmy London (que também vai tocar no Knotfest com o seu grupo Jimmy London & Rats), escreveu em sua conta oficial no Twitter:


O Nazi-fascismo não deve ser apenas boicotado, deve ser combatido! #fcknzs

Nazi no Knotfest?! Pantera confirmado no festival do Slipknot

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